Rússia afirma que EUA inflama conflito ao permitir que Ucrânia utilize mísseis americanos

O Kremlin advertiu, nesta segunda-feira (18), contra uma nova escalada na guerra da Ucrânia e prometeu uma resposta apropriada caso Kiev utilize, após receber autorização dos Estados Unidos, mísseis de longo alcance fornecidos por Washington para atacar alvos dentro da Rússia.

"O uso de mísseis de longo alcance por Kiev para atacar nosso território significaria a implicação direta dos Estados Unidos e de seus aliados nas hostilidades contra a Rússia, e uma mudança radical na essência e natureza do conflito", declarou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.

"A resposta da Rússia neste caso será adequada e se fará sentir", alertou em comunicado.

Os comentários de Moscou coincidiram com o anúncio de Kiev de um novo ataque russo nesta segunda-feira na cidade portuária de Odessa, no Mar Negro, que matou 10 pessoas, após um bombardeio em larga escala no fim de semana contra a infraestrutura de energia do país.

Em uma mudança de estratégia a poucas semanas da posse de Donald Trump, uma fonte de alto escalão do governo americano falou no domingo, sob condição de anonimato, que os Estados Unidos autorizaram a Ucrânia a realizar ataques à Rússia com seus mísseis de longo alcance.

Os jornais The New York Times e The Washington Post afirmaram que a autorização de Washington foi adotada como resposta ao envio de tropas norte-coreanas para ajudar Moscou.

Segundo Kiev, quase 11 mil soldados norte-coreanos estão na Rússia e começaram a combater na província (oblast) russa de Kursk, parcialmente controlada pelas tropas ucranianas.

Biden aceitou o pedido de Kiev pouco antes de deixar a Casa Branca e do retorno de Trump, crítico ferrenho da ajuda americana à Ucrânia.

Durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, Biden pediu aos líderes das maiores economias do mundo "apoiar firmemente a soberania" da Ucrânia, mas não mencionou a questão dos mísseis.

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Na declaração conjunta, os países do G20, do qual a Rússia faz parte, se disseram favoráveis "a toda iniciativa construtiva" que busque "uma paz justa e duradoura".

- Cautela -

A decisão de Washington poderia representar uma mudança "de jogo" para Kiev, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiga.

"A posição da Ucrânia sempre foi clara: temos pleno direito de atacar alvos militares em território russo. É nosso direito legítimo e isso salvará nossos civis. Poderia ter um impacto muito positivo no campo de batalha", declarou Sibiga antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.

Kiev vinha pedindo há muito tempo autorização para usar armas ocidentais de longo alcance para atacar bases a partir das quais a Rússia lança seus bombardeios e também para contra-atacar o avanço das tropas russas no leste.

Os mísseis ATACMS fornecidos pelos Estados Unidos deveriam inicialmente ser usados no oblast de Kursk, por conta da presença dos soldados norte-coreanos, de acordo com o The New York Times.

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Os países da Otan relutavam a aceitar o pedido devido ao temor de uma escalada no conflito.

Contudo, nesta segunda-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, classificou como "totalmente acertada" a medida adotada por Washington.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, reafirmou em Bruxelas que seu governo não descarta a possibilidade de uso de seus mísseis "contra alvos a partir dos quais a Rússia ataca o território da Ucrânia".

A Alemanha, por sua vez, informou que entregaria 4 mil drones equipados com inteligência artificial.

"Não vou entrar em detalhes operacionais", afirmou, por sua vez, Keir Starmer, o primeiro-ministro do Reino Unido.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, recebeu com cautela o anúncio da fonte americana no domingo.

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"Hoje, muitos meios de comunicação informam que recebemos autorização para tomar as medidas oportunas", disse. "Mas os ataques não são efetuados com palavras. Essas coisas não são anunciadas", afirmou, antes de acrescentar que "os mísseis falarão por si".

- Bombardeio em Odessa -

No terreno, Zelensky indicou nesta segunda-feira que visitou as tropas que defendem a cidade de Pokrovsk, um ponto logístico crucial para as forças de Kiev no front leste e do qual o Exército russo se aproxima cada vez mais. 

O presidente também visitou Kupiansk, uma cidade ocupada por Moscou em 2022 e onde as tropas russas fizeram uma breve incursão na semana passada.

No sul, um míssil russo matou pelo menos 10 pessoas e feriu outras 43 em plena luz do dia nesta segunda-feira em Odessa, que fica distante do front, segundo o último relato.

"Vi o horror", contou Andrei à AFP. Este homem, que morava na cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, havia se mudado para Odessa para estar "mais tranquilo" e evitar os bombardeios diários em sua cidade natal.

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"Mas, como ficou provado nas últimas semanas, a situação é a mesma que em Kherson. Todo dia alguém morre", lamentou.

No domingo, um enorme bombardeio russo contra infraestruturas energéticas deixou pelo menos 11 mortos e forçou o anúncio de cortes de eletricidade nesta segunda-feira, à medida que o inverno se aproxima.

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© Agence France-Presse

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