Topo

Deputado preso no Rio continua orientando seus asseclas, diz desembargador

O deputado estadual Paulo Melo (MDB) - Jotta de Mattos/PhotoPress
O deputado estadual Paulo Melo (MDB) Imagem: Jotta de Mattos/PhotoPress

Julia Affonso

São Paulo

14/11/2018 15h14

Na decisão que converteu as prisões temporárias em preventivas de parlamentares capturados na Operação Furna da Onça, o desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) afirmou que o deputado afastado Paulo Melo (MDB) prossegue orientando seus asseclas de dentro do presídio. O emedebista está preso desde novembro de 2017, denunciado na Operação Cadeia Velha, e foi alvo de um novo mandado de custódia da Furna da Onça.

A operação foi deflagrada no dia 8 de novembro. Paulo Melo teve sua prisão reiterada pelo desembargador na segunda-feira (12).

A Furna da Onça mira um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos da administração estadual que teria movimentado R$ 54,5 milhões. Os parlamentares investigados votariam de acordo com os interesses do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), na Alerj, e, em troca, receberiam "mensalinhos", que podiam chegar a R$ 900 mil, e o direito de nomear apadrinhados para cargos em órgãos como o Detran-RJ e a Fundação da Infância e a Adolescência (FIA), e em empresas terceirizadas.

Abel Gomes relatou que Paulo Melo e dois assessores adotam condutas no sentido de impedir a manutenção e colheita de elementos de convicção, com suas potenciais destruição e ocultação. Segundo o desembargador, a Polícia Federal apreendeu documentos que apontam para a atuação.

"Em documentos apreendidos na residência de Andreia Cardoso do Nascimento, assessora do deputado estadual Paulo César Melo de Sá, que por sua vez, mesmo preso há mais de um ano, de fato, pelo que se percebe, prossegue orientando seus asseclas de dentro do presídio onde se encontra, teria recebido orientações escritas para destruir elementos de convicção, apagando registros de conversas, e-mails, fotos em redes sociais, dentre outras ações", narra Abel Gomes.

Esses documentos manuscritos apresentam grafia em tudo semelhante a outros documentos já arrecadados com o irmão de Andreia e também assessor do deputado Paulo Melo, o investigado Fabio Cardoso do Nascimento. O Ministério Público Federal destaca ainda que ao final desse manuscrito com indicações para destruição e ocultar evidências consta a anotação: digitar esse papel, não circular com isso com minha letra não, por favor."

O desembargador registrou ainda que no mesmo documento há uma determinação para excluir mensagens eletrônicas trocadas com as pessoas de Alessandro, Mário, Vinícius, Guilherme, Paulo Afonso Trindade Jr. Segundo o Ministério Público, Alessandro, Mário e Vinicius têm vínculos societários e eleitorais com Paulo Melo.

Abel Gomes destacou ainda que há até mesmo indicações acerca do tratamento a ser dado aos registros de câmeras dos prédios onde se daria o suposto recebimento de propina.

"Sendo de se observar, que a obtenção de vídeos constantes de câmeras situadas em locais indicados como de negociatas em torno de entrega de valores em dinheiro, é um dos meios de arrecadação de provas que atualmente se torna de essencial utilização pelas autoridades da persecução", afirma Abel Gomes.

Defesas

A defesa de Paulo Melo informou que irá se manifestar nos autos.

O advogado Gabriel Miranda Moreira, que defende Fabio Cardoso do Nascimento e Andreia Cardoso do Nascimento afirmou: "A defesa ainda não teve acesso integralmente aos documentos que foram apreendidos e constam do relatório policial. De uma análise inicial, a defesa verifica que os documentos foram utilizados totalmente fora do contexto, não representando algo contemporâneo. São documentos que foram usados fora do contexto, não são ordens do deputado Paulo Melo. A defesa fará os esclarecimentos pelas vias adequadas."