'Ele matou a mim também', diz mãe de vítima de atropelador
"Eu quero justiça, porque ele, Antônio Anaquim, que atropelou as pessoas que passavam pelo calçadão tirou minha filha de mim. Minha filha está lá na cova, e ele está onde? Está solto! Eu quero que ele pague, porque minha filha não volta mais. A minha dor vai ser eterna. Como é que eu vou voltar para minha casa? Tudo lá tem o jeitinho dela. Eu estou destruída. Ele não matou só ela, ele matou a mim também. Vou buscar o motorista onde ele estiver. Quero justiça em nome da minha filha", afirmou, chorando, a mãe da bebê, Niedja da Silva Araújo, de 23 anos.
Durante o curto trajeto entre a capela 3 do cemitério, onde desde a manhã ocorreu o velório, e o local do sepultamento, amigos e familiares gritaram em coro "justiça". "É inexplicável como um motorista pode dirigir com a carteira suspensa", criticou o pai da bebê, o motorista de transporte escolar e Uber Darlan Rocha de Azevedo, de 27 anos.
Anaquim, de 41 anos, sofre de epilepsia e alegou ter tido uma crise que causou o acidente. Dirigindo um carro Hyundai HB20, invadiu a ciclovia e o calçadão e só parou sobre a areia, na Avenida Atlântica, na altura da Rua Figueiredo de Magalhães. Dezoito pessoas foram atingidas pelo veículo (oito continuam internadas). Maria Louize foi a única que morreu.
Anaquim estava com a carteira suspensa e não poderia dirigir. Ele é acusado de mentir quando, ao renovar a carteira de habilitação, não informou ao Departamento de Trânsito do Estado do Rio (Detran-RJ) que usava remédios para epilepsia.
O advogado Carlos Alberto do Nascimento, oferecido à família pela igreja Assembleia de Deus, da qual os pais de Maria Louize são seguidores, pretende ingressar com ação contra Anaquim na próxima segunda-feira. Ele pedirá que o motorista pague ao menos o tratamento médico da mãe do bebê, que também se feriu - ela foi ao enterro da filha em uma cadeira de rodas, por causa de ferimentos na perna. Depois, o advogado pretende pedir que o atropelador indenize a família da bebê.
Nascimento afirma que o motorista deve responder por homicídio doloso (intencional), e não culposo (sem intenção), como classificou a Polícia Civil. Na visão do advogado, Anaquim assumiu o risco de causar acidentes ao mentir para o Detran-RJ e dirigir com a carteira suspensa.
"Vamos acompanhar o inquérito, porque não acho que seja correto que ele seja indiciado por homicídio culposo. Ele deveria ao menos responder pelo dolo eventual, já que mentiu para o Detran quando disse que não tinha doença nenhuma, forneceu informações falsas em um documento público e assumiu o risco, ao dirigir com a carteira suspensa", afirmou. A reportagem não localizou a defesa de Anaquim.
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