Veja 3 efeitos imediatos da crise política no Brasil
Por Lucas Rizzi SÃO PAULO, 23 MAR (ANSA) - O Brasil vive atualmente uma das mais graves crises políticas de sua história, com uma presidente ameaçada pelo impeachment, seu antecessor denunciado por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica e líderes da Câmara e do Senado suspeitos de corrupção, assim como expoentes da oposição. Mas como o impasse em Brasília se refletirá na vida do país? Confira uma lista com os efeitos imediatos das turbulências que podem derrubar Dilma Rousseff: Economia - A crise tem como resultado instantâneo a paralisia econômica, que se reflete diretamente na vida da população, com aumento do desemprego, corrosão da renda, inflação e um pessimismo generalizado, afetando os investimentos. O Brasil já vinha de um 2015 para esquecer, com queda de 3,8% no Produto Interno Bruto (PIB), o pior resultado desde 1990. Para 2016, o mercado prevê retração superior a 3%, número que tende a crescer se o governo seguir engessado. "Para a situação se inverter, é preciso que se encaminhe a crise política. Assim vai haver um mínimo de espaço de recuperação. Do jeito que está, a economia não vai se recuperar", diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Segundo ele, também é preciso levar em conta os efeitos da Operação Lava Jato sobre as empresas brasileiras de construção pesada. "É como os americanos costumam fazer: eles punem os crimes e fazem as empresas sobreviverem. É uma coisa de bom senso, mas parece que o bom senso existe cada vez menos por aqui", ressalta. Belluzzo também afirma que a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil poderia ser um fator de aglutinação política - o que abriria margem para a retomada da economia -, se o Brasil não estivesse assistindo a um período "extraordinário". "Espero que essa minha expectativa se confirme porque ele [Lula] tem muita capacidade de negociação. Mas hoje estamos assistindo a um período extraordinário. Nunca vi nada desse tipo na minha vida em termos de violação dos cânones do Estado Democrático de Direito, até pelos próprios juízes. É algo muito preocupante", alerta.
Segundo o economista, uma eventual queda da presidente Dilma causaria euforia no setor financeiro em um primeiro momento, mas depois a situação se inverteria. "Os mercados, como de hábito, vão comemorar primeiro para chorar depois." Além disso, agências de rating rebaixaram a nota de crédito do Brasil nos últimos meses, e o atual impasse pode comprometer a credibilidade internacional do país e intimidar investidores.
Política externa - Como não poderia deixar de ser, a crise no Brasil já chama a atenção no exterior. Há algumas semanas a mídia internacional dá amplo espaço ao noticiário de Brasília, e o assunto começa a aparecer nas declarações de líderes de outros países. Nesta quarta-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse esperar que as turbulências no gigante sul-americano sejam resolvidas de maneira que ele "prospere e seja o líder mundial que é". Na Itália, o assunto foi parar no Parlamento, onde uma deputada afirmou que Lula é "alérgico à justiça" e um senador denunciou uma tentativa de criar "tensão e caos" por parte do poder Judiciário. "Dependendo de como a coisa andar, o Brasil vai começar a ser questionado nos fóruns internacionais e pelos parceiros políticos em razão de uma alegada ruptura democrática", explica Guilherme Casarões, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o especialista, o exterior pode enxergar como ruptura duas saídas opostas: o impeachment de Dilma, que o PT qualifica como "golpe", e a efetivação de Lula na Casa Civil, que poderia ser vista como um ataque à democracia de dentro do próprio governo. A primeira interpretação é adotada pelos aliados do Partido dos Trabalhadores na região, como a Unasul e o Mercosul. Este último, segundo a chanceler argentina, Susana Malcorra, poderia até realizar uma "desvinculação temporária" do Brasil em caso de impeachment. A segunda ainda é incipiente, mas a nomeação do ex-presidente para o Ministério tem sido vista de maneira negativa pela mídia. "O que eu vi sendo divulgado tem mais a ver com corrupção do que com ruptura da democracia. Algo como Lula embarcando em uma manobra imoral para se safar da justiça", ressalta Casarões. De qualquer maneira, a imagem da democracia brasileira fica abalada, prejudicando a inserção do país no cenário internacional. "O Brasil sempre teve esse atributo de ser uma nação grande, democrática. O que eu temo em termos de imagem internacional é que o Brasil comece a ser comparado a Rússia e Turquia", completa o professor.
