Presidente de Honduras denuncia 'golpe de Estado' após fim de tratado com EUA

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, denunciou na terça-feira (3) um "golpe de Estado" em andamento, em meio a uma polêmica sobre sua decisão de cancelar o tratado de extradição com os Estados Unidos, que permitiu a prisão de poderosos narcotraficantes.

"Ratifico que a paz e a segurança interna da República estão em risco [...] por um novo golpe de Estado que o povo deve deter", disse Xiomara em rede nacional de rádio e televisão, poucas horas depois da publicação de um vídeo em que seu cunhado aparece em uma reunião com narcotraficantes em 2013, pedindo contribuições para a campanha eleitoral da mandatária esquerdista naquele ano.

Xiomara encerrou o tratado com os Estados Unidos há seis dias, argumentando que buscava evitar que Washington o utilizasse contra militares que lhe são leais e facilitasse uma tentativa de golpe de Estado.

No entanto, a oposição afirmou que Castro cancelou o tratado, que permitiu a prisão de cerca de cinquenta narcotraficantes hondurenhos, incluindo um ex-presidente de direita, para proteger membros de seu governo e de sua família.

No sábado, renunciaram um cunhado e um sobrinho da presidente: o secretário do Congresso, deputado Carlos Zelaya, após admitir perante o Ministério Público que se reuniu com narcotraficantes em 2013, e seu filho, o ministro da Defesa, José Manuel Zelaya.

Nesta terça-feira, um portal especializado publicou um vídeo dessa reunião.

"Um vídeo exclusivo da InSight Crime mostra narcotraficantes hondurenhos oferecendo subornos a um membro da família presidencial. Isso evidencia a gravidade da corrupção do tráfico de drogas no país", destacou o portal na rede social X.

"Em relação ao vídeo (...) condeno qualquer tipo de negociação entre narcotraficantes e políticos", afirmou a presidente em sua mensagem ao país na terça-feira.

"O plano para destruir meu governo socialista, democrático, e o próximo processo eleitoral estão em andamento", acrescentou.

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Depois, ela cedeu a palavra o seu ministro da Segurança, Gustavo Sánchez, que leu uma lista de processos judiciais por narcotráfico que envolvem políticos de direita.

"Atingiram o nível máximo de cinismo (no governo), se afastando da realidade dos fatos e construindo uma verdade daquilo que eles acreditam, que está distante das evidências que poderiam ser encontradas nos Estados Unidos", declarou à AFP a analista Ana Pineda, que foi ministra dos Direitos Humanos no governo de direita de Porfirio Lobo (2010-2014).

O líder da bancada do Partido Nacional (PN, direita), Tomás Zambrano, escreveu na rede social X que pensava que Xiomara Castro "iria retificar isso pelo bem de Honduras" e anunciaria em sua mensagem ao país que "as extradições continuam, mas nós erramos".

O PN é um dos partidos tradicionais de Honduras, cujo ex-líder, o ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), foi um dos hondurenhos extraditados desde 2014 para os Estados Unidos, onde foi condenado em junho a 45 anos de prisão por tráfico de drogas e armas.

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© Agence France-Presse

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