Topo

Governo paraense afasta 29 policiais envolvidos em chacina

Carlos Mendes, especial para a AE, colaboraram Leonencio Nossa e Carla Araújo

Belém

27/05/2017 09h17

O secretário de Segurança do Pará, o general aposentado Jeannot Jansen, determinou ontem o afastamento dos 29 policiais – 21 militares e 8 civis – envolvidos no confronto que resultou na morte de dez pessoas na fazenda Santa Lúcia, a 35 km da cidade de Pau D’arco, no sudeste do Estado. Eles não podem mais participar de qualquer missão policial e devem colaborar com as investigações para esclarecer os fatos.

Os policiais afirmam que cumpriam ordem judicial de prisão e de busca e apreensão de armas contra invasores da propriedade quando foram recebidos a tiros.

Segundo sobreviventes do grupo que ocupava a área, no entanto, os policiais já chegaram atirando. Eles prestaram depoimento sigiloso ao Ministério Público Estadual.

Peritos do Instituto Renato Chaves estiveram na fazenda e foram aos locais que eram ocupados pelo grupo. Segundo peritos, foram encontradas cápsulas deflagradas de projéteis calibre 380, que coincidem com o calibre de algumas armas que a polícia diz ter apreendido após o tiroteio. Eles também analisaram marcas de balas na vegetação do local.

A Ordem dos Advogados do Pará acusou os policiais de terem mexido no local do confronto, retirando os corpos antes da chegada dos peritos, o que prejudica as investigações.

O promotor militar Armando Brasil também criticou a atitude dos policiais. "Não podiam ter feito isso, deveriam ter esperado a perícia fazer seu trabalho, com as vítimas no local, para só depois haver a remoção", disse Brasil ao Estado. "Não posso aceitar que isso tenha acontecido. A cena dos crimes ficou inidônea, porque provas importantes podem ter desaparecido com a retirada dos corpos."

A Polícia Civil informou que tudo está sendo apurado, mas disse que não comentaria as acusações da OAB e de Brasil até que tudo fique esclarecido.

O corpo das dez vítimas foram enterrados ontem nas cidades de Redenção e Pau D’arco.

Integrantes de movimentos sociais, de direitos humanos e sindicatos compareceram e prestaram solidariedade às famílias. A Polícia Federal foi acionada para garantir a integridade física de oito pessoas que teriam sobrevivido durante o tiroteio na propriedade rural.

A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, defendeu ontem que a investigação do massacre em Pau D’arco seja controlada pelos órgãos públicos de Marabá, cidade a 426 quilômetros de distância que concentra delegacias especializadas em assassinatos no campo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Em entrevista ao Estado, ela demonstrou preocupação com a perícia do local da chacina. Os peritos de Marabá e Parauapebas só chegaram à área do crime depois que policiais do município tinham retirado os corpos. "Não podemos deixar que a coisa transcorra de qualquer maneira", afirmou a ministra. "A perícia tem de ser feita com muito empenho e dedicação."

Uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos foi enviada ao Pará para acompanhar as primeiras informações e levantamentos sobre o massacre. "A situação é vexatória, constrangedora e inadmissível. Em pleno século XXI, essa situação não pode ocorrer", disse Luislinda Valois. "Como ministra, como cidadã e como ser humano não posso aceitar o que ocorreu. Ninguém pode aceitar", disse.

A ministra afirmou que confia no trabalho de juízes e procuradores na elucidação e punição de culpados. Ao comentar sobre a onda de violência no campo, Luislinda Valois disse que é preciso desencadear ações concretas em todos os níveis de governo.