Kiev acusa Moscou de disparar míssil intercontinental contra Ucrânia pela primeira vez
A Ucrânia acusou, nesta quinta-feira (21), a Rússia de ter disparado um míssil intercontinental contra o seu território, um projétil capaz de transportar ogivas nucleares, mas que neste ataque transportava apenas cargas convencionais.
O Kremlin recusou-se a comentar a acusação ucraniana.
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"Não tenho nada a dizer sobre o assunto", respondeu o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, à imprensa.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, recebeu a ordem de não dizer nada sobre o assunto ao vivo durante uma coletiva de imprensa transmitida na televisão.
A Rússia tem usado uma retórica cada vez mais belicista há vários dias, falando sobre armas atômicas depois de Kiev ter disparado mísseis americanos contra o território russo.
"Um míssil balístico intercontinental foi disparado da região russa de Astrakhan" em um ataque à cidade de Dnipro, no centro-leste da Ucrânia, informou a Força Aérea ucraniana em um comunicado.
A nota afirma que as forças russas lançaram vários tipos de mísseis contra infraestruturas críticas em Dnipro.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, indicou que há avaliações em andamento, mas que o disparo tinha "as características" de um míssil intercontinental.
Ele também chamou a Rússia de "vizinho enlouquecido" que usa a Ucrânia como "campo de ensaio" militar.
Uma fonte militar disse à AFP que é a primeira vez que Moscou utiliza este tipo de arma desde a invasão da Ucrânia em 2022.
A fonte acrescentou que é "óbvio" que o míssil, concebido para transportar ogivas convencionais e nucleares, não transportava carga nuclear.
Tal disparo "marcaria outra escalada" da Rússia no conflito, comentou um porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano.
- Escalada de mísseis -
Moscou atualizou nesta semana a sua doutrina nuclear, que agora lhe permite usar armas nucleares contra países que não possuem esse tipo de armamento, e sinalizou que é uma advertência ao Ocidente.
"Enfatizamos, no contexto da nossa doutrina, que a Rússia está assumindo a posição responsável de fazer o máximo esforço para evitar tal conflito" nuclear, disse Dmitri Peskov nesta quinta-feira.
Unidades de defesa aérea ucranianas derrubaram seis mísseis, segundo a Força Aérea, sem especificar se um deles era o míssil balístico intercontinental.
O chefe da região onde está localizada a cidade de Dnipro, Sergii Lisak, indicou que o bombardeio aéreo russo danificou um centro de reabilitação e várias casas, além de uma fábrica industrial.
"Duas pessoas ficaram feridas, um homem de 57 anos foi tratado no local e uma mulher de 42 anos foi hospitalizada", disse Lisak.
Outras 17 pessoas ficaram feridas em outro ataque cerca de 100 quilômetros a sudoeste de Dnipro, segundo o governador.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, interrompeu a sua aparição, transmitida ao vivo, para atender a uma ligação, deixando o microfone ligado.
Do outro lado da linha ouve-se uma voz pedindo-lhe que "não comente" o ataque de "mísseis balísticos" contra a central de satélites Pivdenmach, localizada no centro de Dnipro.
Segundo o canal Rybar, no Telegram, próximo do Exército russo, esta central "poderia" ter sido alvo de um míssil intercontinental do tipo RS-26 Rubezh.
Rússia e Ucrânia aumentaram o uso de mísseis de longo alcance nos últimos dias, desde que Washington autorizou Kiev a usar armas deste tipo fabricadas nos EUA.
Enquanto isso, a imprensa britânica informou, na quarta-feira, que a Ucrânia lançou mísseis Storm Shadow, fornecidos pelo Reino Unido, contra alvos na Rússia depois de receber o sinal verde de Londres.
O Ministério da Defesa russo afirmou que o seu sistema de defesa aérea derrubou dois Storm Shadows, sem dizer se o fez sobre território russo ou em partes ocupadas da Ucrânia.
A escalada com mísseis acontece em um momento crítico para a Ucrânia, cujas linhas defensivas cederam terreno à crescente pressão russa ao longo da linha da frente.
Nesta quinta-feira, a Rússia reivindicou avanços na região fronteiriça de Donetsk e anunciou que as suas tropas tomaram outro vilarejo perto de Kurakhove.
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© Agence France-Presse