Carla Araújo

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Reportagem

Crise do Ibama aberta por Lula pode causar primeira mudança ministerial

A crítica do presidente Lula (PT) ao Ibama pela demora em autorizar a pesquisa para prospecção de petróleo na margem equatorial aumentou a pressão para a demissão do presidente do órgão, Rodrigo Agostinho. Aliados do presidente apostam que uma mexida no órgão pode ser o passo inicial para a aguardada reforma ministerial.

Agostinho tem sido acusado de travar a licença para a Petrobras realizar os estudos de exploração de petróleo na região, e auxiliares de Lula —que defendem uma mudança no comando do órgão— afirmam que há "ideologia demais" nas avaliações feitas sobre o tema.

O atual presidente do Ibama é filiado ao PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, e foi indicado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em 2023. A ministra é crítica ferrenha dos combustíveis fósseis e sempre se colocou contra a exploração. Sob a gestão de Agostinho, o Ibama emitiu a primeira negativa para a estatal em 2023 e fez novas exigências para avaliar a autorização.

"Se depois a gente vai explorar, é outra história. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga", disse Lula na manhã desta quarta-feira (12) em entrevista à rádio Diário FM, de Macapá. "O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo", completou o presidente.

Procurado pela coluna, Agostinho disse que não comentaria as falas do presidente. Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a fala de Lula irritou servidores do órgão e do Ministério do Meio Ambiente, que avaliam que o processo tem sido alvo de extrema interferência política.

O potencial petrolífero da margem equatorial vai do Amapá ao Rio Grande do Norte e uniu deputados e senadores do Nordeste, que farão coro na cobrança pelo licenciamento para que seus estados sejam beneficiados com a arrecadação da exploração. Hoje, Lula estará no Amapá ao lado de Alcolumbre e o tema deve voltar ao palanque.

Ministro petista é cotado

A possível demissão de Agostinho deu margem para que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), seja cotado para presidir o Ibama. O petista é biólogo de formação, foi superintendente do órgão em Sergipe entre 2003 e 2006 e foi secretário estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, entre 2007 e 2010.

A ida de Macedo para o Ibama é defendida por auxiliares de Lula também para poder abrir espaço para a chegada de Gleisi Hoffmann (PT) ao Palácio do Planalto. A atual presidente do PT já teria sido sondada por Lula para assumir o lugar de Macêdo, mas a demora para a troca abre especulações de que a resistência de outros petistas —como o ministro Fernando Haddad— estaria dificultando a entrada dela no governo.

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Pessoas próximas a Macêdo afirmam que ainda não houve nenhuma conversa dele com o presidente sobre o Ibama nem sobre a saída do cargo. Apesar disso, nos bastidores em Brasília, fontes do Planalto e do Congresso já dão a saída do ministro como certa.

Aliados de Macedo veem seu nome sendo alçado ao Ibama como uma "plantação" de aliados de Gleisi Hoffmann, que espera sua vaga no Planalto.

Caso Macêdo não vá para o Ibama, outra possibilidade aventada por petistas é que ele assuma de forma tampão a presidência do PT.

Reforma atrasada

Os ajustes esperados para Esplanada dos Ministérios já estão atrasados. Essa é a avaliação de integrantes do governo e aliados.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a informar que as mudanças aconteceriam ainda em janeiro. Agora, a aposta de aliados do governo é que o xadrez ministerial seja concluído até o Carnaval.

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Sem isso e sem resolver os impasses em torno das emendas parlamentares, dizem, o Congresso não votará o Orçamento.

Lula tem conversado com parlamentares e quer ouvir os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para contemplar os novos aliados. Nos bastidores do Congresso e do Planalto, dizem, há muitos cenários sendo traçados. Mas uma definição, costumam dizer, está apenas na cabeça de uma pessoa: Lula.

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