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Anglicanos conservam traços católicos

José Maria Mayrink

30/10/2017 09h29

Quem assiste a uma celebração, às 11 horas de domingo, na Paróquia da Ressurreição, na Vila Mariana, só é capaz de perceber que não se trata de uma missa católica, mas uma cerimônia evangélica, porque a oficiante é uma mulher.

A reverenda Carmen Kawano entra na igreja com paramentos idênticos aos de um padre, com túnica branca e estola verde da liturgia do dia, inclina-se diante do altar e inicia o ritual, acolitada por um sacerdote e um diácono também paramentados. A estrutura da celebração é idêntica, e os textos do Antigo e do Novo Testamento lidos antes da homilia são os mesmos do folheto das missas católicas. Um dos dois cantores que entoam hinos ao som do violão é d. Flávio Irala, bispo da Diocese Anglicana de São Paulo.

"O rei Henrique VIII, que fundou a Igreja Episcopal da Inglaterra em 1534, não tinha a intenção de se separar de Roma. Só rompeu com o papa porque não conseguiu o divórcio da primeira mulher, Catarina de Aragão, para se casar com Ana Bolena, dama de honra da rainha", observou d. Flávio. Sob a autoridade do monarca, a Igreja Anglicana introduziu várias mudanças, como a celebração em inglês, o divórcio e admissão de novas uniões. O rei inglês foi contemporâneo de Lutero, mas não se encontrou com ele. "Henrique XVIII chegou a escrever contra Lutero (antes de romper com o catolicismo)", diz Carmen.

Embora não deem ênfase ao reformador, como fazem os luteranos, os anglicanos estão participando das comemorações dos 500 anos da Reforma. A reverenda Carmen Kawano foi atuante, nos últimos meses, em discussões teológicas e celebrações ecumênicas, ao lado de padres católicos e pastores de outras denominações evangélicas. Formada em Letras e em Física, Carmen celebra cultos ou missas em japonês para filhos e netos de imigrantes.

D.Flávio Irala preside o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, que agrega católicos, ortodoxos e protestantes. Não buscam a união sob uma autoridade, mas a unidade em torno de ideais.

Os anglicanos são 80 milhões em 110 países. No Brasil, são de 30 mil a 50 mil, com nove dioceses e um distrito missionário. Em São Paulo, é expressiva a comunidade anglicana japonesa, que se desenvolveu em colônias agrícolas e no Vale do Ribeira, em São Paulo. A Igreja da Inglaterra chegou ao País no início do século 19, mas só dava assistência a ingleses, sem aval para erguer templos. A autonomia só foi obtida em 1965, quando adotou o nome de Igreja Episcopal do Brasil e, a partir de 1990, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.