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Mãe que acorrentou filha viciada em crack teme represálias em Sorocaba

Garota de 17 anos foi acorrentada para não sair de casa - Divulgação/GCM
Garota de 17 anos foi acorrentada para não sair de casa Imagem: Divulgação/GCM

José Maria Tomazela

Sorocaba

15/06/2017 17h11

A auxiliar de cozinha Solange Bueno dos Santos, de 43 anos, que manteve a filha de 17 anos acorrentada durante 43 dias para impedir que usasse crack está com medo de sofrer represálias de traficantes do bairro onde mora, a Vila Nova Esperança, zona oeste de Sorocaba, interior de São Paulo.

Segundo a sobrinha de Solange, Jocimara Toste Bueno da Silva, de 19 anos, a mulher ouviu ameaças depois que os conselheiros tutelares e agentes da Guarda Civil Municipal estiveram na casa dela, na noite da terça-feira (13) e levaram a garota para um abrigo. "Tem gente ruim, que quer o mal dela. Alguém que fez a denúncia para os homens virem aqui agora fala coisas. É uma injustiça o que estão fazendo com minha tia", disse.

Solange usou uma corrente com cadeado para prender a filha pelo tornozelo, atando a outra ponta ao pé de um pesado guarda-roupa, no quarto da casa. Ela justificou o ato alegando que a filha saía para a rua para se drogar e estava devendo dinheiro para os traficantes, que já a teriam ameaçado de morte. Nesta quinta-feira (15), Solange saiu de casa muito cedo e, segundo os parentes, não avisou para onde iria. "Ela está assustada, não quer falar com ninguém", disse a sobrinha.

Embora negue que a prima fosse viciada em crack, Jocimara defendeu a atitude da tia. "No lugar dela eu faria a mesma coisa. Foi melhor segurar ela em casa do que deixar que acontecesse coisa pior."

Conforme a versão de Jocimara, a adolescente se tratava de "um problema na cabeça" e tinha surtos, por isso tomava remédios fortes. "Quando dava o surto, ela ficava violenta e quebrava tudo. Minha tia foi atrás de tratamento para ela, chegou a levar para o Caps (Centro de Atenção Psicossocial, que atende dependentes químicos), mas ninguém deu apoio. Ela cansou de ir atrás, aí resolveu fazer isso aí. Foi por amor, ela adora a filha."

Ainda segundo a parente, a prima não ficava acorrentada o tempo todo. "Minha tia só prendia quando precisava sair para trabalhar e quando ela estava muito agitada. Ela não está arrependida do que fez, só está assustada por ter sido denunciada como se fosse um bandido. Minha tia está muito triste sem a filha, mas espera que cuidem dela. Ela chorou a noite toda."

Um dos três irmãos da adolescente, N.B.S., de 16 anos, confirmou que a jovem era viciada em crack e não conseguia controlar o vício. "Ela parou com os estudos no ano passado por causa disso. Não tinha condições nem de ir para a escola, no bairro vizinho. Queria ficar na rua, só na droga. Se alguém fizesse alguma coisa, ela brigava, batia ou batiam nela." Ele e outros dois irmãos evitavam ficar na casa da mãe por causa dos surtos da garota. "Ela não sabia o que estava fazendo, então não tinha outro jeito senão aquilo (acorrentar)."

A família mora numa viela do Nova Esperança, um dos bairros mais violentos da cidade, dominado pelo tráfico. Na rua em que fica a entrada da viela funcionam conhecidas "biqueiras" - pontos de venda de drogas. Vizinhos e moradores próximos negam-se a comentar o caso da adolescente acorrentada. Quando a reportagem estava no local, homens passaram várias vezes de moto pela rua, acelerando os motores.