'PR já assinou a p* do decreto?': veja mensagens sobre tentativa de golpe

Um relatório da Polícia Federal divulgado na terça-feira (26) revelou detalhes do planejamento de um golpe de Estado em 2022 que incluía o assassinato do então presidente eleito Lula (PT), seu vice Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Veja as mensagens trocadas pelos envolvidos no caso:

'Presidente imbrochável já assinou o decreto?'

Policial e militar da reserva conversaram sobre decreto golpista. Em 21 de dezembro, o policial federal Marcelo Bormevet (na época cedido à Presidência da República), pergunta ao militar da reserva Giancarlo Rodrigues (cedido à Abin) se o "presidente imbrochável", em relação a uma fala de Bolsonaro na celebração de 7 de setembro, já assinou o decreto golpista. Ambos demonstram frustração com a falta de ação do presidente.

'Lula não sobe a rampa'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

Um dos documentos detalhava um organograma da "Operação 142". Encontrado na sede do PL, o documento recebeu esse nome com base em uma interpretação distorcida do artigo 142 da Constituição Federal, que detalha o papel das Forças Armadas.

Objetivo da operação estava escrito no papel: "Lula não sobe a rampa", em referência à cerimônia de posse no dia 1º de janeiro de 2023. O esquema estava na mesa do coronel Flávio Botelho Pelegrino, assessor do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.

'Frouxidão, covardia'

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Imagem: Polícia Federal
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Mensagens revelaram que o plano não seguiria adiante porque não teve adesão de militares da alta cúpula. No dia 21 de dezembro de 2022, o coronel Dougmar Mercês encaminhou para o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, o militar indiciado que desmaiou quando a PF bateu em sua porta, uma mensagem de outro grupo do WhatsApp afirmando que nada aconteceria, pois o Comandante do Exército Brasileiro, general Freire Gomes, e o Alto Comando de Exército (ACE) não teriam concordado com o golpe. "É muita irresponsabilidade, muita froxidão, covardia, cagaço!", escreveu Almeida.

'Manda prender todo mundo do TSE e do STF'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

O coronel do Exército é investigado como um dos autores de cartas golpistas que incitavam a alta cúpula militar a aderir ao golpe. Em troca de mensagens com o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto antes do segundo turno, em 16 de outubro, Fabrício Moreira de Bastos disse que "já passou a hora de Bolsonaro fazer alguma coisa" e questiona se a situação política do Brasil de 2022 era tão diferente a de 1964, quando houve o golpe militar.

Ele ainda se revolta com a aparente inércia do presidente. Disse que "o cara tem as FA [Forças Armadas] nas mãos" e pede a prisão "de todo mundo do TSE e do STF".

'Ele não tem o ACE com ele?'

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Imagem: Polícia Federal/Reprodução
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Na continuação da mesma conversa, Corrêa Neto diz que Bolsonaro não mandaria prender os ministros do TSE e do STF porque não tem apoio irrestrito dos militares para uma ruptura democrática. Bastos então questiona se o presidente "não tem o ACE [Alto Comando do Exército] com ele" e Corrêa Neto responde que "para isso não".

'01 sabe disso?'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

Conversa entre Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e tenente-coronel cita ex-presidente como '01'. No diálogo ocorrido em 26 de novembro Cavaliere questiona se Bolsonaro saberia das negociações em torno do conteúdo da carta golpista. Cid confirma que sim.

'Coisas estão sendo construídas'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal
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Em outra troca de mensagens entre Corrêa Neto e Cid, o primeiro pressiona a respeito de notícias sobre a evolução do golpe. Ele pergunta se "a conversa foi boa" entre o general Estevam Cals Theophilo e o então presidente. O diálogo ocorreu em 9 de dezembro.

Cid diz que o encontro ainda não tinha acabado, enquanto Corrêa Neto demonstra ansiedade em relação a 12 de dezembro, data da diplomação de Lula. Mauro Cid, enfim, aponta que Theophilo concordou em executar o plano golpista "desde que o PR (presidente da República) assine" o decreto.

'Vamos oferecer a cabeça dele aos leões'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

Ailton Barros, militar da reserva preso em 2023 por falsificação de dados de vacinação contra a covid-19, trocou mensagens com Braga Netto em 14 de dezembro. Ambos culpam o Comandante do Exército Brasileiro, general Freire Gomes, pelo golpe não ter ocorrido até aquele momento, já que Gomes teria permanecido relutante a participar. Braga Netto e Barros ainda concordam em "oferecer a cabeça dele aos leões".

'Criação do gabinete de crise'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal
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Em um grupo de militares das Forças Especiais do Exército, Fabrício Moreira de Bastos ofereceu sugestões para um plano de ação golpista em 28 de novembro. Entre elas estava a criação de um "gabinete de crise", a articulação política que deveria acontecer entre o Exército e o Congresso Nacional e o tratamento de Alexandre de Moraes como "centro de gravidade".

'O presidente foi abandonado'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

Em 16 de dezembro, militares trocam mensagens e falam que o presidente foi "abandonado". No dia seguinte àquele em que o golpe deveria ter ocorrido, o coronel Gustavo Gomes envia uma mensagem encaminhada ao tenente-coronel Sérgio Cavaliere que sinaliza que a FAB (Força Aérea Brasileira) "afrouxou" e que o Exército Brasileiro [EB] também não apoiava integralmente o plano e havia "abandonado o presidente". Gomes diz que recebeu a mensagem de um amigo, mas sinalizou concordar com o conteúdo. Cavaliere ameaça "cortar cabeças" e indica que fuzileiros seguiam alinhados à cúpula golpista.

'Pode acontecer o mesmo que no Peru'

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Quatro dias depois, Cavaliere volta a conversar com Gomes e explica que o Alto Comando do Exército não apoiava o plano. Já a Marinha queria o suporte de alguma das Forças Armadas antes que pudesse agir.

Ele ainda relata hesitação da parte de Bolsonaro, que não queria "embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru". Pedro Castillo foi preso após ter tentado dissolver o Congresso. "Ele está com decreto pronto, ele assina e aí ninguém vai, ele vai preso. Ele não vai arriscar", reclama Cavaliere.

'Quero ver a hora que o Heleno for em cana'

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Na mesma conversa, Gomes demonstra frustração com a inércia em torno do plano do golpe de Estado. Tanto ele quanto Cavaliere então atacam os generais do Alto Comando, "evidenciando a participação dos generais Braga Netto e Augusto Heleno na trama golpista", destaca a PF. Heleno, à época, era o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência. "Ódio mortal desses velhos desgraçados", escreveu Cavaliere.

'Covardes'

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Em 4 de janeiro de 2023, após a posse de Lula, Cid e Cavaliere concordam que todos os envolvidos no plano foram "covardes", incluindo Bolsonaro. Cid diz que "em 64, ninguém precisou assinar nada", referindo-se ao golpe militar de 1964 que tirou o presidente João Goulart do cargo. "O primeiro que colocar os cães na rua leva o resto", opina Cavaliere, sinalizando que haveria apoio institucional e/ou popular a quem tivesse agido para impedir a posse de Lula.

A 'professora'

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Imagem: Reprodução/Polícia Federal

Em conversa entre o coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, e Mauro Cid, os dois militares monitoram o paradeiro de Alexandre de Moraes. O ministro do STF é chamado de "professora", em diálogo na véspera de Natal de 2022. Dois dias depois, outra captura de tela de conversas do ex-ajudante de ordens indicava que os envolvidos no golpe ainda não haviam desistido, por completo, da empreitada.

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