Morador que teve casa destruída nos anos 1980 desistiu de reembolso
"Me pagaram com muito custo um seguro obrigatório do avião. Não me lembro exatamente o valor, mas na época não dava para comprar metade de um Chevrolet Monza", contou. "Quando me falaram que ia demorar eu me senti enrolado. Eu precisava trabalhar, tinha três filhos para criar, viajava muito pelo Brasil. Consegui me convencer de que foi uma fatalidade", afirmou Ovigli.
O acidente aconteceu na manhã do dia 17 de janeiro. Uma aeronave bimotor decolou da pista às 10h26 com destino a Porto Velho, capital de Rondônia. O avião ficou no ar por pouco mais de um minuto quando perdeu o controle e atingiu duas casas. Na época, a suspeita era de que havia água no combustível usado para abastecer o bimotor.
No dia acidente, ele estava trabalhando e a família tinha viajado para o litoral. Ao chegar em casa, encontrou a rua onde morava fechada por viaturas da polícia. "Na hora em que o avião caiu, todo mundo bateu nas minhas costas, deixaram cartão e disseram que iam resolver. Como não aceitei as ofertas que a seguradora fez pelo prejuízo, acabou indo para a Justiça. Cansei de ir em audiências."
De forma prática, ele solucionou o problema vendendo o terreno onde estava a casa e comprou outra residência, também na zona norte da capital. Antes disso, além do problema para ser ressarcido, ele também precisou conter os vândalos e ladrões que entraram na casa destruída para roubar portões, janelas e outras partes da construção. "Tive que manter segurança privada para não roubarem mais coisas."
A reportagem entrou em contato com os advogados das famílias Carrara e Agnelli. Aos moradores da casa condenada pela Defesa Civil após o acidente do último domingo, a reportagem perguntou se as vítimas vão acionar a Justiça para obter o ressarcimento pelo sobrado, mas não obteve retorno. Já os representantes de Roger Agnelli foram questionados se ajudarão os Carrara. Também não houve resposta.
A casa atingida pelo monomotor do ex-presidente da Vale foi liberada pela Defesa Civil apenas para duas situações: demolição total ou reforma completa. O comandante do órgão, Nilton Persoli, explicou que, para a família Carrara entrar na Justiça, antes terá de contratar o serviço de engenheiros. "Nós fazemos um laudo para liberação ou interdição do imóvel, não verificamos o dano nas vigas de aço e colunas da construção. O material que produzimos pode entrar no processo judicial, mas as vítimas terão que acrescentar dados mais detalhados", explicou.
Passado
Ovigli mudou-se para a casa destruída na Rua Genésio Pereira, no Carandiru, no início dos anos 70. Primeiro, junto com amigos, alugou o imóvel e lá instalaram uma república de universitários. "Os amigos foram se casando, saindo da casa e eu permaneci. Amava o lugar e não passava pela minha cabeça ter de morar em outro lugar." Ele e os colegas contrataram uma empregada para cuidar do local enquanto estavam fora. "Eles saíram de casa, mas ela ficou. Depois que me casei e comprei o imóvel, a empregada permaneceu."
No ano do acidente o educador tinha acabado de terminar as reformas. Uma das mudanças foi fazer um quarto a mais para a empregada poder morar com a filha. Em 1984, a jovem tinha 18 anos e passava as férias de janeiro com a mãe. No momento do acidente, ela estava dentro de uma piscina infantil de 3 mil litros. "Estava em período de férias e deixamos ela e a mãe à vontade dentro da casa. Era para aproveitar a piscina mesmo."
A queda do avião deixou as duas gravemente feridas com queimaduras de terceiro grau. Alguns dias depois, ambas morreram na ala de queimados do Hospital Municipal do Tatuapé. "O prejuízo da minha casa não foi nada em comparação a isso."
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