Justiça - A crise política que ameaça derrubar Dilma também possui um forte componente jurídico, principalmente pela denúncia do ex-presidente Lula pelo Ministério Público de São Paulo, seguida pelo envio do caso ao juiz federal Sérgio Moro, pela nomeação do petista para a Casa Civil, pela divulgação de grampos e pela batalha de liminares e ações no Supremo para tentar impedir ou permitir a posse do ex-mandatário. Por conta disso, ambos os lados têm atacado o Judiciário, de acordo com a posição tomada. Aliados de Dilma criticam a publicação de escutas telefônicas envolvendo a presidente e denunciam um "vazamento seletivo" de informações para prejudicar o governo, enquanto alguns passaram a atacar o ministro do STF Teori Zavascki apenas por ele ter determinado que Moro enviasse o "caso Lula" para a Corte. "Na verdade, o que temos visto é que o Judiciário vai afirmar cada vez mais sua independência perante os demais poderes, e tudo o que vimos nos últimos dias faz com que esse sentimento fique mais forte", diz Adriana Straube, do escritório Straube Advogados. Segundo ela, as críticas do ex-presidente ao STF, a quem chamou de "acovardado", devem apurar cada vez mais esse sentimento de independência dentro do Supremo Tribunal Federal, onde os ministros são indicados pelos inquilinos do Palácio da Alvorada. "Acredito que isso será bem positivo. Mas o Judiciário precisa ter muito cuidado com toda essa comoção pública e essa vontade de demonstrar independência para que excessos não sejam cometidos", afirma a advogada.(ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Segundo ele, também é preciso levar em conta os efeitos da Operação Lava Jato sobre as empresas brasileiras de construção pesada. "É como os americanos costumam fazer: eles punem os crimes e fazem as empresas sobreviverem. É uma coisa de bom senso, mas parece que o bom senso existe cada vez menos por aqui", ressalta. Belluzzo também afirma que a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil poderia ser um fator de aglutinação política - o que abriria margem para a retomada da economia -, se o Brasil não estivesse assistindo a um período "extraordinário". "Espero que essa minha expectativa se confirme porque ele [Lula] tem muita capacidade de negociação. Mas hoje estamos assistindo a um período extraordinário. Nunca vi nada desse tipo na minha vida em termos de violação dos cânones do Estado Democrático de Direito, até pelos próprios juízes. É algo muito preocupante", alerta.
Segundo o economista, uma eventual queda da presidente Dilma causaria euforia no setor financeiro em um primeiro momento, mas depois a situação se inverteria. "Os mercados, como de hábito, vão comemorar primeiro para chorar depois." Além disso, agências de rating rebaixaram a nota de crédito do Brasil nos últimos meses, e o atual impasse pode comprometer a credibilidade internacional do país e intimidar investidores.
Política externa - Como não poderia deixar de ser, a crise no Brasil já chama a atenção no exterior. Há algumas semanas a mídia internacional dá amplo espaço ao noticiário de Brasília, e o assunto começa a aparecer nas declarações de líderes de outros países. Nesta quarta-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse esperar que as turbulências no gigante sul-americano sejam resolvidas de maneira que ele "prospere e seja o líder mundial que é". Na Itália, o assunto foi parar no Parlamento, onde uma deputada afirmou que Lula é "alérgico à justiça" e um senador denunciou uma tentativa de criar "tensão e caos" por parte do poder Judiciário. "Dependendo de como a coisa andar, o Brasil vai começar a ser questionado nos fóruns internacionais e pelos parceiros políticos em razão de uma alegada ruptura democrática", explica Guilherme Casarões, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o especialista, o exterior pode enxergar como ruptura duas saídas opostas: o impeachment de Dilma, que o PT qualifica como "golpe", e a efetivação de Lula na Casa Civil, que poderia ser vista como um ataque à democracia de dentro do próprio governo. A primeira interpretação é adotada pelos aliados do Partido dos Trabalhadores na região, como a Unasul e o Mercosul. Este último, segundo a chanceler argentina, Susana Malcorra, poderia até realizar uma "desvinculação temporária" do Brasil em caso de impeachment. A segunda ainda é incipiente, mas a nomeação do ex-presidente para o Ministério tem sido vista de maneira negativa pela mídia. "O que eu vi sendo divulgado tem mais a ver com corrupção do que com ruptura da democracia. Algo como Lula embarcando em uma manobra imoral para se safar da justiça", ressalta Casarões. De qualquer maneira, a imagem da democracia brasileira fica abalada, prejudicando a inserção do país no cenário internacional. "O Brasil sempre teve esse atributo de ser uma nação grande, democrática. O que eu temo em termos de imagem internacional é que o Brasil comece a ser comparado a Rússia e Turquia", completa o professor.
Justiça - A crise política que ameaça derrubar Dilma também possui um forte componente jurídico, principalmente pela denúncia do ex-presidente Lula pelo Ministério Público de São Paulo, seguida pelo envio do caso ao juiz federal Sérgio Moro, pela nomeação do petista para a Casa Civil, pela divulgação de grampos e pela batalha de liminares e ações no Supremo para tentar impedir ou permitir a posse do ex-mandatário. Por conta disso, ambos os lados têm atacado o Judiciário, de acordo com a posição tomada. Aliados de Dilma criticam a publicação de escutas telefônicas envolvendo a presidente e denunciam um "vazamento seletivo" de informações para prejudicar o governo, enquanto alguns passaram a atacar o ministro do STF Teori Zavascki apenas por ele ter determinado que Moro enviasse o "caso Lula" para a Corte. "Na verdade, o que temos visto é que o Judiciário vai afirmar cada vez mais sua independência perante os demais poderes, e tudo o que vimos nos últimos dias faz com que esse sentimento fique mais forte", diz Adriana Straube, do escritório Straube Advogados. Segundo ela, as críticas do ex-presidente ao STF, a quem chamou de "acovardado", devem apurar cada vez mais esse sentimento de independência dentro do Supremo Tribunal Federal, onde os ministros são indicados pelos inquilinos do Palácio da Alvorada. "Acredito que isso será bem positivo. Mas o Judiciário precisa ter muito cuidado com toda essa comoção pública e essa vontade de demonstrar independência para que excessos não sejam cometidos", afirma a advogada.(ANSA)
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