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O país onde apenas os cegos podem ser massagistas profissionais

Na Coreia do Sul, apenas cegos podem ser massagistas profissionais - AFP
Na Coreia do Sul, apenas cegos podem ser massagistas profissionais Imagem: AFP

05/01/2018 12h46

Mãos firmes, dedos habilidosos e conhecimentos básicos de anatomia humana são elementos indispensáveis para ser um massagista em qualquer lugar do mundo.

Mas há um país onde isso não é o suficiente.

Lá, o principal requisito para tirar uma licença de massagista não tem nada a ver com as mãos, experiência ou técnica.

Na Coreia do Sul, eles vão mais longe: as autoridades exigem que apenas pessoas cegas possam praticar este ofício milenar.

É um dispositivo protegido por uma polêmica lei que foi desafiada quatro vezes e que o Tribunal Constitucional sul-coreano o acaba de ratificar nesta terça-feira.

As autoridades do país asiático decidiram há mais de um século que apenas pessoas cegas podiam ganhar dinheiro fazendo massagem, como forma de garantir-lhes uma fonte de renda para sua sobrevivência.

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As autoridades do país decidiram há mais de um século que apenas só cegos podiam ganhar dinheiro fazendo massagem, como forma de garantir-lhes uma fonte de renda
Imagem: AFP

Na nova sentença, o Tribunal Constitucional da Coréia do Sul explicou que a decisão de continuar com a lei deve-se ao fato de que os cegos têm poucas opções de carreira e que essa é a "única maneira" de ajudá-los a ganhar a vida.

Dada a alta demanda de massagistas no país, muitos coreanos tentaram nos últimos anos revogar a lei, cujo descumprimento pode levar a multas de até US$ 4,5 mil (cerca de R$ 15 mil) ou até três anos de prisão.

No entanto, o Tribunal decidiu que a lei permanecerá em vigor e que apenas pessoas - cegas - com uma licença poderão exercer a profissão em todo o país.

Polêmica

A Coreia do Sul aprovou esta lei em 1913, após a invasão do país pelo Japão.

No final da Segunda Guerra Mundial, os representantes do governo dos Estados Unidos que controlavam a península coreana suspenderam esse requisito, que voltou a ser adotado em 1963.

Desde então, as polêmicas entre massagistas cegos e não-cegos têm sido frequentes, uma vez que estes exigem o direito constitucional de escolher sua profissão.

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Lei de 1913 que reserva mercado profissional para cegos voltou a ser adotada na Coreia do Sul em 1963
Imagem: AFP

Isso porque, de acordo com a Constituição do país, cada cidadão tem o direito de escolher sua carreira e o Estado não deve interferir nela.

A proibição também levou à abertura de lojas onde são oferecidas massagens ilegalmente.

Segundo dados do governo sul-coreano, cerca de 7 mil pessoas cegas atuam como massagistas, enquanto o número de pessoas sem problemas de visão que também exercem a profissão é de 12 mil.

Os críticos da lei argumentam que ela é também uma forma de discriminação, limitando os cegos a um único trabalho sem a possibilidade de crescer em outras profissões.