Trump e a diplomacia das ameaças para expulsar imigrantes
Ninguém esperava uma diplomacia suave com Donald Trump no poder, mas a briga deste fim de semana com a Colômbia confirmou que ele está inclinado a usar ameaças, como a suspensão da emissão de vistos e a aplicação de taxas, uma de suas palavras favoritas.
A Colômbia costuma receber os imigrantes expulsos pelos Estados Unidos, mas o presidente Gustavo Petro criticou que eles sejam enviados em aviões militares, o que também desagrada a outros países, como o Brasil. Os dois líderes travaram uma guerra verbal, que terminou em um acordo.
- 'Campanha pública' -
"O presidente Trump busca uma campanha pública com o uso de aviões militares, que comportam menos pessoas que os comerciais e os do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas", diz o analista do Migration Policy Institute (MPI) Ariel Ruiz Soto. O objetivo é "mostrar que está sendo mais agressivo e que usa os militares para tentar enviar o que ele chama de criminosos de volta para os seus países de origem".
O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, estreou hoje no cargo advertindo que o Departamento de Defesa manterá "o apoio às deportações em massa". "As ordens legais do presidente dos Estados Unidos serão cumpridas rapidamente e sem desculpas."
Trump prometeu realizar a maior campanha de expulsão de imigrantes em situação irregular da história do país, e está disposto a usar tarifas como arma, inclusive contra os vizinhos México e Canadá, com quem assinou o acordo de livre-comércio T-MEC.
"Essas taxas não são compatíveis nem com o T-MEC, nem com as normas da Organização Mundial do Comércio", ressalta o professor de direito da Universidade de Columbia Petros Mavroidis.
Segundo Trump, Canadá e México não fazem o suficiente para impedir a entrada de imigrantes e fentanil nos Estados Unidos. Se ele "acredita que o México exporta fentanil ilegalmente para os Estados Unidos, tem que apresentar provas" para justificar as tarifas, diz Mavroidis.
O consultor e ex-embaixador do México em Washington Arturo Sarukhan deduz que Trump "tenta pressionar para que o tratado seja renegociado agora, em vez de 2026".
- Impacto dos vistos -
O presidente americano sacou neste fim de semana uma segunda arma: os vistos. Para Ruiz Soto, as taxas são "uma grande ameaça", mas "o impacto mais imediato e invisível desse colapso diplomático são os vistos".
Com Marco Rubio à frente, o Departamento de Estado poderia revogá-los de forma "rápida e ágil", indica o analista. Também poderia "usá-los em negociações" com países como o Panamá, cujo canal Washington ameaçou "recuperar".
Mas a diplomacia das ameaças pode ter um efeito adverso para um dos principais objetivos dos Estados Unidos: o de combater a influência da China em geral e na América Latina em particular.
"Amplia a abertura dos países latinos à China", mas "é um processo que deve continuar por anos. É provável que a União Europeia também possa ter uma presença maior e mais forte na América Latina se assim o decidir ", acrescenta Ruiz Soto.
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© Agence France-Presse
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