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Em Salvador, projeto Respeite as Mina levou cantoras às avenidas do Campo Grande

Sayonara Moreno - Correspondente da Agência Brasil

27/02/2017 21h28

O projeto Respeite as Mina levou três cantoras às avenidas do Campo Grande, na noite de hoje (27), em Salvador. As cantoras Larissa Luz, Tássia Reis e Mc Carol arrastaram foliões enquanto cantavam músicas de temática feminista e de empoderamento negro. "Lutar por uma causa como esta, pra mim, é bem relevante porque  venho emprestando a minha voz e a minha ferramenta que é a arte, pra estar engajada neste movimento. E o carnaval é um lugar de expressão forte e de visibilidade que temos como vitrine artística, então, acredito que o entretenimento pode sim ser aliado ao conhecimento," disse a vocalista Larissa Luz. "A gente não precisa ser apenas uma coisa, a gente pode se divertir pensar, reivindicar, falar do que a gente almeja". Ela definiu o momento como histórico:  a carreira, as mulheres e o carnaval". "A mensagem é pra homens e mulheres: aos homens, porque dizemos como gostamos de ser tratadas, como a gente não gosta do que façam com a gente; e para as meninas que precisam saber e falar o que incomoda nelas, em relação às abordagens", completa Larissa, cujo álbum Território Conquistado - lançado em 2016 - foi indicado ao Grammy Latino e cujo clipe Bonecas Negras lhe assegurou uma vaga entre as 25 mulheres negras mais influentes do Brasil, em 2016, pelo site Blogueiras Negras. Outra artista convidada e influente no mundo musical e na música negra, é a cantora paulista, Tássia Reis que usa o rap para denunciar o racismo ainda existente. "Eu acredito numa arte que transforma, que pode direcionar. Então, assim como Nina Simone disse, não acredito numa arte que não questiona. Então, se eu puder fazer isto em todo lugar que a gente for, farei", comentou a cantora. No chão, puxados pelo trio tipo pranchão, homens e mulheres dançavam e cantavam, em coro, as canções de Larissa, que questionavam desde a ausência de bonecas negras na publicidade infantil ao poder da mulher sobre o próprio corpo. Apesar da presença mista de homens e mulheres, a professora Iris Oliveira sentiu que a presença dos homens poderia ter sido mais forte, porque o projeto "é também para que eles entendam a mensagem." "Este trio é uma oportunidade incrível para tocarmos num debate que nos atinge o ano inteiro, e isto é bom para chamar atenção. É impressionante como a expressão Respeita as Mina faz efeito quando a gente olha no olho de um assediador e diz isto. Os homens se sentem incomodados com este debate e eles se sentem excluídos com este tipo de pauta, quando o objetivo é que a mensagem chegue até eles também", concluiu a foliã. Como a mensagem era tanto para eles quanto para elas, o professor universitário Felipe Milanez, conta que já conhecia e admira o trabalho de Larissa Luz e que, além disso, convive com mulheres no ambiente universitário que o ensinam diariamente sobre direitos e conquista de espaços. "Sou um dos poucos brancos e heterossexuais aqui e isto é totalmente sintomático. Cansei de ver os caras andando e puxando as mulheres à força e como o espaço é para respeitar as minas, poucos se interessam em vir. O projeto é incrível e já deu muito certo. Não vi nenhuma cerveja patrocinando este trio, porque as cervejarias vendem com a exploração do corpo das mulheres e é lamentável que o trio seja financiado apenas pela iniciativa pública", observou o docente, que destacou, a importância do espaço das mulheres negras. Nos intervalos entre as músicas, as responsáveis pelo comando da folia politizada aproveitavam a voz dada a elas, para reafirmar sobre o direito das mulheres, o combate ao assédio e as formas de violência, como puxões e ou beijos forçados, sobretudo no carnaval. A auditora de controle, Viviane Nascimento, esteve no meio da folia e aproveitou cada canção para se divertir. Apesar disto, ela relata que o carnaval é apenas uma "grande amostra" do que acontece com as mulheres durante todos os dias do ano. "A gente passa na rua e, o tempo todo, escuta comentários machistas. E se houver embate, eles revidam com violência ou ofensas. O carnaval é uma amostra grande do que é o cotidiano de uma mulher, num país como o Brasil. O corpo feminino precisa ser respeitado, porque a abordagem é diferenciada quando se trata de nossos corpos", relatou Viviane. Ocorrências Salvador possui duas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Nos quatro primeiros dias oficiais da folia, apenas uma das unidades registrou 41 ocorrências. O número de registros de assédio em todo o Brasil dobrou em 2016, comparado com o ano anterior. O aumento foi 174% no número de denúncias feitas pelo telefone 180, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Segundo a Secretaria do Estado de Políticas para as Mulheres este aumento reflete exatamente o objetivo principal do trio Respeite as Mina: o conhecimento das diversas formas de assédio, as quais eram naturalizadas e confundidas com cantadas ou paquera, que devem ser feitas com respeito ao espaço e à dignidade da mulher.