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Entidades divulgam manifesto que pede o fim da violência contra médicos

Débora Brito - Repórter da Agência Brasil

25/11/2016 18h12

Representantes de várias entidades médicas do Brasil e da América Latina divulgaram hoje (25) um manifesto pedindo o fim da violência contra os médicos no exercício da profissão. O documento foi aprovado no encerramento da Assembleia da Confederação Médica Latino Ibero Americana e do Caribe (Confemel), em Brasília. A Confemel integra 22 países da América Latina e do Caribe, além de Portugal e Espanha. Entre as reivindicações apresentadas na carta está a adoção de medidas de segurança em torno dos serviços de saúde para evitar os riscos de agressão. O documento ainda propõe que os profissionais sejam capacitados para manejar situações de conflito e recomenda que os pacientes e a sociedade recebam informações acerca do problema. Segundo informações divulgadas durante a assembleia, 30 mil médicos foram agredidos em toda a América Latina, em cinco anos. Na Bolívia, as projeções indicam que 8 em cada 10 médicos devem ser agredidos em algum momento da prática profissional. No Brasil, a tendência não é muito diferente. Segundo o presidente da Confemel, Jean Carlos Fernandez, o país registrou um aumento aproximado de 20% nas ocorrências nos últimos anos. Violência O Conselho Federal de Medicina pretende fazer um inquérito nacional para levantar dados mais precisos sobre as situações de violência vividas pelos médicos durante o exercício da profissão. Os profissionais relatam que as agressões físicas por parte de acompanhantes de pacientes correspondem à maior parte dos casos e a demora no atendimento é apontada como a principal causa para as agressões. Os médicos reclamam que a falta de infraestrutura afeta a qualidade do atendimento e gera desconforto na relação com o paciente. "Nós tivemos, neste ano, principalmente agressões físicas, mas também agressões verbais, sem falar na demanda judicial contra médicos que tem aumentado vertiginosamente. As pessoas porque não realizam um exame, porque não conseguem fazer uma consulta atribuem isso aos médicos, quando, na verdade, os verdadeiros culpados são os gestores", afirma o presidente da Confemel. Em São Paulo, 17% dos médicos ouvidos em uma pesquisa do Datafolha relataram que já foram vítimas de agressão - 84% foram agredidos verbalmente e 80% sofreram agressão psicológica. Quase metade (47%) conhece um colega que já passou por alguma situação de violência. Os relatos ocorrem principalmente nas dependências do serviço público de saúde. Os médicos citam ainda o atraso nos pagamentos por vários meses seguidos como um tipo de violência. Entre os especialistas que mais sofrem, estão os médicos peritos e os profissionais que trabalham em situações de emergência. "Os peritos, em especial, porque muitas vezes eles tomam uma decisão que é contrária à vontade do paciente. São pessoas que estão em busca de auxílio-doença, são pessoas que estão afastadas do trabalho e, muitas vezes, o perito dá um laudo contrário ao que a pessoa deseja e isso tem causado muitas agressões. E depois as pessoas que trabalham em pronto-socorro, em especial na área de pediatria, estão muito expostas a esse tipo de agressão", explica Fernandez. Segurança pública Para o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, o problema não é só uma questão de saúde, mas também de segurança pública. "Os médicos assoberbados com muito trabalho, com falta de estrutura, também o nível de estresse, muitas vezes até de burnout, que é uma síndrome de caráter depressivo, estão predispostos à irritação e a exaltação de ânimos, decorrentes da fragilidade da condição humana", disse. "Além disso, tem aqueles assaltos que ocorrem em postos de saúde da periferia e regiões onde é frequente a falta de segurança. É um contexto muito diverso onde passa desde as condições de trabalho até mesmo a uma segurança pública mais efetiva exercida por profissionais que estejam preparados para o exercício não só da segurança patrimonial, mas sobretudo da segurança física das pessoas", completou Vital. Crise Venezuela Durante a assembleia, os médicos da confederação manifestaram apoio à Venezuela, que apresenta os piores índices de violência na área da saúde no mundo. A situação dos médicos é agravada pela crise política e humanitária que o país enfrenta. O presidente da Federação Médica Venezuelana, Douglas Leon, lembrou casos bem particulares ocorridos nas últimas semanas, como o de um médico venezuelano que ficou preso por 24 horas em um hospital da periferia depois de receber ameaças de morte por parentes de um paciente que morreu. Leon citou outro caso em que uma colega foi encontrada degolada em seu quarto de repouso e ainda a história de uma médica que caiu do sétimo andar do hospital mais importante de Caracas e não se sabe se ela foi jogada ou se cometeu suicídio. O representante pede atualização das leis do país para que os casos não sejam mais mantidos em segredo e recebam investigação adequada. Os médicos aprovaram ainda o dia 4 de dezembro como o Dia Latinoiberoamericano contra as Agressões a Médicos e Sanitaristas. A data faz alusão ao dia da morte de Marco Antônio Becker, médico brasileiro que foi assassinado em Porto Alegre, em 2008. A carta com as reivindicações será entregue às autoridades de cada país representado na Confemel.