Bolsonaro e invasões do MST afastam governo do maior evento agro do País
"A Agrishow é uma grande feira brasileira. Eu fui desconvidado, mas desejo sucesso, que façam bons negócios, levem oportunidades aos produtores e, em um momento propício, no momento que for convidado, e se ainda for ministro, faço questão de estar lá", disse Fávaro à CNN Brasil.
A avaliação é que a possibilidade de ser cobrado sobre a posição de tolerância do governo em relação às invasões pode ter pesado na postura reticente do titular da pasta - que também é agropecuarista -, tanto ou mais que a presença de Bolsonaro no evento.
Até a tarde desta quinta-feira, 27, o presidente da Agrishow, Francisco Maturro, tentava demover o ministro da desistência, pessoalmente e por meio de interlocutores. Ele garantiu a Fávaro que apenas autoridades ocupariam o palco de abertura, o que incluía o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas excluiria Bolsonaro.
O episódio ocorre em meio às invasões deflagradas pelo MST desde o início do ano e com mais intensidade no chamado "Abril Vermelho", quando até uma área de pesquisas da Embrapa Semiárido foi invadida, em Pernambuco. Áreas produtivas da Suzano também foram ocupadas no Espírito Santo e só desocupadas nesta quinta, dez dias após a liminar de despejo dada pela Justiça.
Houve ainda a invasão de outras 11 fazendas durante este mês. Nas primeiras ações, enquanto o governo negociava com o MST - o movimento reivindicava a nomeação de simpatizantes em postos-chave do Incra e mais verbas para assentamentos, exigências que acabaram sendo atendidas -, Fávaro foi a única voz na gestão Lula a condenar contundentemente as invasões, chamando-as de "crimes" e "inaceitáveis".
A presença de Bolsonaro na abertura da Agrishow gerou mal-estar entre setores do governo federal. No início da semana, Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, anunciou à imprensa local que o ex-presidente aceitou o convite do sindicato para ir à feira. Bolsonaro deve acompanhar o governador na cerimônia. Junqueira é um crítico constante das invasões de terras e, durante a campanha do ano passado, organizou agendas de Bolsonaro na cidade.
Ao Estadão, ele lembrou que, quando presidente, Bolsonaro e seus ministros "entraram na feira a cavalo". Segundo ele, o agro deve muito ao ex-presidente porque ele trouxe a "paz no campo". "Neste ano, em quatro meses, já houve mais invasões do que em todo o último ano do Bolsonaro. Por isso os produtores são gratos. O MST é uma organização criminosa e é uma barbaridade o governo ceder à pressão deles, como vi nos jornais. É claro que o ministro poderia ser cobrado. A feira é aberta, muitos produtores rurais virão", afirmou.
Incômodo
Reservadamente, ruralistas ouvidos pela reportagem lembraram o incômodo com uma declaração do ministro da Agricultura, logo no início do governo. Em fevereiro, durante a 1ª Festa da Colheita da Soja Livre de Transgênico da Reforma Agrária, no Paraná, o ministro teria afirmado que o movimento é legítimo, sonha com a terra e é vítima de "preconceito" no País. A imprensa do MST registrou a fala de Fávaro: "Ver esse movimento tecnificado, cooperativista em que a agroindústria acontece, gera renda e gera dignidade entre homens e mulheres é simplesmente gratificante", teria dito em conversa com produtores, na presença da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Para representantes de setores ruralistas, o governo Lula não busca uma aproximação de fato com o agro, uma vez que não condena, nem reprime as ações do MST.
Ontem, Fávaro voltou a afirmar que a invasão de terra é grave tanto quanto a invasão do Congresso, referindo-se aos atos de 8 de janeiro. "Nosso posicionamento é o mesmo do presidente Lula. Vamos enfrentar como já enfrentamos o legítimo sonho da terra. Invasão da terra não pode ser concebível e é tão grave quanto invadir o Congresso Nacional. Invasão de terra tem de ser repelida no rigor da lei", afirmou em evento com 11 ex-ministros da Agricultura, em Brasília.
Nos últimos dias o presidente da Agrishow foi aconselhado a reforçar um convite ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva para solenidade de abertura. A sugestão teria sido desconsiderada porque Lula já havia confirmado presença nos eventos do 1.º de Maio, que terá como palco principal o Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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