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Testemunha de defesa de PMs diz que vítima sobreviveria se socorro não demorasse

Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil

27/03/2017 19h35

Uma das 13 testemunhas de defesa que foram ouvidas na tarde de hoje (27) durante o júri popular da morte de Fernando Henrique da Silva, 23 anos, disse que a vítima poderia ter sobrevivido se o socorro não tivesse demorado tanto a chegar. O testemunho foi dado por um dos policiais militares arrolados como testemunhas de defesa. Em depoimento, o policial disse ter visto Fernando ainda ofegante quando ele chegou à cena do crime, momentos depois de ter ouvido disparos de armas de fogo. "Não foram os policiais que mataram a vítima. Ela veio a falecer, de hemorragia, por falta de socorro", disse a testemunha. Segundo este PM, os policiais que estavam na ocorrência (e que são réus no caso) lhe disseram naquele momento que Fernando caiu do telhado no quintal e disparou em direção a eles, antes de ser baleado e morrer. "Eles disseram que houve confronto e que um policial fez de três a quatro disparos [contra a vítima] e, o outro, entre dois ou três disparos". A testemunha disse que, ao entrar na cena do crime, viu os policiais bastante abalados, pedindo pela chegada do resgate e que um deles segurava a arma que seria da vítima. Um outro policial, que também esteve na cena do crime logo após os disparos, disse que, quando os policiais lhe relataram o que houve, não mencionaram que havia um outro policial no telhado. Ele também disse não acreditar que os réus tenham forjado um confronto com a vítima, como alega a acusação. A única testemunha de acusação ouvida hoje, o tenente Marco Aurélio Genghini, da Corregedoria da Polícia Militar, disse que houve uma execução e que Fernando foi morto já rendido e sem oferecer resistência aos policiais. O caso Fernando estava em uma moto roubada com Paulo Henrique Porto de Oliveira, 18 anos, quando foi surpreendido por policiais na Rodovia Raposo Tavares. Durante a fuga, Fernando abandonou a moto e subiu em um telhado de uma casa no bairro do Butantã, na zona oeste da capital paulista, e foi cercado por policiais. Imagens feitas à distância por celulares mostraram o policial Samuel Paes aproximando-se da vítima ainda no telhado, revistando-a e, aparentemente, jogando Fernando, rendido e desarmado, do telhado em direção ao quintal de uma casa. Depois da queda - cena que não foi registrada pelas imagens - os outros dois policiais, Flávio Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, que estavam no quintal aguardando, teriam atirado contra Fernando, que morreu no local. Os policiais militares Lima e Silva são acusados de homicídio doloso qualificado (por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima), fraude processual (por alteração no local do crime) e falsidade ideológica (por terem dado versões falsas sobre o crime durante a investigação). O policial Paes responde por homicídio doloso qualificado (por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima). O cumplice de Fernando no roubo da moto, Paulo Henrique Porto de Oliveira, também foi morto pela polícia. Uma câmera de segurança mostrou Paulo se entregando, levantando a camisa para mostrar que estava desarmado e sendo colocado contra um muro, fora do alcance da câmera, momento em que foi morto pelo polícial militar Tyson Oliveira Bastiane . O vídeo mostra ainda um dos policiais, Silvano Clayton dos Reis, pegando uma arma na viatura para forjar um confronto e justificar a morte do suspeito. O julgamento dos três policias envolvidos na morte de Paulo terminou no dia 14 de março. Tyson Oliveira Bastiane foi condenado por homicídio e recebeu uma pena de 12 anos, 5 meses e 7 dias de reclusão. Ele continua preso no Presídio Militar Romão Gomes. Silvio André Conceição foi absolvido de todas as acusações e Silvano Clayton dos Reis foi condenado por fraude processual, falsidade ideológica e porte ilegal de arma e sua pena foi estabelecida em 4 anos, 11 meses e 17 dias de reclusão, mas ele pode recorrer em liberdade. O julgamento O julgamento teve início por volta das 11h de hoje, com a leitura do processo pelos sete jurados que vão determinar a sentença, todos homens. Em seguida começaram a ser ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa. Ainda hoje devem ser ouvidos os três réus. O júri popular, que ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital, é acompanhado por muitas pessoas, principalmente policiais militares. Amanhã (28), no mesmo local, devem ocorrer os debates do promotor Rogério Leão Zagallo e dos advogados de defesa, Paulo Cesar Pinto e Nilton de Souza Vivian Nunes, com possibilidade de réplica e tréplica, fase que pode durar até nove horas. Só então os sete jurados, todos eles homens, se reúnem para decidir se condenam ou absolvem os réus.