Topo

Haddad: com Bolsonaro, 'pode haver escalada armamentista' na América Latina

Roberta Pennafort

Rio

23/10/2018 15h24

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira, 23, que há risco de confronto bélico no continente se Jair Bolsonaro (PSL) se eleger, diante de suas declarações sobre a situação na Venezuela. Respondendo a uma pergunta de um jornalista argentino, ele afirmou também que é preocupante a possibilidade de o País ceder aos Estados Unidos a base de Alcântara, no Maranhão, da Força Aérea Brasileira, num governo do PSL.

"Pode haver uma escalada armamentista na região. Os vizinhos já estão em alerta, todo mundo está prestando atenção ao Brasil", declarou Haddad, em entrevista no Rio. "Isso pode fragilizar a posição do Brasil, que não tem visão imperialista com os vizinhos. Sempre foi de cooperação. A gente deveria estar pensando em como ajudar a Venezuela a sair da crise, não em escolher lado e derrubar governos".

Haddad lembrou que o País não tem tradição de se envolver em conflitos armados. "Eu recebi um vídeo de um discurso supostamente do filho do Bolsonaro, que precisa ser checado, dizendo que uma das primeiras providências seria derrubar o governo Maduro. Pela hostilidade que ele manifesta em relação a esse vizinho em particular, pode ter algum fundamento. Lembrando que o Brasil está há 140 anos sem conflitos com vizinhos, o último foi no século 19. A ideia de colocar base americana no Brasil também é fonte de preocupação. Bolsonaro declarou que a base de Alcântara seria cedida aos americanos."

Ao comentar o engano sobre o general Hamilton Mourão, vice do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), acusado pelo compositor Geraldo Azevedo num show de tê-lo torturado durante a ditadura militar, o candidato do PT disse que se solidariza com artista e que Mourão defendeu o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Citando Azevedo, ele afirmou mais cedo, em sabatina no jornal "O Globo", que o general era torturador. O compositor já se retratou e divulgou nota pedindo desculpas "pelo transtorno causado pelo equívoco".

"Eu dei a público uma informação que recebi de fonte fidedigna. Geraldo Azevedo realmente foi torturado e realmente disse que foi pelo Mourão", disse, à tarde. "Eu me solidarizo com ele, todo mundo que foi torturado está sujeito a esse tipo de confusão. O esclarecimento também teve que se dar a público para que não haja dúvida. Isso não tira o fato de que o Mourão, quando passou para a reserva, disse com todas as letras que o Ustra, um torturador, era uma de suas referências. Tanto o Bolsonaro quanto o Mourão têm o Ustra como referência."

Haddad negou que a acusação a Mourão seja uma fake news de sua campanha. "O fato de eu ter dado a público e eu ter esclarecido é prova de boa fé. Eu não peguei empresário corrupto com dinheiro sujo pra soltar informações na internet. Eu falei com cara limpa e foi esclarecido. Geraldo Azevedo teve a clareza de esclarecer. O compositor foi vítima do regime que eles tanto apoiam. Ustra merece todo o repúdio da sociedade democrata do Brasil".

Segundo Haddad, a disseminação de notícias falsas diminuiu depois que veio à tona, por reportagem da Folha de S. Paulo, na semana passada, que houve compra de pacotes de disparos de mensagens por WhatsApp por empresários no primeiro turno contra sua candidatura e a favor do ex-capitão.

Ele afirmou também que Bolsonaro está difundindo mentiras sobre ele agora em sua propaganda gratuita na televisão. Entre elas, o fato de que Haddad seria ateu - ele é cristão batizado e casado na igreja. "Ele diz que eu sou ateu, sendo que me batizei e casei na igreja, batizei meus dois filhos. Sou cristão mas serei presidente dos cristãos, ateus, judeus, de todas as crenças. Mentira é coisa do diabo, como diz a Bíblia."

Um jornalista francês perguntou ao petista se uma vitória de Bolsonaro reforçaria a tese de que a esquerda morreu na América Latina. "O mundo está se movendo por ondas e existe uma onda conservadora hoje, não só na América Latina. A Europa viveu isso, os Estados Unidos, o Brexit é expressão disso no Reino Unido. A crise do neoliberalismo acarretou a onda conservadora e xenófoba a partir de 2008. Mas do jeito que ela veio, ela vai. Vai haver reversão desse quadro assim que as forças progressistas se rearticularem. Estou lutando para que seja no próximo domingo."