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Itamaraty desautoriza telegrama enviado a embaixadas com alerta sobre "golpe"

23/03/2016 22h03

O Ministério das Relações Exteriores divulgou comunicado desautorizando o conteúdo de dois telegramas enviados na semana passada a todos os postos brasileiros no exterior, que faziam menções ao que se chamou de "golpe" e "processo reacionário em curso no país contra o Estado Democrático de Direito".

As mensagens foram enviadas na última sexta-feira (18) pelo diplomata Milton Rondó Filho às embaixadas, consulados e escritórios brasileiros em todo o mundo, e se tornaram alvo de críticas de parlamentares da oposição. Ainda na sexta, o secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, enviou um novo telegrama às representações brasileiras pedindo que elas desconsiderem as circulares anteriores e tornando-as sem efeito.

Nos comunicados, o diplomata Rondó Filho, da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty, pede a cada posto que designe um funcionário para atuar como interlocutor da sociedade civil local perante o Itamaraty e a população brasileira no país.

O diplomata reproduziu nos telegramas notas públicas de entidades do Brasil que manifestam preocupação com a crise política. Em uma delas, da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), há a seguinte mensagem: "Não ao golpe! Nossa luta continua!". No segundo telegrama, movimentos sindicais e populares do Brasil denunciam o processo em curso no país.

De acordo com o Itamaraty, Rondó Filho não consultou o secretário-geral do ministério sobre o envio das circulares e foi advertido para não encaminhar novas mensagens sem antes conversar com seus superiores.

Reação

Após o conteúdo das mensagens vir à tona, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) apresentou requerimento à Comissão de Relações Exteriores do Senado para ouvir o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sobre o episódio, que considerou "patético". Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do PSDB, as manifestações de membros do corpo diplomático não aconteceriam "num país onde a hierarquia fosse respeitada".

"Essa questão não vai ser resolvida com ameaças. Não vai ser resolvida dessa forma extremamente antirrepublicana como temos assistido o governo fazer. Vamos estar aqui vigilantes na defesa das nossas instituições e o nosso ministro das Relações Exteriores será convocado ao Congresso Nacional para dar ciência ao país, através dos congressistas, de onde partiu a ordem e quais os objetivos daqueles que buscam contaminar o mundo com uma versão falsa daquilo que acontece no Brasil", disse o parlamentar.