Por anistia, Congresso dá as costas ao Brasil, pegando fogo
Esta semana, o Congresso deu mais uma demonstração de que legisla em causa própria, de costas para o Brasil, que vive a mais grave crise climática da sua história.
Os nobres deputados até deram o ar da graça em Brasília para mais um "esforço concentrado", ou seja, alguns dias por mês que dedicam ao trabalho, em meio à campanha eleitoral.
Mas não foi para discutir os prementes problemas que afligem os brasileiros, sufocados pelo calor, a seca e o fogo que atingem o país há várias semanas.
Eles estão mais preocupados em aprovar a toque de caixa o indecente projeto que dá anistia ampla geral e irrestrita aos golpistas de 8 de janeiro, antes mesmo do encerramento dos processos.
Um único deputado tentou colocar em discussão outro projeto, que prevê punições mais severas para quem está tocando fogo no país, já aprovado no Senado. Foi Patrus Ananias (PT-MG), discreto e dedicado parlamentar que já foi prefeito de Belo Horizonte, capital que está há quase seis meses sem ver uma gota de chuva.
Como se fosse um ser extraterrestre, Patrus foi solenemente ignorado por seus pares. Pensando bem, até foi melhor para o país, porque os muitos projetos apresentados pela bancada ruralista, que aguardam na fila, vão todos na direção contrária à defesa do meio ambiente.
Querem flexibilizar ainda mais as leis de proteção de terras indígenas e áreas preservadas da Amazônia, para queimar a floresta e avançar com a boiada, liberar geral para os garimpos de ouro e a pesca predatória, abrindo a porteira para o contrabando e o crime organizado.
Enquanto isso, piromaníacos criminosos vão botando fogo em todas as regiões do país, que enfrenta a maior onda de seca e calor deste século, tornando o ar das cidades irrespirável, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, passando pelo Pantanal e as áreas de Cerrado.
O governo federal demorou para se dar conta da gravidade da situação e da falta de planos e meios para combater os incêndios. Foi preciso que um ministro do STF, Flávio Dino, desse uma ordem com prazo definido para o envio de mais bombeiros às áreas atingidas, para que o presidente Lula e seus ministros fossem ver de perto a tragédia vivida pela população e anunciar medidas não só de combate ao fogo, mas de planos concretos e abrangentes para salvar o que restou das nossas florestas.
O Congresso Nacional não fez nem isso. Nenhuma comissão especial de emergência foi formada para tratar do assunto. A essa altura, também já deveriam ter sido convocados amplos contingentes das Forças Armadas para atender aos flagelados nas áreas onde faltam água, comida, médicos e remédios, auxiliando no trabalho dos bombeiros e brigadistas, que não dão conta de tantos incêndios simultâneos.
As imagens das queimadas estão correndo o mundo, assustado com o que se passa no Brasil, totalmente impotente diante da tragédia, pois a destruição da Amazônia é uma ameaça planetária. Por aqui, os parlamentares estão mais preocupados em anistiar os vândalos bolsonaristas do golpe fracassado de 8/1, a começar pelo seu chefe inelegível, que continua leve e solto em campanha eleitoral.
Só nos resta fazer o que já é rotina na vida dos nordestinos há séculos: rezar para que venham logo as chuvas de setembro.
Vida que segue.
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