Agricultores franceses protestam contra acordo com Mercosul
Agricultores franceses iniciaram nesta segunda-feira (18) um novo protesto contra um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que veem como uma ameaça ao seu futuro.
A França lidera a resistência à assinatura do acordo, que criaria a maior zona de livre-comércio do mundo. Durante a reunião do G20 no Rio de Janeiro, o presidente Emmanuel Macron afirmou que a França "não está isolada" em sua oposição ao tratado comercial.
"Por ter sido negociado há muitas décadas, o texto se baseia em condições prévias que estão desatualizadas", disse o chefe de Estado francês, que lançou a ideia de "repensar a relação com essa sub-região".
Na véspera, Macron defendeu a oposição do seu país ao acordo, durante visita a Buenos Aires. "Não será às custas de nossos agricultores", assegurou.
A Itália juntou-se à rejeição nesta segunda-feira, quando o ministro da Agricultura, Francesco Lollobrigida, denunciou um acordo que "em sua forma atual, não é aceitável".
"As crises geopolíticas já enfraqueceram drasticamente nosso setor primário, que dificilmente poderia resistir ao impacto das importações com custos e preços de produção mais baixos", disse o político de extrema direita.
Já o ministro italiano das Relações Exteriores, Antonio Tajani, mostrou-se mais aberto. "A princípio, somos favoráveis a um acordo com o Mercosul", disse Tajani em Bruxelas. "Mas há pontos que precisam ser resolvidos, pois não são totalmente satisfatórios para a Itália", ponderou.
Assim como fizeram em janeiro, durante protestos de magnitude sem precedentes, os trabalhadores agrícolas usaram os seus tratores para bloquear estradas em toda a França nesta segunda-feira.
Também plantaram grandes cruzes de madeira como símbolo da sua morte, e instaram Macron e o governo a fazerem mais.
Os protestos foram em grande parte simbólicos, mas os manifestantes dizem que estão prontos para aumentar a pressão.
"Chega de promessas, comece pelos fatos", dizia uma placa exposta em uma rodovia no sudeste do país. "Macron, a nossa agricultura está morrendo e você olha para o outro lado", dizia outra.
No total, "há 85 pontos de manifestação", declarou Pierrick Horel, presidente da Jovens Agricultores (JA).
Menos de um ano após o seu grande movimento de indignação, os agricultores e pecuaristas franceses continuam denunciando rendas insuficientes para sobreviver.
- 'Revolução agrícola' -
Apesar da oposição da classe política francesa e dos setores agrícolas, a UE parece determinada a assinar o acordo até o final do ano, o que permitiria aos países sul-americanos envolvidos aumentar suas cotas de entrada no bloco de carne bovina, de frango e suína.
Vários governos europeus, como os da Espanha e Alemanha, são favoráveis ao acordo, que abriria as portas para maiores exportações de carros, máquinas e produtos farmacêuticos da UE.
O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, pediu na cúpula do G20 que o acordo com o Mercosul seja concluído "de uma vez".
"Depois de mais de vinte anos [de negociações], precisamos finalizar de uma vez o acordo de livre comércio com o Mercosul", defendeu Scholz.
Os agricultores franceses denunciam uma concorrência desleal, porque a produção dos alimentos no bloco sul-americano não está submetida às mesmas exigências ambientais e sociais, nem aos mesmos padrões sanitários em caso de controles insuficientes.
Os principais sindicatos agrícolas decidiram retomar a mobilização no dia em que a reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo começa no Brasil. Haverá manifestações sobretudo em praças e rotatórias.
Já na noite de sexta-feira, grupos de agricultores marcharam até a base aérea de Villacoublay, perto de Paris, e bloquearam duas das três estradas em uma rodovia nacional.
Outro sindicato agrícola, o Coordenação Rural, disse que estava aguardando sua assembleia na terça e quarta-feira para convocar a mobilização.
A entidade, que afirma ter conquistado milhares de novos membros desde o ano passado, promete "uma revolução agrícola" com "um bloqueio do frete de alimentos" a partir de quarta-feira no sudoeste do país se não houver "nenhum progresso" na questão do Mercosul.
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