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Mourão compara cadeia a masmorra e 'colônia' do crime

O vice-presidente Hamilton Mourão fala no Brazil Conference - Divulgação/Natalie Carroll/Confertence - 6.abr.2019
O vice-presidente Hamilton Mourão fala no Brazil Conference Imagem: Divulgação/Natalie Carroll/Confertence - 6.abr.2019

Beatriz Bulla e Ricardo Leopoldo

Em Cambridge (EUA)

08/04/2019 08h12

O vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão (PRTB), defendeu que o governo tenha um trabalho "persistente" na área social para resolver a criminalidade do país. Caso contrário, disse Mourão, o governo vai "enxugar gelo", mesmo com bons trabalhos na polícia. Ele ainda comparou as prisões a "masmorras" e "colônias" do crime.

"Com as pessoas vivendo amontoadas em favela, sem acesso a água, a luz, com o traficante colocando a televisão a cabo para eles, nós não vamos resolver o problema. Temos de agir de forma vigorosa na área social", afirmou Mourão, aplaudido pela plateia do Brazil Conference, evento organizado pelos estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do MIT.

O enfoque social para resolução dos problemas de segurança agradou à plateia em Harvard, mas segundo especialistas não parece dar o tom da gestão. As políticas de segurança apresentadas pelo governo Bolsonaro até o momento, por outro lado, têm se voltado à repressão de crimes e à flexibilização do porte de arma.

Mourão disse que o sistema prisional tem "masmorras" e, por isso, as prisões não conseguem atingir a finalidade esperada. "Como é que eu vou educar uma pessoa se jogo em uma prisão que é uma masmorra, sem ter atividade laboral, sem ter progressão educacional?", indagou, também sob aplausos.

A fala aconteceu no momento que foi questionado sobre as políticas repressivas na área da educação.

A comparação entre cadeias e masmorras foi feita anteriormente em um governo petista. Em 2015, em lançamento de dados sobre o sistema prisional, o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que os presídios brasileiros eram "masmorras medievais".

Neste domingo, antes do momento das perguntas, contudo, no pronunciamento inicial, o atual vice-presidente chegou a dizer que as prisões eram como "colônias de férias" do crime organizado - uma expressão que ele não repetiu no momento de perguntas e respostas.

Maioridade penal

Ele defendeu também a redução da maioridade penal e o endurecimento da legislação quanto à progressão de penas. "A nossa legislação penal, na minha visão e na visão do governo, é branda ainda. Criminoso tem de cumprir seu tempo na cadeia", disse Mourão.

Clima

Apesar dos aplausos ao falar de segurança, Mourão acabou confrontado verbalmente por estudantes de Harvard em outros temas. Ao sugerir que a alteração no clima mundial poderia ser um fenômeno natural e cíclico, a plateia de estudantes reagiu.

"Não sabemos se é uma daquelas curvas senoides [ou seja, apenas uma oscilação]", disse Mourão, quando foi interrompido por gritos de "não" da plateia. "Ou se [a mudança climática] veio para ficar", completou.

Durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro chegou a ameaçar retirar o Brasil do Acordo de Paris e filhos do presidente já ironizaram nas redes sociais o aquecimento global. Mourão, assim como Bolsonaro já fez, ressaltou que o País não deixará o acordo climático. "Vamos nos sujeitar aos ditames ali colocados."

Outro tema tratado na Brazil Conference foi o do desmate. Ele afirmou que o "arco do desmatamento" chegou ao limite. "Temos de fazer todo esforço para parar por aqui e temos de fazer todas as atividades necessárias para o reflorestamento. É dessa forma que o presidente (Jair) Bolsonaro vê esse problema."

Por outro lado, Mourão defendeu que os produtores rurais sejam levados em consideração no debate, pois "são os principais interessados em preservar a terra que eles têm". "Porque se elas forem atingidas em termos ambientais os agricultores perderão a capacidade de produzir." As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".