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Membro da cúpula do PCC será julgado nesta quarta-feira por duplo assassinato

Pichação em casa de conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida na Bahia faz referência ao PCC - Mário Bittencourt/UOL
Pichação em casa de conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida na Bahia faz referência ao PCC Imagem: Mário Bittencourt/UOL

Alexandre Hisayasu e Marco Antônio Carvalho

São Paulo

03/05/2017 09h01

Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, considerado integrante da alta cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), será julgado no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, nesta quarta-feira (3), sob acusação de ter ordenado a execução de dois desafetos da facção.

Preso na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Vida Loka terá a oportunidade de se defender por videoconferência; ele nega envolvimento nos crimes.

O homem é apontado pelo Ministério Público como um dos quadros mais importantes para o desenvolvimento das atividades criminosas do PCC e responde a outras acusações na Justiça.

No caso que será julgado nesta quarta, ele viu no mês passado o seu comparsa, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, ser condenado a 47 anos de prisão pelas mesmas acusações. A expectativa do MP é que esse também seja o destino de Vida Loka.

O suspeito, segundo a acusação, foi um dos responsáveis por ordenar o assassinato de Nilton Fabiano dos Santos, o Midas, e de Rogério Rodrigues dos Santos, o Digue, em 5 de outubro de 2004, no Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo.

Interceptações telefônicas mostram Vida Loka e Gegê discutindo a execução do crime de dentro da cadeia. Segundo a promotoria, o réu desta quarta nega que a voz do áudio citado seja dele, mas se negou a realizar um exame que comprovaria ou não essa ligação.

Os homicídios teriam sido motivados para vingar as mortes de traficantes conhecidos apenas como Micaratu e Zóio de Gato, braços do PCC na favela. Teria sido Nilton e Rogério os responsáveis pelos assassinatos, supostamente motivados por disputa por ponto de venda de drogas na região.

"Está evidenciado que os denunciados Abel e Rogério por meio de utilização de aparelhos telefones celulares que mantinham e utilizavam no interior das penitenciárias planejaram, comandaram e ordenaram, enquanto líderes do PCC, que outros integrantes da citada organização criminosa matassem as vítimas", descreveu a denúncia do MP que levou Gegê e Vida Loka ao júri.

Para cumprir a ordem da cúpula, a dupla do PCC, então, teria designado Carlos Antonio da Silva, o Balengo, e Cristiano Jeremias de Simone, o Cris do Mangue, irmão de Gegê. Balengo foi morto em 2008 pela Polícia Militar durante um confronto após um assalto a banco em Guarulhos, na Grande São Paulo. As interceptações mostram o contato entre os quatro para arquitetar e executar o plano criminoso.

A acusação sustenta ainda que, além da vingança, "os citados líderes do PCC buscavam as mortes das vítimas para mostrar força criminosa da facção visando a amedrontar a sociedade e também os criminosos rivais".

Condenação

O promotor Rogério Leão Zagallo disse à reportagem nesta terça-feira (2) acreditar que o Andrade será condenado. "São os mesmos fatos e as mesmas provas que levaram à condenação de Gegê. Abel, inclusive, realizou ainda mais contatos com pessoas que estavam fora da cadeia para executar o crime", disse.

Zagallo destacou a periculosidade do acusado. "Ele tem um poder muito grande no PCC, respondendo por outras mortes. A sua atuação se destacava principalmente no enfrentamento a facções inimigas", acrescentou.

O promotor atribuiu aos sucessivos recursos apresentados pela defesa a demora para que o julgamento ocorresse, quase 13 anos após o crime. "Eles foram a todas as instâncias possíveis, foram mais de dez recursos para cada réu", afirmou.

"Houve também outros adiamentos por conta da falta de estrutura para realização da videoconferência, já que não há um sistema único no país", concluiu.