O engenheiro que cresceu sob chuva ácida e hoje luta contra poluição
No final dos anos 1980, quando o engenheiro ambiental Cleiton Jordão, de 33 anos, ainda era um menino, ele aprendeu o que era a "chuva que morde".
"Me lembro de começar a chover e eu ver uma criança na Vila Parisi correndo e gritando: 'É a chuva que morde!'. Eu não sabia o que era. Depois me explicaram que era a chuva ácida", relembra.
Nessa época, a Vila Parisi, bairro pobre em meio ao complexo industrial de Cubatão, no interior de São Paulo, tornou-se referência mundial nos efeitos da poluição atmosférica no ambiente e na população.
A cidade tinha altos índices de doenças respiratórias e, em 1981, dezenas de crianças nasceram com anencefalia e outras malformações do sistema nervoso. Muitas delas naquele bairro.
A chuva ácida, que era frequente na cidade onde cerca de 20 indústrias pesadas eliminavam gases como óxidos de nitrogênio e de enxofre na atmosfera, não chegava a queimar imediatamente a pele, mas contribuía com a degradação da vegetação e das estruturas da cidade.
Impressionado pelos efeitos da poluição na cidade, Jordão formou-se em engenharia ambiental e em gestão pública. No final do ano passado, atuou como secretário do Meio Ambiente em Cubatão.
Hoje, diz que a cidade precisa ser mais eficiente no combate à poluição atmosférica.
"Foi muito difícil (ser secretário) porque o Meio Ambiente não é um foco dos governos. Nunca foi prioridade das administrações estruturar a Secretaria de Meio Ambiente. Não temos o nosso código ambiental da cidade, não temos fiscais de controle ambienta."
Hoje, ele é professor de ciências no ensino médio, e se preocupa com o pouco conhecimento que os adolescentes têm sobre a tragédia.
"Pergunto a meus alunos sobre a poluição naquele tempo e eles mal sabem. Só os mais velhos sabem. Esse resgate deve ser feito para que não se comentam erros passados."
"É como um câncer. A pessoa pode se curar do câncer, mas, se não tiver preocupação e tomar todos os cuidados, ele pode voltar", afirma.
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