Ex-ministro Braga Netto é preso em investigação por trama golpista

A Polícia Federal (PF) prendeu, neste sábado (14), o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro, por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe que contemplava o assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva e por tentar obstruir as investigações.

Braga Netto foi ministro e companheiro de chapa de Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro de 2022, nas quais Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin foram eleitos.

A prisão foi ordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, por causa da "gravíssima participação" de Braga Netto na "tentativa de golpe de Estado e de obstrução de Justiça por tentar atrapalhar as investigações sobre o episódio", informou a corte em um comunicado.

"Braga Netto foi preso na operação", confirmou uma fonte da PF à AFP. Os agentes também cumpriram ordens de busca e apreensão contra um assessor do general, o coronel Flávio Botelho Peregrino.

A PF recomendou, no fim de novembro, o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 69 anos, e de vários de seus aliados, por uma suposta tentativa de golpe para impedir a posse de Lula, após a vitória do petista nas eleições de 2022.

Entre esses aliados estava Braga Netto, um ex-chefe do Estado-Maior, considerado um bolsonarista fervoroso e discreto.

Braga Netto afirmou na rede social X que não tratou de um suposto golpe e "muito menos do planejamento para assassinar alguém". 

- "Sacola de vinho" -

A investigação encontrou "fortes indícios e substanciais provas" de que Braga Netto contribuiu "para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, cuja consumação presumia [...] a detenção ilegal e possível execução" de Lula e Alckmin, informou Moraes em sua decisão.

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O general da reserva repassou a outros envolvidos dinheiro em uma "sacola de vinho" para "o financiamento das despesas necessárias a realização da operação".

O próprio Alexandre de Moraes, que lidera várias investigações contra Bolsonaro e seu entorno, seria vítima de ações de vigilância e planos dos envolvidos para sequestrá-lo e assassiná-lo.

Como figura do alto escalão das Forças Armadas, Braga Netto teve uma "participação ativa" na tentativa coordenada de "pressionar os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".

Em seguida, ele agiu para obter informações sob segredo de justiça relacionadas à investigação e para pressionar para que "a participação dos investigados não fosse integralmente revelada".

A defesa do general da reserva declarou em um comunicado que poderá "comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações".

"Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?", questionou Bolsonaro no X.

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A Polícia Federal determinou que os 37 indiciados devem ser processados pelos "crimes de abolir violentamente o Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa".

A investigação da PF, que reuniu provas durante dois anos, está consolidada em um relatório de mais de 800 páginas, atualmente nas mãos da Procuradoria-Geral da República, que deve decidir se vai apresentar acusações criminais contra Bolsonaro e seus aliados.

Braga Netto já havia sido alvo de uma operação policial em fevereiro, como parte desta mesma investigação, mas não foi detido na ocasião.

- Manuscrito -

Bolsonaro é apontado pela Polícia Federal como tendo "plena consciência e participação ativa" no suposto plano golpista frustrado para impedir a posse de Lula, segundo a PF.

O ex-presidente também teria "pleno conhecimento" de um esquema para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.

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O plano, chamado "Punhal Verde e Amarelo", teria sido discutido na casa do general Braga Netto e foi impresso no Palácio do Planalto, segundo investigadores.

Entre as provas reunidas pela PF também está um manuscrito com notas sobre o plano golpista, encontrado na sede do Partido Liberal (PL) de Bolsonaro, entre os pertences de um assessor de Braga Netto.

Sob o título "Operação 142", o documento menciona alternativas como "interrupção do processo de transição", "anulação das eleições" e "prorrogação dos mandatos".

Embora o golpe de Estado não tenha ocorrido, em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse de Lula, milhares de bolsonaristas invadiram e vandalizaram as sedes da Presidência da República, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso em Brasília.

Bolsonaro, que havia viajado para os Estados Unidos dias antes, é alvo de outra investigação para determinar se incentivou os ataques.

Braga Netto integrou o governo Bolsonaro em fevereiro de 2020, quando foi nomeado ministro da Casa Civil.

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Em março de 2021, logo após ser nomeado ministro da Defesa, ele provocou um escândalo ao afirmar que o golpe militar de 1964 deveria ser "comemorado" como um "movimento" que permitiu "pacificar" o país.

rsr/mel/jb/am

© Agence France-Presse

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