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Como má qualidade do sono em mulheres com mais de 40 anos prejudica a saúde

Alessandra Corrêa - De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil

26/09/2017 06h45

A má qualidade do sono em mulheres com mais de 40 anos pode estar relacionada a um maior risco de uma série de problemas de saúde como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e até depressão.

Um estudo publicado neste mês nos Estados Unidos identificou o problema entre mulheres de 40 a 59 anos, que deveriam estar dormindo de sete a nove horas por noite.

Segundo o estudo, uma em cada três (35,1%) mulheres na faixa etária de 40 a 59 anos dormem menos de sete horas por noite, e 19,4% relataram dificuldades em adormecer em quatro ou mais noites por semana.

Mas o problema não vem apenas da quantidade de horas. Mais de um quarto das entrevistadas (26,7%) revelaram que, em quatro ou mais noites na semana, enfrentam dificuldade em continuar dormindo após adormecerem, e 48,9% disseram que não acordam se sentindo descansadas em pelo menos quatro dias por semana.

"Esse último resultado me surpreendeu especialmente. É uma parcela muito grande", disse à BBC Brasil a autora do estudo, Anjel Vahratian, chefe de análise de dados do National Center for Health Statistics (Centro Nacional de Estatísticas de Saúde, ou NCHS, na sigla em inglês), ligado ao Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde americano.

A má qualidade do sono pode ser causada por inúmeros fatores relativamente conhecidos como ansiedade e estresse, dificuldades respiratórias, obesidade, uso excessivo de aparelhos eletrônicos antes de dormir ou mesmo a ingestão de alimentos de difícil digestão ou de cafeína poucas horas antes de se deitar.

No caso de mulheres, no entanto, alguns fatores são exacerbados pelas mudanças hormonais provocadas pela menopausa. E relativamente menos conhecido é o efeito que as noites mal dormidas podem ter sobre a saúde no longo prazo.

Vahratian, por exemplo, ressalta que a falta de sono está associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e diabetes.

O diabetes ocorre quando o corpo não produz insulina - hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue - ou não responde adequadamente à insulina produzida. Diferentes estudos indicam que distúrbios do sono podem levar a resistência a insulina e aumento das taxas de glicose no sangue.

No caso de doenças cardiovasculares, a neurologista Sandhya Kumar, especialista em sono do centro médico acadêmico Wake Forest Baptist Medical Center, em Winston-Salem, na Carolina do Norte, disse à BBC Brasil que diversos estudos mostram que a apneia do sono (obstrução das vias aéreas durante o sono) afeta a pressão arterial e o coração.

A redução no fluxo de oxigênio provocada pela apneia prejudica o coração.

Kumar observa também que problemas no sono podem afetar o humor, diminuir a capacidade de concentração e até provocar acidentes.

Vários estudos relacionam distúrbios do sono com ganho de peso. Acredita-se que a falta de sono possa alterar o metabolismo, reduzir os níveis leptina (o hormônio da saciedade) e aumentar a sensação de fome. O cansaço gerado pela falta de sono deixa as pessoas menos propensas a praticar exercícios. Há indícios também de que, quanto mais tempo acordado, maior tende a ser o consumo de calorias.

Menopausa

"Nosso interesse é analisar tanto a duração quanto a qualidade do sono. Muitas vezes se fala somente na duração, mas se você dormir oito ou nove horas por noite e acordar várias vezes durante esse período, a qualidade não será boa", observa Vahratian.

Ela diz que períodos de mudanças hormonais, como as relacionadas à transição para a menopausa, deixam as mulheres particularmente vulneráveis a distúrbios do sono.

"Essa é uma parcela da população que talvez precise de mais informações e orientação sobre quantidade e qualidade do sono", afirma.

Vahratian analisou dados de 2.852 mulheres não-grávidas com idades entre 40 e 59 anos que participaram da National Health Interview Survey (pesquisa anual de saúde conduzida pelo NCHS que envolve mais de 35 mil lares americanos) em 2015.

Entre as participantes, 74,2% estavam na pré-menopausa, 3,7% na perimenopausa (no estudo, o termo se refere a mulheres que não menstruam mais e registraram o último ciclo há menos de um ano) e 22,1% na pós-menopausa (última menstruação há mais de um ano ou que passaram por cirurgia para remover os ovários).

Elas responderam a perguntas sobre em quantos dias, na semana anterior, sentiram-se descansadas ao acordar, quantas vezes tiveram dificuldade de adormecer e de continuar dormindo e quantas horas dormiram em um período de 24 horas.

Mulheres na perimenopausa apresentaram maior probabilidade de dormir menos de sete horas por noite, com 56% indicando o problema. Entre as participantes na pós-menopausa, 40,5% disseram dormir menos de sete horas, e entre as mulheres na pré-menopausa, 32,5%.

Participantes na pós-menopausa apresentaram maior probabilidade de enfrentar dificuldades para adormecer e continuar dormindo e de acordar sem a sensação de descanso.

Dicas

Kumar afirma que vários fatores podem ter papel nos distúrbios no sono enfrentados por mulheres nessa faixa etária, incluindo as ondas de calor e outros sintomas associados às mudanças hormonais da menopausa.

Para uma boa noite de sono, ela recomenda um ambiente fresco e bem ventilado (especialmente no caso de mulheres que sofrem de ondas de calor), evitar fumar, não consumir álcool perto do horário de dormir nem cafeína após às 13h.

"Se você não adormecer em 20 minutos, tente sair da cama e fazer algo relaxante antes de voltar a deitar", sugere.

Kumar também recomenda desligar TV, celular e outros aparelhos eletrônicos, ir para a cama somente quando estiver com sono e usar o quarto apenas para dormir.

"E não fique olhando o relógio, porque isso só vai aumentar sua ansiedade."