Defesa de Lula diz que procurou recibos 'nos pertences de dona Marisa'
"Foram realizadas diligências por familiares e colaboradores do ex-presidente Lula nos pertences de Dona Marisa, que sempre foi a locadora do imóvel. Os recibos foram encontrados e da mesma forma que chegaram até nós, foram apresentados no processo. Acreditamos que esses recibos expressam a verdade dos fatos, pois Dona Marisa sempre foi uma mulher íntegra e honesta. Os recibos estão assinados pelo proprietário do imóvel e dão quitação dos alugueis até dezembro de 2015, gerando a presunção legal de que os alugueis foram devidamente pagos", afirmou.
Os comprovantes apresentados pela defesa de Lula referem-se ao período de agosto de 2011 a novembro de 2015. Duas notas têm datas que não existem no calendário: 31 de junho e 31 de novembro.
"Pequenos erros em dois dos 26 recibos apresentados não retiram a força probatória dos documentos até porque são justificáveis. No recibo de agosto de 2014, por exemplo, é feito referência à data de 31 de junho de 2014 quando claramente buscou-se fazer referência à data de 31 de julho de 2014. Basta verificar que existe outro recibo com referência ao pagamento do aluguel de junho de 2014", afirmou o advogado.
"De qualquer forma, se houve qualquer dúvida ou questionamentos sobre esses recibos, que seja feita uma perícia, avaliando de quem é a assinatura, de quando os documentos foram feito, dentre outras coisas."
A defesa do engenheiro Glaucos da Costamarques, dono do imóvel, afirma que os recibos relativos a 2015 foram assinados no mesmo dia, no Hospital Sírio-Libanês, em novembro daquele ano. Segundo a defesa de Glaucos, os comprovantes foram assinados de uma só vez pelo engenheiro durante o período em que ele estava internado no Hospital. Os recibos, afirma, foram levados pelo contador João Muniz Leite, a pedido do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. A defesa de Glaucos avalia pedir ao Sírio-Libanês os registros de entrada de Roberto Teixeira.
O apartamento 121, ocupado por Lula, é um dos alicerces da segunda denúncia do Ministério Público Federal, do Paraná, contra o petista. O imóvel teria sido adquirido pela empreiteira Odebrecht, por meio de Glaucos - suposto laranja do ex-presidente no negócio -, como forma de propina a Lula, réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A Operação Lava Jato afirma que não houve pagamento de aluguel entre fevereiro de 2011 e novembro de 2015.
Na terça-feira, 26, Glaucos reafirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que é "verdadeiro" o depoimento que prestou ao juiz federal Sérgio Moro em 6 de setembro. Naquele dia, o engenheiro afirmou em interrogatório perante o juiz federal Sérgio Moro que não recebeu aluguéis pelo apartamento 121, mas que declarou à Receita que houve pagamento.
"Não recebi", disse taxativamente.
A Moro, o engenheiro afirmou que passou a receber o aluguel em 2015. "O Roberto Teixeira esteve lá no hospital me falando: 'olha, nós vamos pagar. De hoje em diante, nós vamos pagar o aluguel pra você'. Começaram a pagar. Começaram a pagar com um depósito na conta que eu passei, depósito no Santander. Mas não identificado. Eu acho que eles depositavam naqueles envelopes e aquele envelope tem um limite pra depósito. Acho que eles faziam em três. Então, aparecia lá, era, vamos supor, três mil, vamos por, não lembro quanto era o aluguel naquela época, três mil e trezentos, vamos supor. Eles punham um envelope de dois, um de mil e outro de oitocentos", narrou.
O juiz da Lava Jato questionou, no interrogatório, se Roberto Teixeira deu alguma explicação para começar a pagar.
"Eu não me recordo. Mas eu lembro que o José Carlos (Bumlai, pecuarista amigo de Lula) foi preso. Eu entrei no dia 22 de novembro no hospital. Dia 23 ele foi preso. Eu lembro da data por causa do hospital. E ele esteve lá no hospital no fim do mês de novembro", contou.
Defesas
A reportagem procurou o contador João Muniz Leite e a defesa de Roberto Teixeira, mas ainda não obteve retorno.
O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, declarou. "A responsabilidade sobre os documentos, e sobre a veracidade do que eles atestam, é da pessoa que os assinou. Não há questionamento sobre as assinaturas. A tentativa de transformar os recibos no foco principal da ação é uma clara demonstração de que nem o Ministério Público nem o juízo encontraram qualquer materialidade para sustentar as descabidas acusações formuladas contra Lula em relação aos contratos da Petrobras."
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