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Com novo governo, Grécia reacende velhas preocupações

O líder do Syriza e futuro primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, comemora a vitória nas eleições de domingo - Louisa Gouliamaki/AFP
O líder do Syriza e futuro primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, comemora a vitória nas eleições de domingo Imagem: Louisa Gouliamaki/AFP

26/01/2015 11h00

O Syriza conquistou 150 cadeiras no Parlamento Helênico, apenas uma a menos que o número necessário para uma maioria absoluta

A vitória do partido radical de esquerda Syriza nas eleições parlamentares gregas neste domingo causou apreensão na Europa.

Com uma plataforma de combate às medidas de austeridade impostas ao país como parte de um imenso pacote de ajuda financeira depois da crise mundial de 2008, o Syriza se beneficiou da imensa insatisfação popular com o governo do primeiro-ministro Antonis Samaras.

Conquistou 150 das 300 cadeiras do Parlamento Helênico - uma a menos que a maioria absoluta. Mas nesta segunda-feira o partido anunciou uma coalizão com a legenda de direita Gregos Idependentes que, apesar da ideologia divergente, tem em comum a bandeira antiausteridade.

Em seu discurso da vitória, o líder do Syriza e futuro premiê grego, Alexis Tsipras, reafirmou sua intenção de renegociar os termos da dívida externa do seu país, o que derrubou a cotação do euro em relação ao dólar para o patamar mais baixo em 11 anos.

Compromissos

Há nos mercados o temor de que a ascensão de Tsiras ao poder resulte em uma futura saída da Grécia da zona do euro - o grupo de 19 dos 28 países da União Europeia que adotam a moeda única.

O novo premier afirma que quer renegociar a dívida de quase R$ 700 bilhões resultante da ajuda recebida pela Grécia de três organismos internacionais - União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Sua lista de promessas de campanha inclui também um aumento do salário mínimo de 580 para 751 euros (cerca de R$ 2.180), a reversão de cortes no orçamento público. Música para os ouvidos num país em que a crise econômica e a política de austeridade catapultaram o desemprego para 22%.

Durante a campanha eleitoral, diversas autoridades europeias expressaram publicamente sua preocupação com a situação política da Grécia.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chegou a quebrar o protocolo ao fazer uma espécie de alerta ao eleitorado grego, classificando uma então possível vitória do Syriza como a "opção errada" de voto.

Juncker voltou a se pronunciar na última quinta-feira, afirmando que um novo governo teria de respeitar os compromissos assumidos por administrações anteriores.

A Grécia foi um assunto no alto da pauta da reunião de ministros da área econômica da UE nesta segunda-feira em Bruxelas. Uma postura de contestação grega pode influenciar países de economia claudicante, como a Espanha e a Itália.

Pelo menos por enquanto, analistas não acreditam numa saída e apostam em algum tipo de compromisso entre os gregos e os credores internacionais - especula-se, por exemplo, sobre uma moratória de seis meses no pagamento de juros.

Inegável, no entanto, é o efeito simbólico de um partido que antes da crise de 2008 era uma "legenda anã" - no pleito de 2004, por exemplo, elegeu apenas seis representantes para o Parlamento Helênico - e agora se converteu na principal força política pela via eleitoral.

Os chamados partidos periféricos vêm crescendo nos países europeus de economia mais delicada.

Antes da vitória do Syriza na Grécia, o exemplo mais lembrado era o Podemos, da Espanha, formado por gente sem afiliação política e que com apenas quatro meses de existência conquistou 5% dos votos nas eleições espanholas para o Parlamento Europeu, no ano passado.

Na Grã-Bretanha, chama atenção a ascensão do Ukip, partido que pode mexer no equilíbrio de poder nas próximas eleições britânicas, que acontecem em cem dias.