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Ucrânia refaz convite a Lula para ver as 'reais razões' da guerra em Kiev

São Paulo

18/04/2023 15h07

Após a repercussão das recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Guerra na Ucrânia durante viagem à China e Emirados Árabes, além da recepção formal em Brasília ao chanceler russo, Serguei Lavrov, o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, refez o convite para que o presidente brasileiro vá a Kiev de modo a "compreender as reais razões" da guerra e a "essência da agressão russa".

O pedido da Ucrânia foi reforçado depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, nesta segunda-feira, 17, formalizar convite do presidente russo, Vladimir Putin, para Lula participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF), previsto para junho.

Em entrevista à jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que Lula recebeu o convite. "O presidente recebeu o ministro Lavrov para uma visita de cortesia. O ministro Lavrov foi portador de uma carta de Putin para Lula para ir à Rússia para o fórum econômico de São Petersburgo", disse.

A tensão sobre o tema cresceu após o ministro e Lula terem recebido a visita de uma comitiva russa liderada pelo chanceler nesta segunda. Lavrov destacou que Brasil e Rússia partilham da mesma visão sobre a guerra. Vieira, por sua vez, em resposta aos comentários do governo dos EUA, disse não concordar "de forma alguma" que o País estaria alinhado aos russos, destacando que as duas nações possuem uma "história em comum".

'Ucrânia não precisa ser convencida de nada'

Em uma publicação no Facebook, Nikolenko declarou que a abordagem que coloca vítima e agressor na mesma escala não corresponde à situação real. "A Ucrânia não precisa ser convencida de nada", afirmou. "A guerra de agressão está sendo travada em solo ucraniano e está causando sofrimento e destruição incalculáveis. Mais do que ninguém no mundo, buscamos o fim da agressão russa com base na Fórmula da Paz proposta pelo presidente Zelenski", destacou.

O porta-voz ressaltou ainda que a Ucrânia "observa com interesse" os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para acabar com a guerra, e reforçou o convite para que Lula visitasse o país "a fim de compreender as reais razões e a essência da agressão russa e suas consequências para a segurança global".

No início de março, Lula conversou com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski por videoconferência. Na ocasião, se ofereceu para auxiliar na mediação do conflito e foi convidado a visitar o país.

Reações

Quando ainda estava em solo chinês, Lula afirmou em coletiva de imprensa que era preciso que os Estados Unidos parassem de "incentivar a guerra". A mesma opinião foi proferida em relação à União Europeia. Tanto a reação da Casa Branca quanto da UE foram duras, e o porta-voz de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que o petista estava "reproduzindo propaganda russa e chinesa" com uma abordagem "profundamente problemática".

Já o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, disse que as ações do bloco não alimentaram o conflito. "A verdade é que a Ucrânia é vítima de uma agressão ilegal que viola a Carta das Nações Unidas", disse.

Em outro momento, já em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, Lula voltou a comentar sobre o conflito e repetiu o argumento que proferiu em maio de 2022, ao atribuir a responsabilidade do confronto entre Rússia e Ucrânia a ambos os países. "A decisão da guerra foi tomada por dois países", disse. O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, por sua vez, divulgou um comunicado pedindo para o Brasil "não traia" as esperanças dos brasileiros descendentes de ucranianos que moram no País.

Ao Estadão, ele comentou que Lula foi ingênuo em suas declarações. "Se ele quer ser imparcial e lutar pela paz na Ucrânia, ele tem de ter menos ingenuidade em relação à Rússia porque é um país que, tradicionalmente, não respeita acordos internacionais", comentou.

Esta não é a primeira vez que o presidente diz falas polêmicas em relação à guerra. Mesmo antes de vencer as eleições em outubro do ano passado, o petista fez inúmeras declarações sobre o embate.