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O que a eleição do conservador Iván Duque na Colômbia pode significar para a paz com as Farc

Presidente eleito da Colômbia, Iván Duque, discursa para apoiadores após vitória - Nacho Doce/Reuters
Presidente eleito da Colômbia, Iván Duque, discursa para apoiadores após vitória Imagem: Nacho Doce/Reuters

18/06/2018 15h58

O candidato conservador eleito neste domingo à Presidência da Colômbia, Iván Duque, prometeu mudanças no acordo de paz negociado com a antiga guerrilha Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para que "as vítimas sejam o centro do processo, para garantir verdade, justiça e reparação".

O próximo mandatário colombiano, que assumirá o cargo em agosto, é crítico ao histórico acordo de paz assinado pelo presidente Juan Manuel Santos em novembro de 2016 para acabar com um conflito armado que durou mais de 40 anos e que garantiu aos ex-guerrilheiros cadeiras no Congresso. Para Duque, o documento é muito leniente com os traficantes de drogas.

Mesmo assim, ele disse em seu primeiro discurso após a vitória, em Bogotá, que cumprirá o acordo. "Não vou rasgar (o acordo), mas farei de tudo para que ele seja cumprido com ajustes necessários, mas que sempre serão baseados em consensos sociais e parlamentares."

"Essa paz que ansiamos terá correções para que as vítimas sejam o centro do processo de garantia da verdade, de justiça e de reparação", declarou.

Duque, do partido Centro Democrático, do ex-presidente Alvaro Uribe, teve mais de 10,3 milhões de votos e derrotou o esquerdista Gustavo Petro no segundo turno das eleições, com 53,98% dos votos válidos contra 41,81% do opositor.

Em sua fala após ter sido eleito, ele ressaltou diversas vezes que o momento é de unir a Colômbia, que passa por uma grande polarização. E prometeu lutar contra a corrupção.

"Eu vou dar todas, absolutamente todas as minhas energias para unir este país. É muito importante dizer à toda a Colômbia que não há cidadãos derrotados", disse ele, que está prestes a completar 42 anos. "Esta é a oportunidade que esperávamos de transformar a página de polarização. Eu não vou governar com ódio."

Farc dispostas a dialogar

No ano passado, a maioria dos rebeldes das Farc se desmobilizaram e passaram a integrar o partido político Força Revolucionária Alternativa do Comum. Cerca de 7 mil membros da antiga guerrilha entregaram mais de 8 mil armas à ONU.

Duque não pode mexer no tratado, que foi blindado a mudanças até 2026. Mas o presidente eleito poderá propor alterações por meio de emendas constitucionais apresentadas ao Congresso.

Pouco depois do discurso de Duque, o partido das Farc emitiu um comunicado no qual expressou sua disposição de se encontrar com o presidente eleito para apresentar seus pontos de vista do acordo de paz.

"Só essa unidade, transformada em organização e mobilização, poderá deter a tentação dos setores mais retardados da política nacional, de aprofundar os ódios e as diferenças de todos os tipos, com o único propósito de perpetuar seus privilégios", diz o texto.

Por sua parte, Rodrigo Londoño, ex-líder do grupo guerrilheiro e atual presidente do partido das Farc, destacou via Twitter que as eleições de domingo foram as mais silenciosas das últimas décadas, algo que ele atribuiu ao processo de paz.

"É um momento de grandeza e reconciliação, respeitamos a decisão da maioria e parabenizamos o novo presidente. Vamos ao trabalho que as estradas da esperança estão abertas", afirmou.

Críticas ao acordo

Entre as críticas de Duque ao acordo de paz com as Farc está o fato de os rebeldes poderem ser candidatos sem terem cumprido pena pelos crimes de que são acusados.

"A Justiça Especial pela Paz (JEC, tribunal especial para as Farc), tal como está, é um mecanismo de impunidade que permite a elegibilidade política dos criminosos contra a humanidade, e ficou claro que dizer toda a verdade não significa aceitar a responsabilidade. Isso é uma zombaria com as vítimas e uma grande afronta ao nosso estado de direito", declarou Duque em entrevista ao jornal espanhol El País.

Duque critica o fato de o acordo permitir a anistia dos crimes cometidos para financiar a guerrilha. Isso, segundo ele, torna o tráfico anistiável.

Outro ponto, segundo ele, é o aumento no cultivo de coca no país (52% em 2016, segundo a ONU), porque o Programa Nacional Integral de Substituição de Cultivos de Uso Ilícito (PNIS), em parceria com as Farc, fala em erradicação de cultivos de uso ilícito, e não de cultivos lícitos, o que daria margem para as plantações ilegais continuarem.

O mandatário também já criticou o que considera falta de controle sobre armas escondidas que não foram entregues para a destruição, assim como o dinheiro oculto dos guerrilheiros que não teria sido entregue para reparar as vítimas.