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ONG coloca placas em protesto pela morte de menina por bala perdida no Rio

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil

05/07/2017 16h48

A organização não governamental (ONG) Rio de Paz homenageou hoje (5) a menina Vanessa dos Santos, de 10 anos, morta ontem (4) por bala perdida dentro de casa, na Favela Camarista Méier, no Complexo do Lins, zona norte da cidade. Em protesto pela morte, uma placa com seu nome foi afixada ao lado de mais 35 placas, representativas de crianças também vítimas de balas perdidas somente na região metropolitana do Rio de Janeiro, desde 2007. Apenas este ano, cinco crianças foram mortas por bala perdida na região metropolitana do Rio. Além disso, entre janeiro e maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2016, houve aumento de 16,4% no número de mortes violentas no estado (2.942 este ano contra 2.528 em 2016). O local escolhido para o protesto foi a Curva do Calombo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul, onde o médico Jaime Gold foi atingido por golpes de faca por ladrões no dia 19 de maio de 2015, vindo a morrer no dia seguinte. A ONG Rio de Paz está prestando auxílio jurídico, psicológico e financeiro à família de Vanessa, com a qual estará amanhã (6), às 13h, durante o enterro da menina, no Cemitério de Inhaúma. O diretor executivo e fundador da organização, Antonio Carlos Costa, está tentando agendar encontro com o governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, para que ele receba a família de Vanessa ainda esta semana. "Vamos acionar o estado pedindo pagamento de indenização, apoio psiquiátrico, o que for preciso, para que essa família seja amparada", disse Costa. Segundo o fundador da Rio de Paz, o ponto de partida para a solução de qualquer problema na vida é o diagnóstico. "Se você é um doente, o ponto de partida é reconhecer a doença. Nós precisamos tomar consciência do fato de que estamos vivendo uma patologia social, porque eu não imagino cidade de nação livre e desenvolvida que conviva com essa barbárie da forma passiva como nós convivemos. Por que nós não reagimos? Por que não vamos para a rua? Por que o estado não para quando uma criança de 10 anos leva um tiro de fuzil na cabeça, dentro de sua casa?", questionou. Políticas públicas Antonio Carlos Costa salientou a necessidade de se entender que a desigualdade é um "câncer" no país e que há um "fosso" entre ricos e pobres. "Temos pessoas vivendo em condições inaceitáveis, entre as quais moradores das favelas do Rio de Janeiro". Destacou que é preciso "urgentemente" que sejam implementadas políticas públicas nesses bolsões de miséria. Outro ponto importante é a reforma da polícia, indicou. "Não tem como dar conta dos problemas que nós enfrentamos na área da segurança pública, com a polícia no estado que se encontra, tanto sob o ponto de vista da falta de investimento como do seu próprio funcionamento, seus valores, sua mentalidade". A solução para a crise de violência passa também, disse Costa, pela reavaliação da guerra às drogas, para ver se o modelo atualmente adotado faz sentido e se tem colaborado para a redução do tráfico. "Tem que ser discutido. É uma estupidez, essa guerra". Costa salientou ainda que é preciso pensar nas operações policiais, porque não faz sentido que trocas de tiros ocorram às 15h dentro de uma comunidade pobre, intensamente povoada, com crianças correndo de um lado para outro, conforme sucedeu ontem (4). Na avaliação de Costa, os policiais parecem "mais obcecados com a prisão de bandidos do que com a preservação de cidadãos inocentes". Segundo ele, "não é preciso ter formação em segurança pública para saber que esse é um pressuposto elementar". Teólogo e jornalista, Costa lembrou que não faltam estudos sobre segurança pública no Brasil. O que falta, insistiu, é a implementação desses planos. Observou que o número de assassinatos ocorridos no Brasil nos governos Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer alcança quase 800 mil. "E você chega a 2017 sem um plano nacional de segurança pública implementado, sem uma meta nacional de redução de homicídios. É inexplicável, é inaceitável", assegurou.