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Sequestro na Nigéria: saiba mais sobre o Boko Haram

13/05/2014 09h07

O grupo militante islâmico Boko Haram - que reivindica o sequestro de mais de 200 meninas na Nigéria - luta para derrubar o governo e criar um Estado islâmico.

Além de sequestros, ele também realiza, desde sua fundação no norte do país em 2002, atentados e assassinatos.

Seus integrantes seguem a seguinte frase do Alcorão, o livro sagrado dos mulçumanos: "Qualquer um que não é governado pelo que Deus revelou está entre os transgressores".

O Boko Haram prega uma versão do Islã que proíbe que os muçulmanos tomem parte em qualquer atividade política ou social relacionada com a sociedade ocidental.

Isso inclui votar em eleições, vestir camisas e calças ou receber uma educação secular.

O nome oficial do grupo é Jama'atu Ahlis Sunna Lidda'awati wal-Jihad, que em árabe significa "Pessoas comprometidas com a propagação dos ensinamentos do Profeta e da Jihad".

Mas os moradores de Maiduguri, cidade no nordeste do país onde o grupo tinha sua sede, o apelidaram de Boko Haram. Em tradução livre da língua local, hausa, o apelido significa "a educação ocidental é proibida".

Desde que o califado de Sokoto, que governou partes do que é hoje o norte da Nigéria, o Níger e o sul de Camarões, caiu sob o controle britânico em 1903, alguns muçulmanos da região apresentam resistência à educação ocidental.

Eles se recusam a enviar os seus filhos para "escolas ocidentais" administradas pelo governo, um problema agravado pela elite dominante local, que não vê a educação como uma prioridade.

Neste contexto, o carismático clérigo muçulmano Mohammed Yusuf criou o Boko Haram em Maiduguri em 2002. Ele montou um complexo religioso, que incluiu uma mesquita e uma escola islâmica.

Muitas famílias muçulmanas pobres de toda a Nigéria, bem como de países vizinhos, matricularam seus filhos na escola.

Mas o Boko Haram não está interessado apenas em educação. Seu objetivo político é criar um Estado islâmico, e a escola tornou-se um campo de recrutamento para jihadistas.

Audacioso

Em 2009, o Boko Haram realizou uma onda de ataques a delegacias e outros prédios do governo em Maiduguri. Isso levou a tiroteios nas ruas da cidade - centenas de simpatizantes do grupo foram mortos e milhares de moradores fugiram da região.

As forças de segurança da Nigéria tomaram a sede do grupo, capturando seus combatentes e mataram Yusuf. Seu corpo foi exibido pela televisão estatal, e as forças de segurança declarara que o Boko Haram havia sido extinto.

Mas seus combatentes se reagruparam sob um novo líder, Abubakar Shekau, e intensificaram sua insurgência.

Em 2010, os Estados Unidos o designaram como uma organização terrorista, em meio a temores de que ele tinha estabelecido ligações com outros grupos militantes extremistas, como a Al-Qaeda.

O Boko Haram ficou conhecido, inicialmente, pelo uso de homens armados em motocicletas que matavam policiais, políticos e qualquer um que o criticasse, incluindo clérigos de outras tradições muçulmanas e pregadores cristãos.

O grupo também tem promovido ataques mais audaciosos no norte e no centro da Nigéria, como o bombardeio de igrejas, ônibus, bares, quartéis militares e até mesmo sedes policiais e da ONU na capital, Abuja.

Em meio à crescente preocupação com a escalada da violência, o presidente Goodluck Jonathan declarou estado de emergência em maio de 2013 nos três Estados do norte onde Boko Haram é mais forte - Borno, Yobe e Adamawa.

O envio de tropas levou muitos dos militantes a deixarem Maiduguri, sua principal base urbana, em direção à floresta Sambisa, ao longo da fronteira com Camarões.

A partir de lá, os combatentes do grupo lançaram ataques em massa contra aldeias, realizando saques, matando e queimando propriedades no que parecia ser um alerta para a população rural não colaborar com as forças de segurança, como os moradores de Maiduguri tinha feito.

Pobreza crônica

O Boko Haram também intensificou sua campanha contra a educação ocidental, que, segundo ele, corrompe os valores morais dos muçulmanos, especialmente das meninas.

O grupo já havia atacado um internato em Yobe em março. Em abril, sequestrou as mais de 200 estudantes em Chibok, dizendo que iria tratá-las como escravas e casá-las, numa referência a uma antiga crença islâmica de que as mulheres capturadas em conflito fazem parte do "espólio de guerra".

Ele fez uma ameaça similar em maio de 2013, quando divulgou um vídeo dizendo que tinha feito reféns mulheres e crianças em resposta à prisão de mulheres e filhos dos seus membros. Houve depois uma troca de prisioneiros, em que ambos os lados liberaram seus reféns.

Analistas dizem que o norte da Nigéria tem um histórico de grupos militantes islâmicos, mas que o Boko Haram provou ser muito mais letal, com uma agenda jihadista global.

Para especialistas, a ameaça desapareceria se o governo da Nigéria conseguisse reduzir a pobreza crônica da região e construir um sistema de ensino que ganhe o apoio dos muçulmanos locais.