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ONG indica alta de 39% no desmatamento da Amazônia; Ministério contesta

Giovana Girardi

24/08/2018 21h38

Depois de apresentar uma queda no ano passado, o desmatamento na Amazônia pode ter voltado a subir neste ano. É o que indica um monitoramento paralelo ao do governo feito pela ONG Imazon, que divulga mês a mês alertas do que pode estar sendo perdido de vegetação. Segundo a organização, esses alertas subiram 39% de agosto do ano passado a julho deste ano, na comparação com o período de agosto de 2016 a julho de 2017.

Por ser feito com uma metodologia diferente da usada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - órgão responsável pelo Prodes, o sistema que fornece os dados oficiais de desmatamento na Amazônia -, o monitoramento do Imazon não costumava ser comentado pelo governo. Mas, em geral, ele aponta uma tendência do que está acontecendo no campo.

No ano passado, por exemplo, o Imazon indicou que o desmatamento tinha caído 21%, dado que chegou a ser comemorado pelo então ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho. Em outubro o governo anunciou que de fato houve uma queda - de 16%.

O valor depois foi corrigido para uma redução real de 12%. A perda total da Amazônia entre agosto de 2016 e julho de 2017 foi de 6.947 km², contra 7.893 km² no período anterior.

Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente disse desta vez que os dados do Imazon e do Inpe indicam tendência completamente diferente. Para isso, citou os números dos três últimos anos dos dois sistemas. Em 2015, o Imazon apontou uma alta de 215% e o valor oficial foi de +24%; em 2016, a ONG mostrou alta de 97%, mas a oficial foi de 27%; em 2017, ambos mostram queda, mas foi 21% contra 12%, respectivamente.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro Edson Duarte afirmou que dados diários de monitoramento fornecidos pelo Inpe indicam que as taxas de desmatamento devem se manter. "Eles mostram que estamos mantendo os mesmos níveis de controle em relação ao observado no ano passado. A taxa oficial será revelada quando o Inpe consolidar esses dados, mas pelo que já sabemos serão completamente diferentes dos números apresentados pelo Imazon", declarou.

"Nossos alertas são uma espécie de termômetro do que está acontecendo. Hoje temos um sistema mais refinado, com resoluções compatíveis com as do Prodes, o que nos dá um nível de certeza maior", rebateu Carlos Souza Jr., um dos responsáveis pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.

De acordo com o sistema, que monitora uma área bem menor da Amazônia Legal do que faz o Inpe, houve o corte raso (quando a terra é desmatada totalmente) de 3.949 km² de agosto de 2017 a julho de 2018, contra 2.834 km² no período anterior.

A ONG também aponta uma alta de 224% na degradação da floresta, com atividades como exploração de madeira e queimadas.

Considerando a margem de erro, Souza diz que estima que a taxa de desmatamento oficial deste ano pode ficar em torno do valor do ano passado ou acima dos 7 mil km².

O pesquisador afirma que três regiões da Amazônia têm chamado atenção nos últimos anos: a do sudoeste do Amazonas, na fronteira com Acre e Rondônia, no entorno de Lábrea, onde está sendo feito o asfaltamento da BR-319; na fronteira do Amazonas com Mato Grosso, perto de Apuí; e no entorno da Terra do Meio, no Pará.

"Está ocorrendo um deslocamento em relação ao avanço que víamos antes só no Arco do Desmatamento, a fronteira mais atingida. Verdade que lá já foi muita coisa destruída, mas agora vemos que está avançando para áreas mais internas da Amazônia. É importante segurar agora, para que essa cultura não se consolide."

Metas

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 24, duas semanas depois de o governo federal ter anunciado que já conseguiu cumprir suas metas de emissões de gases de efeito estufa previstas para 2020.

O feito teria sido possível, de acordo com o Meio Ambiente, por causa da queda do desmatamento observada no ano passado.

Um trabalho científico publicado em julho na revista Nature Climate Change, porém, trouxe conclusões na direção oposta.

Pesquisadores da UFRJ e da UFMG calcularam que se o desmatamento da Amazônia e do Cerrado seguir a tendência de alta observada nos últimos cinco anos, piorando a contribuição do Brasil ao aquecimento global, outros setores do País terão de compensar essas emissões de gás carbônico. E o custo para a economia pode ser de pelo menos US$ 2 trilhões.