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Exclusivo/'Corrupção não acabará, não tem fim', admite Janot

29/11/2017 20h27

SÃO PAULO, 29 NOV (ANSA) - Por Beatriz Farrugia - Após quatro anos no cargo de procurador-geral da República e atuando na linha de frente da Operação Lava Jato, Rodrigo Janot admitiu nesta quarta-feira (29), em declaração à ANSA, que não acredita no fim da corrupção.   


"A corrupção não acabará, mas pode ser reduzida", disse o ex-procurador, de 61 anos de idade, ao ser questionado se acreditava na possibilidade de acabar com esse tipo de crime no país.   


"A corrupção no Brasil é uma velha conhecida. Combatê-la requer muita, muita insistência e muita resiliência", comentou Janot, citando uma frase do papa Francisco de que "as pessoas lidam com a corrupção como se fosse uma droga, pensando que podem parar de usá-la quando quiserem, mas acabam perdendo a liberdade". O ex-procurador foi um dos convidados do Seminário Brasil-Itália, realizado nesta quarta, em São Paulo, e discursou por quase uma hora a um público composto majoritariamente por italianos.   


Arriscando algumas palavras no idioma do país europeu, Janot contou que se inspirou na Operação Mãos Limpas (Mani Pulite) para atuar durante a Lava Jato e que chegou a pedir conselhos para o ex-promotor italiano Antonio Di Pietro.   


"O que buscamos foi aprender com os acertos e os erros da Mãos Limpas, foi um paradigma para nós", contou o jurista, referindo-se à operação conduzida nos anos 1990 na Itália contra a corrupção e a qual levou ao fim de vários partidos políticos. Mas, ao ser questionado pela ANSA sobre o que o Brasil poderia ensinar para a Itália hoje, com a Lava Jato, Janot pensou por alguns minutos e respondeu: "Nada". "Nada. Acho que nada. São circunstâncias diferentes, e cada país tem suas particularidades. Além disso, hoje em dia, temos muitos recursos que a Itália não tinha naquela época", comentou o ex-procurador.   


Os efeitos da Mani Pulite na Itália foram, ao longo da década de 1990, reduzidos com aprovações de medidas que impediram a prisão preventiva de políticos envolvidos em crimes de corrupção, como o decreto que ficou conhecido pelo nome de "Salva Ladri" (Salva Ladrões, em tradução livre). Janot admitiu que a possibilidade do cenário se reproduzir no Brasil nos próximos anos o preocupa e que costumava andar com escolta quando era procurador-geral da República.   


"Felizmente, no Brasil não há organizações mafiosas com essas práticas [de assassinar magistrados], como existe na Itália", disse, referindo-se aos juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, mortos pela máfia italiana em 1992. "A crise que o Brasil enfrenta hoje passa pela solução do sistema político. Se você muda o sistema político, muda as políticas em vigor", comentou no seminário em São Paulo. "Como podemos imaginar um sistema no qual um senador ou deputado federal pode assumir como suplente recebendo 12 votos?" "Feita uma reforma política séria, teremos condições de enfrentar todos os problemas", defendeu. "O sistema processual-penal brasileiro é falho. Não conheço nenhum outro no mundo que permita tantos recursos. E existem cerca de 28 mil pessoas com prerrogativa de foro no Brasil. É um sistema que não pode funcionar, entrou em colapso", criticou.   


Em discurso aos italianos, o ex-procurador também defendeu a prática da colaboração premiada. "Gostaria de citar um exemplo italiano. Enzo Tortora era um apresentador de TV na Itália e foi citado por delatores. Ele perdeu o emprego, foi preso cautelarmente, depois, solto e absolvido. Aqui no Brasil, colaboração premiada não é prova, é apenas meio de obtenção de prova. Nós queremos evitar 'Enzos Tortora'", disse.   


"Se a Lava Jato mudou o Brasil? Está cedo para dizer, mas a história dirá. Eu, particularmente, acho que o Brasil não é o mesmo depois da Lava Jato", afirmou. (ANSA)
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