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'Dói a ausência e a dúvida', diz mãe de desaparecido

Pablo Pereira, enviado especial

Brumadinho

28/01/2019 08h12

"O que dói é a ausência e essa dúvida", disse Luiza Soares, de 75 anos, na manhã deste domingo, caminhando à beira do Rio Paraopeba, amarelado pela lama, ao lado da filha, Rosimeire. Na tragédia de Brumadinho, as duas moradoras da cidade vivem o drama de uma espera que pode não ter fim. Elas buscam notícias de Rogério Antônio dos Santos, de 58 anos, funcionário da administração da Vale, que desde sexta-feira está desaparecido na lama da barragem que se rompeu. Rogério e o irmão, Ronaldo Aparecido dos Santos, de 54 anos, motorista de caminhão, são filhos de Luiza. Ambos estavam no local do desastre. Ronaldo, escapou. O irmão não teve a mesma sorte.

Mãe de seis filhos, criados à beira do rio que já não existe mais, Luiza se esforça para parecer forte e conta que eles, quando meninos, costumavam pescar naquelas águas. "Dava para ver o cascalho no fundo", lembra Luiza.

"Eles traziam o peixe fresquinho pra fritar", conta, olhando o Paraopeba. "Olha isso, agora", aponta. Luiza tenta se distrair no caminho e telefona para Ronaldo, que mora do outro lado do rio. "Vem pra cá, meu filho."

Ronaldo tentou atender ao pedido da mãe. Mas a travessia pela ponte, único acesso entre os dois lados do rio, está proibida. Ronaldo foi barrado. Telefonou para a mãe avisando que não poderia se encontrar com ela.

A mesma dúvida sobre o que aconteceu com Rogério aterroriza a família de Wilson de Brito, genro de Luiza. Uma prima dele, a advogada Shirley de Brito, também está desaparecida. "É uma tragédia, moço", disse dona Luiza, amparada pela filha.

Na pequena pracinha do centro de Brumadinho, perto da ponte interditada pelos bombeiros, a arquiteta Sayuri Osawa andava de um lado para outro desorientada, acompanhada pelas sobrinhas Estela de Lima e Marina Yumi Osawa. O marido de Sayuri, Max Elias Medeiros, de 37 anos, técnico de qualidade da Vale, também não é visto desde o acidente. "Apareceu uma informação sobre ele, que estaria num hospital, mas não era verdade", conta o pai de Sayuri, Kenitiro Osawa, de 68 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.