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Análise: morte de braço direito de Saddam Hussein é 'fim de era' no Iraque

Karim Sahib/AFP
Imagem: Karim Sahib/AFP

Sebastian Usher

18/04/2015 14h48

A morte da última grande figura do regime de Saddam Hussein ainda foragida, Izzat Ibrahim al-Douri é, se confirmada, o último capítulo de uma cortina que cai sobre uma era na história do Iraque. Mas seu papel depois da queda do ex-presidente iraquiano foi tão ou mais significativo.

Douri, que morreu durante um combate na província de Salahuddin, no norte da capital Bagdá, segundo autoridades iraquianas, liderou um grupo linha-dura leal a Saddam, que, por sua vez, ajudou a alimentar e prolongar a insurgência contra seus sucessores. Os apoiadores do braço direito do ex-presidente iraquiano, no entanto, negam a informação de que ele teria morrido.

A morte de Douri, aliás, já foi anunciada e depois desmentida várias vezes. Havia vários boatos sobre onde ele se escondia, dentro ou fora do Iraque - e sua saúde estaria debilitada. Mas ele reapareceu - em vídeo, pelo menos - na medida em que militantes do grupo autodeclarado "Estado Islâmico" (EI) tomavam o controle de Mossul e Tikrit no ano passado. Na gravação, ele pedia que os iraquianos se juntassem à luta sunita jihadista.

Há pouca dúvida de que autoridades da época de Saddam Hussein e comandantes militares tenham tido um papel-chave em tornar o EI a força de combate que é hoje. Mas o tamanho do protagonismo que Douri teve ativamente na ascensão do grupo extremista, assim como qualquer aliança direta e contínua entre sua milícia e o "EI".

Sua morte é simbolicamente significativa, mas talvez tenha pouco efeito prático sobre o combate em terra firme.

Douri, de 72 anos, liderou o grupo insurgente Ordem Naqshbandi, uma força-chave por trás da recente ascensão do "Estado Islâmico".

Ele foi o número dois de Saddam Hussein, que foi derrubado quando as forças lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003 e executado em 2006.

Douri era visto como a mais alta figura do partido Baath de Saddam Hussein a ter conseguido escapar da prisão após a invasão e por muito tempo tinha sua cabeça a prêmio.

Ele era o "Rei de Paus" no famoso baralho que os Estados Unidos criaram com base em fotos dos integrantes procurados do regime de Saddam Hussein após a derrubada do governo.

O partido Baath, no entanto, nega que Douri tenha morrido.

Ainda assim, a rede de TV al-Arabiya mostrou uma foto que seria do corpo do ex-general iraquiano.

O governador de Salahuddin, Raed al-Jabouri, afirmou que ele morreu durante uma operação conjunta entre militares e aliados xiitas no leste de Tikrit ? uma cidade cujo controle foi retomado pelo governo há duas semanas.

'Estado Islâmico'

A ordem Naqshbandi de Douri era o principal grupo insurgente do Partido Baath. Apesar de suas raízes seculares, acredita-se que ele tenha tido um papel-chave em uma grande ofensiva promovida pelo "Estado Islâmico" no ano passado.

O "EI" tomou o controle de grandes partes do território da Síria e do Iraque, em um esforço para estabelecer um "califado" islâmico.

Mas nos últimos meses as forças iraquianas ? apoiadas pelos ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos desde agosto ? recapturaram de 25% a 30% do território inicialmente perdido para o "EI".

O grupo jihadista ainda controla grandes áreas, incluindo a segunda maior cidade do Iraque, Mossul.

Militantes realizaram uma série de ataques na sexta. Na capital, Bagdá, uma série de atentados a bomba reivindicados pelo "Estado Islâmico" deixaram ao menos 30 pessoas mortas.

Na cidade de Irbil, no norte do país, a capital da região autônoma do Curdistão, uma bomba matou pelo menos uma pessoa perto do consulado americano.

A violência vem sendo alimentada pela divisão sectária entre muçulmanos sunitas e xiitas.

O governo do país é dominado por políticos pertencendo à maioria xiita e apoiada pelas milícias xiitas. O "EI" e outros grupos insurgentes são sunitas.