Não será fácil o convívio com um Bolsonaro indiciado e inelegível
Pelo andar dos acontecimentos, é provável que Bolsonaro, indiciado nesta quinta-feira por tentar virar a mesa da democracia, seja condenado criminalmente ao longo do ano pré-eleitoral de 2025. Já estava inelegível até 2030. Pode pegar até 28 anos de cadeia. A nova conjuntura exige juízo da direita e também da esquerda.
A direita precisará se endireitar, reinventando-se. O arco democrático que devolveu Lula ao Planalto mostrou que o conservadorismo civilizado já havia abandonado Bolsonaro em 2022. Entretanto, o direitismo neandertal deu as caras no 8 de janeiro.
A explosão do homem-bomba na frente do Supremo dias atrás mostrou que a insensatez pode ter diminuído, mas ainda pulsa. Cabe aos representantes da direita construir uma alternativa sensata. Tarcísio de Freitas, o primeiro da fila, demora a tirar a mão da alça do caixão.
Na seara da esquerda, se tiver saúde e desempenho, Lula será candidato à reeleição. Se tiver juízo, Lula aproveita a novidade para recompor o arco conservador que o reabilitou não por gostar dele, mas para se livrar do capitão.
Indiciado, Bolsonaro renovou a pose de perseguido político, atacando Alexandre de Moraes. O diabo é que a satanização de Xandão perdeu o nexo. A essa altura, os hipotéticos perseguidores do capitão já compõem uma legião.
A tropa dos pseudo-perseguidores inclui o delator Mauro Cid, os ex-comandantes militares que resistiram ao golpe -Freire Gomes, do Exército, e Baptista Júnior, da Aeronáutica—, os investigadores da Polícia Federal, as togas que avalizam os despachos de Moraes e o procurador-geral da República Paulo Gonet.
Foi Gonet quem autorizou as batidas policiais que resultaram na coleta de um impressionante conjunto probatório. Inclui minuta de golpe, mensagens, áudios, vídeos e até um plano escrito, impresso no Planalto, prevendo o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes.
O Brasil terá que aprender a conviver com um Bolsonaro inelegível, indiciado e indefeso. Não será um convívio fácil. E ficará ainda mais complicado depois que o inidiciamento evoluir para a fase da denúncia, seguida da consequente abertura de uma ação penal e da provável condenação do réu e dos cúmplices do alto-comando do golpe.
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