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Premiê pega em vassoura e participa de mutirão de limpeza na Índia

Narendra Modi (dir) empunhando a vassoura - Press Information Bureau/BBC
Narendra Modi (dir) empunhando a vassoura Imagem: Press Information Bureau/BBC

Geeta Pandey

BBC News, de Nova Déli

02/10/2014 15h53Atualizada em 03/10/2014 08h08

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, lançou nesta quinta-feira (2) uma campanha de limpeza no país colocando as mãos na massa – empunhando uma vassoura e limpando parte de uma rua em um bairro da capital, Nova Déli.

Os quatro milhões de funcionários públicos federais da Índia, além de milhões de estudantes, foram mobilizados para a campanha que envolve varrer ruas, escritórios, escolas e até limpar os banheiros do país.

A iniciativa, chamada “Campanha Índia Limpa”, foi lançada para coincidir com um feriado nacional, o aniversário do líder da campanha que resultou na independência da Índia, Mahatma Gandhi.

Gandhi, reverenciado na Índia e considerado o pai da nação, era conhecido por ser minucioso quando o assunto era limpeza e higiene.


Porém, muitos indianos, que já planejavam descansar no dia de folga, não ficaram satisfeitos com a decisão de Modi de lançar em pleno feriado a campanha.

Exemplo

Modi disse que a melhor forma de homenagear Gandhi em seu aniversário seria justamente lançar a iniciativa e prometeu que, até 2019, quando o país celebra o 150º aniversário de Gandhi, a Índia seria um país no qual "não haverá sequer uma mancha de sujeira em nossas vilas, cidades, ruas, áreas, escolas, templos e hospitais".

"Depois de tantos anos de independência, ainda queremos viver na imundície? Não podemos resolver isto?", questionou o primeiro-ministro em um discurso feito no dia 15 de agosto.

Para garantir o sucesso do evento desta quinta-feira, o governo iniciou dias antes a divulgação da campanha.

Os grandes jornais do país publicaram propagandas e pediram que as pessoas participassem da limpeza. Fotos de ministros e burocratas do governo varrendo ruas foram divulgadas em jornais e na televisão.


Segundo uma informação divulgada no país, departamentos do governo estavam tendo dificuldades para conseguir vassouras, espanadores e lixeiras. Alguns compraram uma dúzia de cada, outros, dependendo do número de funcionários, tiveram que comprar entre 70 e 80.

O governo "solicitou" que todos os funcionários fossem trabalhar no feriado desta quinta-feira a partir das 9h da manhã, e pediu que as pessoas no país dedicassem cem horas por ano para fazer faxina.

Além de ser o aniversário de Gandhi, esta quinta-feira é o início de um feriado prolongado e do festival religioso hindu de Dussehra, que começa na sexta-feira, além do festival muçulmano do Eid, na segunda.

Isso tudo só fez aumentar o número de pessoas insatisfeitas com o momento escolhido para lançar a campanha.

"Muitos funcionários ficaram ressentidos por perder o feriado prolongado, as pessoas tinham feito planos de viagem, marcado voos e passagens de trem", disse à BBC um funcionário que não quis se identificar.

 

Maus hábitos

O principal objetivo do programa, segundo o governo indiano, é dar um fim a um hábito muito comum no país, o de defecar em público.


Cerca de medade da população de 1,2 bilhão de pessoas não tem acesso a banheiros, e o primeiro-ministro prometeu construir banheiros em cada escola e casa nos próximos cinco anos.

No total, o projeto deve custar 620 bilhões de rúpias (cerca de R$ 24 bilhões), sendo que o governo já separou 146 milhões de rúpias e espera conseguir o resto do setor privado, organizações internacionais de desenvolvimento entre outros.

No entanto, apenas a construção de banheiros não deve mudar a Índia, que é frequentemente descrita como um dos países mais sujos do mundo.

Muitos indianos não hesitam antes de jogar lixo nas ruas e parques e eles também cospem onde e quando querem.

Partes de todas as cidades do país, incluindo a capital, Nova Déli, além de Mumbai e Calcutá, foram transformadas em mictórios abertos. Muitas localidades estão sobrecarregadas com montes de lixo, e muitos rios, incluindo o Ganges, considerado sagrado, foram recebem grande volume de esgoto.

Ainda assim, o programa de Narendra Modi é criticado por alguns, que afirmam ser apenas uma iniciativa de auto-promoção.

"Não acho que seja uma campanha publicitária, acho que o senhor Modi realmente quer limpar o país. É muito importante ter este tipo de simbolismo", rebate Umesh Anand, editor da revista Civil Society.

Para Anand, milhões assistem pela televisão as notícias da campanha, e é possivel que pelo menos alguns se mobilizem para mudar seus hábitos, o que já faz a iniciativa valer a pena.