Procuradoria apura se pagamento de publicidade ocultou doação a Aécio
A Procuradoria-Geral da República investiga a suspeita de que R$ 2 milhões repassados à Ediminas, proprietária do jornal "Hoje em Dia", em 2013, para pagamento de publicidade teria sido uma doação ao hoje senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Em 2014, o tucano foi candidato à Presidência da República.
Segundo informações da Procuradoria, a apuração corre sob segredo de Justiça no âmbito da Operação Lava Jato.
Documentos obtidos pela reportagem comprovam a venda de prédio em Belo Horizonte que, conforme delação do empresário Joesley Batista, da JBS, teria como objetivo o repasse de recursos ao senador afastado. Na transação, a J&F Investimentos, controladora da JBS, comprou da Ediminas S/A - Editora Gráfica Industrial de Minas Gerais o imóvel e um terreno ao lado da construção por R$ 17.354.824,75.
Ainda segundo Joesley, meses antes dessa operação, R$ 2,5 milhões dos cerca de R$ 60 milhões entregues a Aécio para a campanha presidencial de 2014 foram pagos por meio da compra antecipada de publicidade no jornal "Hoje em Dia".
Sob o número PR-MG-00030519/2016, a notícia-crime foi apresentada pelo deputado Rogério Correia (PT) em 2016. A representação "cogita se a finalidade de R$ 2 milhões, identificada na contabilidade da Andrade Gutierrez S/A a favor da empresa Ediminas S/A, tinha mesmo o propósito de saldar pagamentos de publicidade no ano de 2013".
"Naquele mesmo ano o Grupo Record vendeu o jornal Hoje em Dia (Ediminas) para o Grupo Bel (Flávio Jacques Carneiro). Entendemos oportuno considerar a hipótese de que o mencionado pagamento de R$ 2 milhões tenha sido realizado para dissimular uma doação da Andrade Gutierrez ao senador Aécio Neves que, deste modo, passou a figurar como sócio oculto do jornal Hoje em Dia após sua transferência ao Grupo Bel", diz o texto.
O Grupo Bel era o dono da Ediminas à época das supostas irregularidades. Hoje a empresa pertence ao ex-prefeito de Montes Claros Ruy Muniz. O ex-dono Flávio Jacques Carneiro é citado por Joesley como o intermediador da negociação envolvendo o prédio em que o jornal funcionava. A representação de Correia teve como base laudo da Polícia Federal, citado por reportagem da "Folha de S.Paulo" em 2016, que relata o repasse de R$ 2 milhões para a Ediminas.
Em nota, a Andrade Gutierrez "informa que segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado."
Também em nota, o senador afastado Aécio Neves disse que "a iniciativa (da representação) é de um conhecido adversário, com objetivo meramente político, sem, portanto, credibilidade". "O senador não tem qualquer informação sobre supostos repasses da Andrade Gutierrez para outras empresas. Todas as doações da Andrade Gutierrez às campanhas do senador estão devidamente registradas no TSE", informou o comunicado.
O dono da Ediminas à época do repasse não respondeu aos contatos feitos pela reportagem.
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