EUA apontam 'possíveis problemas sistemáticos' na inspeção de carne pelo governo brasileiro
O governo dos Estados Unidos afirma que os problemas que geraram o bloqueio de importações de carne fresca vindo do Brasil indicam potenciais falhas sistemáticas nas inspeções sanitárias de carne pelo governo brasileiro.
À BBC Brasil, o Departamento de Agricultura americano (USDA, na sigla em inglês) informou, em nota, que encontrou "defeitos patológicos, tecidos e material ingerido proibidos pela legislação e materiais externos não identificados" em lotes de carne fresca exportados por plantas frigoríficas das empresas JBS, Mafrig e Minerva.
"Esses achados indicam potenciais problemas sistemáticos na verificação sanitária do governo de carcaças e em inspeções pós-morte", aponta o governo dos EUA.
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A suspensão das compras de carne fresca brasileira foi anunciada pela gestão de Donald Trump na noite desta quinta-feira.
Esta é a segunda vez, em menos de quatro meses, que autoridades estrangeiras penalizam o Brasil por problemas de higiene na produção de carne.
Procurado, o Ministério da Agricultura brasileiro não comentou as críticas do governo americano sobre eventuais problemas sistemáticos de higiene até a publicação desta reportagem.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec) afirmou que "lamenta a suspensão das exportações de carne bovina in natura pelos EUA e esclarece que as ações corretivas para adequação dos processos produtivos já estão sendo tomadas".
Bloqueio
Desde a operação Carne Fraca, deflagrada em março pela Polícia Federal, os Estados Unidos estão inspecionando 100% da carne brasileira que chega ao país.
Nestas avaliações, 11 em cada 100 lotes brasileiros foram recusados - a taxa de rejeição da carne vinda de outros países, segundo o Departamento de Agricultura, não passa de 1%.
No total, 860 toneladas de carne brasileira foram proibidas de entrar no mercado americano graças aos resultados desses estudos.
O impacto, desta vez, é menor que o gerado pela operação Carne Fraca - principal responsável pela queda de 10,6% nas exportações brasileiras de carne até maio deste ano, em relação ao mesmo período de 2016.
A operação apontou que mais de 30 empresas brasileiras seriam responsáveis por adulterar carne vendida para cidades no Brasil e no exterior - o Brasil lidera o mercado mundial de exportações de carne bovina e de frango, e ocupa o quarto lugar no ranking de exportações de carne suína.
O bloqueio americano atinge apenas 2,7% do total de carne fresca - ou in natura - exportada pelo Brasil.
O problema, entretanto, é que este era um mercado recente, com ampla possibilidade de expansão - após 17 anos de negociações, os Estados Unidos liberaram apenas em julho do ano passado a entrada de carne fresca brasileira no país.
Procurada pela reportagem, a JBS informou que não vai comentar o caso.
Em nota, a Minerva disse que "as vendas das unidades brasileiras da Minerva para os Estados Unidos representaram cerca de 1,5% das exportações consolidadas da companhia no primeiro trimestre de 2017 e serão redirecionadas para as nossas unidades localizadas no Uruguai, até que a suspensão seja revertida, não comprometendo assim, o volume das exportações da companhia".
Já a Mafrig informou, também por meio de nota, que "o mercado americano para importações foi aberto em agosto de 2016 e vem passando por ajustes naturais. A suspensão decretada pelo governo dos Estados Unidos não interfere nos demais mercados onde o Marfrig atua. A companhia continua a exportar seus produtos para aproximadamente 100 países e a abastecer normalmente a demanda doméstica".
Ambas as empresas afirmaram que "não há problemas sanitários" em suas produções.
'Curto prazo'
De acordo com o governo americano, as importações poderão ser retomadas caso as irregularidades sejam solucionadas pelas autoridades brasileiras.
Segundo a ABIEC, o problema deve ser resolvido "a curto prazo".
"A indústria de carne bovina brasileira atua com responsabilidade e segue altos padrões de vigilância sanitária severamente auditados e monitorados, envolvendo inspeções periódicas em toda a sua cadeia produtiva. Esse processo ressalta a qualidade dos padrões adotados no Brasil, que exporta para mais de 160 países", diz a associação.
Segundo autoridades brasileiras, os problemas identificados pelo governo americano seriam resultado de uma reação do gado à vacina contra a febre aftosa, que criaria abcessos invisíveis a olho no na carne.
À BBC Brasil, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, classificou o anúncio do governo americano como "péssima notícia".
"Os EUA nunca tinham aberto para importações in natura brasileiras. Isso aconteceu ano passado depois de anos de negociações e já está sendo revertido", afirmou.
"São duas péssimas notícias juntas, porque recentemente a China, nosso principal mercado, anunciou que abrirá as portas para os EUA. Então além de perder nos EUA, vamos também ter maior competição na China", acrescentou.
No anúncio do bloqueio, o secretário da Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, afirmou que "embora o comércio internacional seja uma parte importante do que fazemos na USDA, e o Brasil há muito seja um de nossos parceiros, a prioridade é proteger os consumidores americanos".
Pelo Facebook, o ministro da agricultura brasileiro, Blairo Maggi, disse que viajará aos Estados Unidos para "prestar todos os esclarecimentos necessários" - procurado, o ministério da Agricultura disse que não há data marcada para a viagem.
"Asseguro que todas as medidas corretivas, para as exigências que eles nos fazem, já estão sendo tomadas e nosso objetivo continua o mesmo: garantir o mercado existente e ampliar nossas exportações de 7% para 10% num período de cinco anos", afirmou Maggi.
O ministro acrescentou que a metodologia de inspeção será mais rigorosa e que "lutará para retomar a venda de carne fresca ao país, por ser um mercado muito importante".
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