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Em último debate no Rio, Freixo parte para o ataque contra Crivella

29/10/2016 00h35

Rio - Ávido para diminuir a diferença nas intenções de voto em relação a Marcelo Crivella (PRB), o candidato Marcelo Freixo (PSOL) partiu para o ataque no último debate antes da eleição. Num primeiro bloco de perguntas livres, apertou o adversário ao perguntar sobre igualdade entre homens e mulheres, chamou-o de herdeiro da Igreja Universal do Reino de Deus e lembrou sua postura de faltar a debates e evitar entrevistas. Tranquilo com sua vantagem, Crivella não se alterou. Preferiu fazer perguntas mornas, em torno de programa de governo.

"Que bom que você não fugiu deste debate, fico feliz", saudou Freixo. O candidato do PSOL provocou o adversário com perguntas sobre suas declarações a respeito da submissão da mulher. Crivella aparentava tranquilidade.

Só demonstrou irritação quando perguntado sobre qual era o projeto político da Igreja Universal. "Meu Deus do céu, Freixo não desiste. É uma obsessão. Há três semanas o Freixo só fala isso no programa de televisão. Quero esclarecer que Igreja não tem projeto político nenhum", afirmou, provocando risos da plateia.

Depois, ao ter a primeira pergunta propositiva, sobre direitos do animais, respondida por Freixo, ironizou. "Você vê em casa que quando o Freixo trata de proposta, ele fica encantador. Quanto não ofende a gente, as propostas são perfeitas", disse Crivella.

No segundo bloco, com temas sorteados, o debate esfriou. O maior confronto ocorreu quando Freixo afirmou que Crivella está aliado a Rodrigo Bethlem, flagrado numa gravação em que afirmava proteger um empresário dono de empresas de ônibus. Freixo disse que Crivella não poderia negar a participação de Bethlem, que esteve em comício do candidato do PRB na quinta-feira (27). "Freixo, você é defensor dos direitos humanos, quer que Bethlem fique preso em casa? A praça é pública", respondeu Crivella. "Só falta você me querer fazer acreditar que ele estava passando por ali, não tinha nada para fazer e subiu no palanque?", respondeu Freixo.

Os candidatos também se enfrentaram quando Freixo criticou o adversário por mandar uma equipe na casa da família do pedreiro Amarildo de Souza para gravar vídeo com acusações contra Freixo. "Essas coisas ocorrem porque o candidato Freixo fez tantas coisas erradas que a militância, fica difícil a gente conter, acaba fazendo coisas que eu recrimino. Que são completamente erradas", respondeu Crivella. E emendou: "Eu quero aproveitar esse momento para uma coisa melhor, que é dar parabéns aos funcionários públicos".

Foi duramente criticado por Freixo. "Essa mulher tem problema sério de saúde. Perdeu o marido, torturado e desaparecido. Quando o Amarildo desapareceu, eu estava do lado da família. Você estava do lado do Sergio Cabral, você fazia parte daquele governo. A família do (cinegrafista) Santiago Andrade está processando você (morto numa manifestação, teve as imagens usadas no programa de Crivella). A família do delegado (João Kepler) Fontenelle (que prendeu Crivella por invasão de domicílio) está processando você. E a família do Amarildo está processando você. São três famílias órfãs que você desrespeitou no seu fanatismo de ser prefeito a qualquer preço. Você não respeita nem quem morreu, Crivella".

Outro embate se deu quando Freixo perguntou por que o adversário teve contas em paraíso fiscal. "Freixo quer ser meu biógrafo. Ele muda toda a história. Se o processo foi arquivado foi porque não tinha prova. Defensor de direitos humanos não pode condenar sem prova. Você só pode me acusar de empobrecimento ilícito. Doei R$ 20 milhões de direitos autorais para os pobres", respondeu.

Ao que Freixo respondeu: "Não é acusação, é uma pergunta. Porque um pastor tem empresa em paraíso fiscal?". E lembrou ainda que Crivella fez tratamento dental e cobrou R$ 65 mil reais dos cofres públicos "para usar esse sorriso largo". "Não é crime. Mas não é ético".

Crivella chegou à Globo às 21h45, uma hora depois de seu adversário, mantendo suspense sobre sua presença no debate. Nos últimos dias, ele vinha cancelando participação em sabatinas e entrevistas. Avisou que não participaria de programa da CBN a nove minutos de a entrevista ir ao ar.

Crivella entrou no estúdio da Globo ao som de "ooooô Crivella chegou / acabou o caô", paródia do jingle de campanha de Indio da Costa (PSD), adversário derrotado no primeiro turno e que anunciou apoio ao bispo licenciado da Igreja Universal. O candidato do PSOL foi saudado aos gritos de "Uh! É o Freixo!".

Cada candidato foi acompanhado de dois assessores. A plateia de Freixo ficou à direita da apresentadora Ana Paula Araújo. Entre eles, o ator Gregório Duvivier e o vereador eleito Tarcísio Mota. À esquerda, os apoiadores de Crivella.

"O debate foi como eu esperava: do meu lado, propostas", afirmou Crivella, após o encontro. "A estratégia dele é própria dos desesperados".

Freixo disse que não perdeu as esperanças. "O último debate do primeiro turno definiu o primeiro turno. Isso pode acontecer de novo. A diferença entre mim e o Crivella foi menor do que as pesquisas previam (no primeiro turno), e talvez agora essa diferença também esteja menor." (Wilson Tosta, Fabio Grellet e Clarissa Thomé)