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2016, o ano que mudou a política brasileira

27/12/2016 18h12

SÃO PAULO, 27 DEZ (ANSA) - Por Mariane Ussier e Tatiana Girardi - Se 2016 teve algo de diferente dos outros anos no Brasil, foi o fato dos brasileiros terem presenciado alguns dos momentos que entrarão para a história da nação.   


O ano que começou com as turbulências políticas e econômicas do governo de Dilma Rousseff, termina com um cenário de tensão e problemas econômicos também para seu sucessor, Michel Temer.   


"O cenário político brasileiro vai ficar para a história como um grande momento, onde a gente vai olhar para trás e vai ver um marco. Existem algumas datas como 1964, o início da ditadura militar, 1968, com o endurecimento da ditadura, 1989, com as eleições do povo, depois o afastamento de Fernando Collor...   


2016 vai ficar para a história como um grande momento", diz à ANSA Gerson Moraes, professor de ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.   


Segundo Moraes, além do impeachment de Dilma, o ano teve "como protagonista, uma operação como a Lava Jato" e também foi um momento em que "muitos figurões, muitos coronéis foram julgados e encarcerados".   


O professor de Ciências Sociais da FGV, Marco Antonio Teixeira, também destaca que este foi um ano "atípico".   


"O ano de 2016 foi um ano bem conturbado. Foi um ano do ponto de vista politico completamente atípico, e que, sem dúvida alguma, toda a insegurança com a política existente, em função do afastamento da presidente, da posição do novo governo... até o momento tem sido um agravamento da crise econômica no país", ressalta à ANSA Teixeira.   


Apesar de todo o "caos" deste ano, os dois especialistas são unânimes em afirmar que essa situação de insegurança e de instabilidade ainda não chegou ao fim.   


"Tudo que aconteceu é uma história que ainda não foi finalizada, mas que teve em 2016 o seu ápice. Pode ser que, em 2017, a situação até piore, fique mais aguda, isso porque toda essa questão tem duas frentes: uma muito positiva porque você observa punições e, do outro lado, uma negativa com as decepções, porque parece que a política brasileira é sempre marcada pelo 'jeitinho', feita de forma estranha", ressalta Moraes.   


Já Teixeira arremata dizendo que "a impressão que a gente tem é que 2016 não vai acabar agora". Decadência do PT O processo de impeachment de Dilma, segundo a própria ex-presidente destacou em um evento em São Paulo, "teve início em 2014 quando um dia após minha reeleição, a oposição pediu a recontagem de votos". A saída da petista acabou sendo acarretada por dois principais fatores, segundo o especialista Teixeira, "do ponto de vista formal, foram as pedaladas ficais, mas do ponto de vista da opiniao pública, o que pesou para que existissem grandes manifestações foram os escândalos de corrupção". No entanto, o professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, acredita que "os latinos-americanos costumam só se importar com a corrupção quando o crescimento econômico é baixo". E relembra que o Partido dos Trabalhadores sobreviveu ao Mensalão, em 2005, porque "o contexto econômico era outro".   


Já no segundo semestre, o PT certificou sua derrota nas urnas das eleições municipais, onde perdeu importantes prefeituras. "A decadência do PT é um processo clássico de um partido que está no poder há muito tempo e que acaba sofrendo de um desgaste", ressalta Stuenkel. "O PT sai de 2016 como o grande vilão da história", diz Moraes à ANSA. Mas, o professor do Mackenzie ressalta que as delações premiadas da Odebrecht colocaram o PMDB em uma situação bem sombria também. "As últimas delações apontam o PMDB como uma agência inescrupulosa de corrupção, com pessoas completamente desinteressadas da política real, como lutar pelo bem comum", destaca.   


Os três especialistas concordam em um ponto: o PT só poderá voltar ao poder se houver uma renovação total no partido. "Renovação é indispensável. Sem renovação, a tendência é o partido se enfraquecer mais, principalmente quando o Lula sair de cena, o partido tende a perder importância", afirmou Moraes. Governo Temer Michel Temer assumiu a Presidência em setembro e desde então vem enfrentando grande instabilidade política e rupturas dentro do próprio governo. Segundo Stuenkel "Temer opera num ambiente de pouca aprovação pública, e ele é consciente disso". Outro obstáculo para o novo presidente e seu partido será enfrentar as delações da Odebrecht. Na primeira delação das 77 que foram entregues, importantes nomes do partido e do próprio Temer foram citados. "É um governo que está envolto em montes de escândalos, todos os seus ministros mais próximos, todos, estão envolvidos na Lava Jato e na lista da Odebrecht", completa Teixeira. O futuro é incerto e imprevisível, afirmam os especialistas, que já projetam alguns desfechos. Uma improvável renúncia de Temer ainda em 2016, haveria um cenário de eleições diretas. Outro possível cenário aconteceria se o presidente renunciasse, ou sofresse um processo de impeachment, já em 2017, o que acarretaria em eleições indiretas no Congresso. O professor Stuenkel considera ambas possibilidades mais prejudiciais do que vantajosas à política brasileira. "A estratégia do Temer é convencer a todos os autores políticos de que não há um alternativa. Ou seja, de que todas as alternativas são piores do que ele e que, portanto, apesar de um aprovação pública muito pequena, ele é o único que pode evitar caos total". O que acontecerá na política brasileira em 2017, e até o fim do governo em 2018, são apenas projeções. "Não dá pra ter certeza se Temer continua até 2018. É um cenário de muita instabilidade. Não dá pra saber o que vai acontecer com o governo", finaliza Teixeira. (ANSA)
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