Jamil Chade

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Reportagem

Cúpula da ONU com Lula é esvaziada por líderes de potências

Era para ser o resgate da ONU e do sistema multilateral. Mas a Cúpula do Futuro, organizada para ocorrer a partir do dia 22 de setembro em Nova York, não contará com os líderes de nenhuma das potências e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Em seu primeiro dia de reuniões, o principal nome é o de Luiz Inácio Lula da Silva. Além dele, o programa oficial apenas apresenta os chefes de Estado e de governo de países de menor influência, entre eles Malawi, Libéria, Estônia ou Cabo Verde. A lista ainda conta com África do Sul e Suíça.

Guy Ryder, mediador da ONU para o evento, destacou que a cúpula está levando para Nova York 130 chefes de governo e de Estado. Outras 7.000 ONGs e entidades também estarão na cidade.

Mas, segundo diplomatas, tudo isso tem uma importância relativa diante da ausência dos presidentes das cinco potências nucleares do mundo e membros permanentes no Conselho de Segurança.

A China, por exemplo, irá apenas com um vice-ministro, enquanto Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e França designaram seus chanceleres para falar.

Mediadores estrangeiros que fizeram parte das negociações do acordo admitiram ainda que houve uma revisão das ambições, diante do profundo racha que existe na comunidade internacional.

O texto, originalmente com o objetivo de recuperar a importância da ONU e dar respostas para os desafios do século 21, foi transformado em uma lista de aspirações, com pouco impacto. Ainda assim, o impasse continua em alguns dos aspectos relacionados à segurança e outros temas.

Para muitos, o acordo, com o ambicioso nome de Pacto do Futuro, não passa de um compromisso dos governos a compromissos já feitos no passado. E que nunca foram cumpridos.

Ryder rejeita essa caracterização e insiste que o acordo a ser aprovado é "inédito". Um dos pontos de destaque, segundo ele, é o compromisso por uma reforma do Conselho de Segurança. "Trata-se do maior passo dado no processo desde os anos 60", disse.

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O texto, se aprovado, apenas aponta a necessidade de que novos membros de regiões como África e América Latina sejam incluídos, sem uma definição sobre como isso ocorreria.

Outro ponto considerado como fundamental é o reconhecimento do envolvimento da ONU no debate sobre a regulação da Inteligência Artificial.

Nesta semana, num esforço de convocação, a ONU realizou uma reunião na qual governos e presidentes enviaram vídeos fazendo um chamado para que líderes se façam presentes. Lula foi um deles, pedindo que houvesse um comparecimento importante no evento.

Secretário-geral da ONU apela por ambição

António Guterres, secretário-geral da ONU e líder da iniciativa, foi outro que usou o evento para pedir o engajamento dos governo. "Precisamos de ambição máxima durante esses últimos dias de negociação", defendeu.

"Conflitos ferozes estão infligindo um sofrimento terrível. Divisões geopolíticas profundas estão criando tensões perigosas, multiplicadas por ameaças nucleares. A desigualdade e a injustiça corroem a confiança e alimentam o populismo e o extremismo", alertou. "E não temos uma resposta global eficaz para ameaças novas e até mesmo existenciais", constatou.

Para ele, a Cúpula do Futuro é "uma etapa importante na jornada para construir um multilateralismo mais forte e mais eficaz". "Uma oportunidade para atualizar e reformar as instituições globais, incluindo o Conselho de Segurança e a arquitetura financeira internacional, para refletir e responder às realidades políticas e econômicas de hoje e de amanhã", insistiu.

"A Cúpula do Futuro é uma oportunidade para acordos de longo alcance sobre a colaboração internacional para um mundo mais seguro, mais sustentável e mais equitativo. Vamos aproveitá-la. Peço aos Estados-Membros que ajam rapidamente, com visão, coragem, solidariedade e espírito de compromisso, para que as três minutas de acordo sejam concluídas", apelou.

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