A comovente foto que chama atenção para o drama dos trabalhadores mortos limpando esgoto na Índia
A foto de um menino chorando junto ao pai morto que viralizou nesta semana sensibilizou usuários das redes sociais na Índia.
A comoção foi tanta que uma campanha criada para ajudar a família conseguiu arrecadar 3 milhões de rupias (cerca de R$ 180 mil) em doações em um só dia.
A foto foi compartilhada milhares de vezes no Twitter.
Por trás da imagem está a história de Anil, um indiano de 27 anos que trabalhava na rede de esgotos da capital, Nova Deli, e que morreu quando a corda que usava em serviço para descer até um bueiro se rompeu, provocando sua queda.
Estimativas apontam que cerca de 100 trabalhadores morrem na Índia todos os anos nesse segmento. Muitos deles são sufocados pelos gases tóxicos presentes nos esgotos.
Sindicatos denunciam que isso ocorre porque muitos dos funcionários não contam com equipamentos de segurança adequados. A forma de contratação desses trabalhadores, eles acrescentam, também contribui para deixá-los vulneráveis. A maioria não tem contrato fixo e acaba sendo paga por dia de trabalho, sem direito a assistência médica ou seguro de vida.
Sem dinheiro para a cremação
Shiv Sunny, repórter do jornal indiano Hindustan Times, que tuitou a foto na segunda-feira, disse à BBC que ficou "comovido" ao ver o filho do homem, que tem 11 anos de idade.
"O menino se aproximou do corpo do pai no crematório, tirou o lençol que cobria o rosto dele, segurou suas bochechas com as duas mãos, disse 'papai' e começou a chorar", escreveu ele em seu tuíte.
Segundo seu depoimento, a intenção da foto era chamar a atenção para a morte de trabalhadores nos esgotos na Índia. Mas acabou sendo fundamental para mostrar a difícil situação daquela família.
O jornalista disse que eles precisaram contar com a ajuda de vizinhos para bancar os custos para cremar o corpo.
Parentes da vítima contaram a Sunny que um dos filhos de Anil havia morrido de pneumonia uma semana antes, por falta de tratamento, já que ele não tinha dinheiro para comprar os remédios necessários. O bebê tinha quatro meses.
O homem também tinha duas filhas, de sete e três anos de idade, além do menino de 11 que aparece junto ao seu corpo.
Sunny disse que tirou a foto minutos antes de Anil, que foi identificado apenas por esse nome, ser cremado.
"Sou repórter de crimes e já vi muitas tragédias. Mas nunca tinha presenciado nada desse tipo."
'Totalmente inesperado'
O tuíte do jornalista chamou a atenção da Uday Foundation, uma organização não governamental indiana que atua nas áreas de saúde, apoio a desabrigados e socorro em desastres.
A ONG interveio para levantar fundos para a família com a ajuda da Ketto, uma plataforma de crowdfunding, ou seja, de captação de recursos pela internet através de doações de várias pessoas.
A repercussão da foto foi enorme.
"Isso foi totalmente inesperado", disse Sunny.
Ele afirmou que vários atores de Bollywood, a indústria do cinema indiano, se aproximaram para perguntar como poderiam ajudar a família de Anil, mas o que realmente o emocionou foi que pessoas mais pobres também haviam colaborado com o que podiam: alguns doaram quantias tão pequenas quanto 10 rupias (cerca de R$ 0,57).
As inúmeras perguntas e comentários sobre a família que surgiram nas redes sociais levaram o jornalista a procurá-los.
Foi aí que ele conversou com o desolado filho de Anil, que lhe disse que às vezes acompanhava o pai no trabalho e esperava por ele do lado de fora, para evitar que as roupas e sapatos que deixava para trás quando estava sem serviço fossem levados por ladrões.
"Meu pai dizia que ainda não era a hora de eu entrar nos esgotos", disse o menino, conforme o relato do jornalista Hindustan Times.
Caso não é isolado
A polícia disse ao site de notícias NDTV que as investigações sobre a morte de Anil revelaram que a corda não era forte o suficiente para sustentá-lo e que ele não estava usando equipamento de proteção.
Este é o segundo incidente envolvendo a morte de um trabalhador que atua em esgotos de Nova Deli só neste mês.
Outros cinco homens morreram no último mês de julho enquanto limpavam uma estação de tratamento de água. Nessa ocasião, a polícia também confirmou que eles não estavam usando equipamentos de segurança. O supervisor da empresa foi preso.
Sunny espera que os filhos de Anil possam ir à escola com o dinheiro arrecadado.
"Graças às pessoas que se ofereceram para ajudar, elas poderão ter um futuro agora", disse ele.
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