Bolívia e Indonésia lideram o desmatamento global, segundo relatório

A Bolívia, com os seus incentivos à agricultura, e a Indonésia, onde a mineração de níquel está no auge, são os dois países com as piores taxas de desmatamento, segundo um relatório publicado nesta terça-feira (8). 

O Brasil teve progressos, mas a situação na região do Cerrado continua preocupante, segundo este relatório que compila estudos de referência de trinta organizações ambientais e organizações de referência. 

O Brasil, que continua sendo o país com mais desmatamento, fez progressos significativos. A situação melhorou notavelmente na Amazônia, graças às medidas de proteção implementadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas deteriorou-se no Cerrado, epicentro da agricultura nacional.

O objetivo para o Brasil era permanecer no limite de 1,5 milhão de hectares desmatados em 2023, volume que ultrapassou (1,94 milhão).

Mas a floresta brasileira sofreu uma média de 2,14 milhões de hectares de desmatamento entre 2018 e 2020, o que significa que a situação permanece estável. 

Dos dez países em situação de emergência, apenas o Paraguai cumpriu os seus objetivos de deter o desmatamento em 2023. 

A Colômbia também reduziu a perda de floresta primária em 57%.

No total, em 2023, o mundo perdeu 6,37 milhões de hectares de floresta, o equivalente a 9,1 milhões de campos de futebol, segundo o relatório "Forest declaration assessment".

O compromisso assinado por mais de 140 países na conferência sobre mudança climática de Glasgow, há três anos (COP26), era reduzir gradualmente o desmatamento até ser erradicado em 2030. 

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Mas esse número de 6,37 milhões de hectares "supera significativamente" os 4,4 milhões que os especialistas estabeleceram como limite ideal para 2023.

As florestas, que abrigam 80% das espécies terrestres de animais e plantas, são cruciais para regular os ciclos da água ou reter CO2, o principal gás de efeito estufa responsável pelo aquecimento global. 

"Globalmente, o desmatamento piorou, em vez de melhorar, desde o início da década", disse Ivan Palmegiani, especialista da Climate Focus e um dos principais autores do estudo. 

"Estamos a apenas seis anos de uma data global crítica para acabar com o desmatamento e, no entanto, as florestas continuam sendo derrubadas, degradadas e queimadas a um ritmo alarmante", alerta. 

Em particular, 3,7 milhões de hectares de floresta tropical primária, essencial pela sua capacidade de absorção de CO2 e pela riqueza da sua biodiversidade, desapareceram no ano passado, a um nível próximo do início da década. 

Este valor já deveria ter diminuído significativamente para cumprir os objetivos previstos para 2030.

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- Soja e níquel-

O desmatamento na Bolívia aumentou 351% entre 2015 e 2023, uma tendência "alarmante" que "não mostra sinais de atenuação". 

"A Bolívia enfrenta uma crise econômica e poderá em breve ser forçada a uma desvalorização abrupta da sua moeda devido à diminuição das reservas. Em resposta, o governo boliviano implementou reformas regulamentares para fortalecer o setor agroindustrial, do qual depende cada vez mais a economia do país", alertam os autores do estudo. 

Soja, cana-de-açúcar e pecuária são os principais setores beneficiados. 

Na Indonésia, a destruição florestal atingiu um ponto baixo entre 2020 e 2022, mas a tendência voltou a aumentar acentuadamente no ano passado, especialmente para produzir materiais apresentados como "ecológicos", como a viscose, ou para abrir caminho às minas de níquel, usadas para as baterias de veículos elétricos e as energias renováveis em todo o mundo.

Soma-se a isso a produção de biomassa e a criação de grandes fazendas agrícolas. 

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A Indonésia foi responsável por 65% do desmatamento em toda a Ásia em 2023. 

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© Agence France-Presse

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