Como foi a breve volta de Malala ao Paquistão
A primeira visita de Malala Yousafzai ao seu país natal em seis anos foi curta e reveladora.
Foi curta considerando o tempo que ela provavelmente gostaria de ter passado no Paquistão com os amigos da adolescência, que ela agora reviu depois de uma longa e inesperada separação. É possível imaginar a jovem querendo compartilhar com os amigos histórias sobre as pessoas que ela conheceu, as coisas que ela fez, os países que visitou e o reconhecimento internacional que conquistou.
E foi reveladora porque a história da jovem ativista que enfrentou o extremismo para lutar pelos direitos das meninas de estudar continua a ser um exemplo dos problemas do país.
Malala não pisava em sua terra natal desde outubro de 2012, quando sofreu um atentado - um atirador do grupo extremista Talibã deu um tiro em sua cabeça que quase a matou.
Desde então ela vive no Reino Unido - ela seu mudou para Birmingham com sua família e agora está estudando na Universidade de Oxford.
Sua luta em defesa do acesso das meninas paquistanesas à educação fez com que ela se tornasse a pessoa mais jovem a ganhar um prêmio Nobel da Paz, aos 17 anos, em 2014.
Sua viagem de volta ao Paquistão foi inesperada. Em um discurso na casa do primeiro-ministro logo depois de sua chegada, na quinta-feira passada, ela disse que era um "sonho que se realizava".
Mas o sonho foi acompanhado por um grande mistério sobre sua movimentação e uma forte segurança que controlava quem poderia vê-la e quem ela poderia encontrar.
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Ela expressou seu incômodo com isso para um amigo da família em Mingora, a cidade em que morava.
"Vou voltar ano que vem, e sem a segurança", teria dito ela a Faridul Haq Haqqani, que conversou com o serviço em urdu da BBC.
Volta para casa
Haqqani conseguiu se encontrar com Malala porque vive na casa onde a família dela morava antes do atentado.
Malala, seus pais e seus dois irmãos visitaram a cidade no sábado, em um helicóptero militar. Eles foram acompanhados pela ministra Maryam Aurangzeb. A visita, assim como sua chegada em Islamabad dois dias antes, não foi anunciada. Eles passaram apenas duas horas na região e visitaram apenas dois lugares.
A primeira parada foi a antiga casa da família, uma visita que deixou todos muito emotivos.
"Eles começaram a chorar assim que entraram na casa", disse Haqqani.
"Ziauddin (o pai da jovem) ajoelhou no gramado, beijou chão e esfregou um pouco do solo em seus olhos (um gesto de agradecimento). Depois houve um silêncio que durou vários minutos."
O atual ocupante da casa disse também que Malala e sua mãe, Topakai Yousafzai, fizeram várias perguntas sobre os vizinhos, como eles estavam e o que estavam fazendo.
Malala também pediu para se encontrar com seus amigos da vizinhança, que foram escoltados pela segurança.
Haqqani diz que teve uma longa conversa com Malala enquanto ela visitava os cômodos da casa e recordava o que eles costumavam fazer em cada um deles.
"Pude ver que ela amadureceu. Ela se sentiu restringida pela segurança e disse que viria sem a escolta da próxima vez."
A outra parada na cidade foi uma faculdade militar, onde ela conheceu estudantes e funcionários e assinou o livro de visitantes.
A curta visita desapontou alguns ativistas que esperavam conhecê-la e as estudantes da faculdade para mulheres que ela ajudou a construir no distrito de Shangla, onde nasceu.
No entanto, todos que falaram com a imprensa disseram que entendiam as restrições, já que ela continua a ser um alvo do Talibã.
O perigo continua
O comentário ilustra bem o atual estado da segurança no Paquistão.
Apesar de muitos - incluindo Malala - dizerem que a visita da jovem pode ser um sinal de que a segurança está melhor no país, as restrições para sua movimentação e o segredo sobre seu itinerário mostram que os perigos continuam.
O desejo da família Yousafzai de visitar o Paquistão é compreensível, mas ainda não ficou claro quem possibilitou a visita - se foi o governo civil do primeiro-ministro Khaqan Abbasi ou se foram as lideranças militares.
O que se sabe é que a escolta de segurança da família e a logística foram providos exclusivamente pelos militares e sua agência de inteligência.
Fontes disseram à BBC que a escolha dos encontros mostrou um posicionamento bem evidente: as autoridades informaram alguns grupos da visita, com antecedência, mas deixaram outros no escuro - como os amigos do pai da jovem que tinham posições antimilitares.
Alguns críticos afirmam que os militares querem projetar uma imagem melhor do Paquistão como parte dos esforços para reduzir a tensão com os Estados Unidos, que recentemente bloquearam a ajuda militar ao país. Segundo os críticos, a visita de Malala seria parte dessa agenda.
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