Manifestações contra Bolsonaro ganham caráter partidário
Pedro Venceslau
São Paulo
19/06/2021 08h37Atualizada em 19/06/2021 09h37
O atos de rua contra o presidente Jair Bolsonaro *sem partido) marcados para hoje nas capitais e em centenas de cidades do país ganharam caráter mais partidário e pró-Lula em relação às manifestações que ocorreram em maio. Esse movimento ficou explícito após o PT aderir oficialmente aos protestos de rua —no qual prometeu se juntar aos movimentos sociais "no apoio e participação"— e na possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ir ao evento em São Paulo.
Em publicação nas redes sociais, Lula cogitou ir ao protesto. "Eu ainda não sei se vou na manifestação. Tenho uma preocupação. Não quero transformar um ato político em um ato eleitoral. Não quero os meios de comunicação explorando isso como o Lula se apropriando de uma manifestação convocada pela sociedade brasileira", escreveu o ex-presidente.
Outros partidos de esquerda apoiam os atos, entre eles PSOL e PCdoB. A manifestação de hoje acontece ainda em meio à pandemia de covid-19 e no momento em que o país se aproxima das 500 mil mortes pela doença. Na manifestação de maio, o receio de gerar aglomerações dividiu a oposição, ainda que os organizadores recomendassem o uso de máscara e álcool em gel.
A possibilidade de o petista ir à manifestação gerou reações dos demais líderes do movimento. Os atos foram convocados pela Frente Brasil Popular, Povo Sem Medo, Coalizão Negra por Direitos e por seis centrais sindicais. Segundo os organizadores, estão confirmados atos em mais de 400 cidades dos 27 Estados.
"Nós não vamos bloqueá-lo, mas a presença do Lula não pegaria bem", disse o sindicalista Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e presidente do PDT paulistano. Aliado de Ciro Gomes, que é pré-candidato do PDT à Presidência, ele afirmou que seu partido não aderiu institucionalmente aos atos, mas liberou a militância a participar. Ciro não estará presente.
"Acho que a decisão mais correta seria o Lula não ir. A ida do ex-presidente causaria uma aglomeração inevitável. Seria ruim. Ele contribuiria mais não indo", disse ao Estadão o líder da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim, que faz parte do comitê dos atos.
Procurada, a assessoria do ex-presidente Lula deixou em aberto se ele iria ou não ao evento na Avenida Paulista, o que deixou os organizadores apreensivos. Se o petista decidir ir de última hora, isso causaria dificuldades logísticas para os organizadores, já que não foi programado nenhum esquema especial de segurança para recebê-lo. Ou seja: haveria aglomeração e risco de segurança.
Custo
As manifestações de hoje contra o presidente Jair Bolsonaro custarão R$ 381 mil aos cofres públicos paulistas. Os recursos serão gastos na mobilização de um esquema de segurança, segundo apurou o Estadão. Somente no maior ato, na avenida Paulista, em São Paulo, a Polícia Militar (PM) vai mobilizar cerca de 400 policiais, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Foram escalados policiais do batalhão territorial e de unidades especializadas, com aproximadamente 120 viaturas, duas aeronaves e seis drones. Outras unidades da PM permanecerão de prontidão e, se necessário, serão deslocadas para prestar apoio. A Secretaria informou que a PM também estará mobilizada para garantir a segurança em manifestações em outras regiões do Estado.
A decisão do PT de intensificar a convocação para os atos contra Bolsonaro e a possibilidade de Lula estar presente geraram reações de outros setores que também fazem oposição ao presidente. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, grupos que pediram o impeachment de Dilma Rousseff e agora fazem estão contra o governo federal, optaram por não participar.
Os líderes dos partidos do centro que tentam se unir em uma frente contra Bolsonaro e a polarização também foram contra. O PSDB rechaçou a adesão do PT às convocações. "É o PT aceitando a briga de rua do bolsonarismo e promovendo aglomeração em momento inoportuno em razão da pandemia", afirmou o deputado Paulo Abi Ackel (MG), vice líder do PSDB na Câmara.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".