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Delatores denunciam governador de SC e PSD

Vitor Tavares

São Paulo, 23/04/2017

23/04/2017 09h50

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, teria sido o responsável por pedir cerca de R$ 13 milhões em caixa 2 à Odebrecht, desde 2010, para campanhas estaduais do PSD, o seu partido. As informações estão no acordo de delação firmado pelos executivos da empreiteira Fernando Reis e Paulo Roberto Welzel. "[Ele] estava sempre renovando os pedidos", afirmou Reis em um dos vídeos gravados pela Procuradoria-Geral da República. Os pagamentos teriam sido feitos sob o codinome "Ovo" e, mais tarde, "Galego".

Em seu relato, Reis afirma que, em 2010, foi procurado pelo então senador e candidato ao governo Colombo para pagamento de doação à sua campanha. Naquele ano, a empreiteira teria pagado R$ 2 milhões em caixa 2 ao atual governador.

Reis afirma que "apesar de não ter havido nenhum ajuste sobre qual seria a contrapartida do senador caso se tornasse governador, Colombo mostrou-se favorável à privatização da Companhia de Águas e Saneamento (Casan), o que era de interesse da Odebrecht Ambiental".

Colombo teria também apresentado um programa de governo que incentivava a participação privada no setor elétrico, com venda de parte da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), e no setor de logística.

Ainda de acordo com o depoimento de Reis, o encontro para tratar da doação teria sido intermediado por Ênio Branco e aconteceu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ênio é diretor de novos negócios na Celesc. Para o delator, o pedido teria sido "expressamente de caixa 2", já que Colombo não queria ter sua campanha vinculada à Odebrecht como doadora oficial.

O outro delator, Paulo Robero Welzel, subordinado a Reis, confirmou que operacionalizou o pagamento acordado e que, por orientação de Colombo, o valor foi entregue a José Carlos Oneda, atual diretor de finanças na Celesc.

Novos pedidos. Reis narra diversos encontros com Colombo na sede do governo de Santa Catarina, o Palácio do Agronômico, em Florianópolis. Em um deles, em 2011, o governador teria pedido R$ 3 milhões para o então candidato à Prefeitura de Florianópolis César Souza Júnior (PSD), que foi eleito.

Já em 2014, Colombo voltou a se encontrar com o executivo da Odebrecht, prometendo reformas administrativas em Santa Catarina e voltando a usar o leilão da Casan como moeda de troca. Os delatores da Odebrecht afirmam ter pagado R$ 5 milhões em caixa 2 ao político durante a campanha daquele ano.

Na reta final das eleições de 2014, um novo pedido de doação: dessa vez de R$ 2 milhões, feita pelo secretário da Fazenda, Antonio Marcos Gavazzoni. O dinheiro foi entregue a André Agostini Moreno, apontado como primo do governador.

Gavazzoni pediu ainda doações de R$ 500 mil aos então candidatos a deputados estaduais Gelson Merisio (PSD), o "cunhado", e José Nei Ascari (PSD), o "herdeiro".

Os depoimentos dos delatores foram enviados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que irá decidir sobre a andamento da investigação contra o governador.

Leilão. Em 2011, já como governador, Colombo enviou uma PEC à Assembleia autorizando o leilão de 49% da Casan. Como a constituição de Santa Catarina previa referendo para venda de parte da companhia, o governador apresentou a PEC excluindo essa necessidade. O atual senador Dalírio Beber (PSDB) na época era presidente da companhia. Até então, a venda de ativos da Casan não foi realizada.

Ainda que os pagamentos tenham sido feitos, Fernando Reis deixou claro que Colombo e seus aliados não cumpriram os acordos com a construtora. "Pelo visto, nós não aprendemos e continuamos caindo reincidentemente nessa questão de acreditar nessa sedução."

Outro lado. O governo do Estado de Santa Catarina diz em nota que "a versão dos delatores da Odebrecht sobre contribuição para campanha que está sendo noticiada é absurda, carregada de mentiras, ódio e revanchismo". Segundo o texto, durante esta gestão, "não foi celebrado contrato, não foi feito nenhum pagamento nem foi concedida qualquer vantagem à empresa citada". "A Casan não teve uma única ação vendida a quem quer que seja e continua sendo inteiramente pública", continua. O governo afirma ainda que "está pronto para esclarecer todos os pontos de uma eventual investigação, se essa vier a ser instaurada".

Já Antonio Marcos Gavazzoni divulgou nota na qual diz que "há um equívoco do delator Paulo Welzel em relação ao meu nome". O próprio Welzel, como é possível verificar no vídeo de sua delação, faz questão de dizer que houve equívoco, que nunca me conheceu e pede correção do depoimento. O que digo pode ser verificado no vídeo de sua delação". Ele aponta ainda contradição entre as falas dos delatores Fernando Reis e Welzel sobre o mesmo evento. "Não há contra mim nenhum processo instaurado. Acredito que, como esta, haja outras contradições e erros nas delações em relação a outras pessoas. É fundamental o discernimento neste momento conturbado da nossa conjuntura política", conclui. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.