Quem é Moreira Franco, ex-ministro de Temer preso nesta quinta-feira
O ex-ministro do governo Michel Temer foi preso nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, na mesma operação de que foi alvo o ex-presidente Temer. Amigo do ex-presidente, está na política desde o início dos anos 1970. Foi governador do Rio de Janeiro, prefeito de Niterói e deputado federal por três mandatos.
O ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco (MDB) foi preso nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, na mesma operação de que foi alvo o ex-presidente Michel Temer (MDB).
Moreira foi ministro de Minas e Energia e da Secretaria-Geral da Presidência de Temer, seu colega de partido e amigo há décadas. Seu nome foi citado repetidas vezes por delatores no âmbito da operação Lava Jato.
Ele é casado com Ana Clara Vasconcelos, mãe da mulher do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Patrícia Vasconcelos.
Moreira Franco está na política desde o início dos anos 1970. Foi governador do Rio, prefeito de Niterói e deputado federal por três mandatos. Participou dos governos de Temer, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Dilma Rousseff e Lula (PT).
Ganhou do ex-governador do Rio Leonel Brizola (PDT) o apelido de "gato angorá", por causa da cabeleira grisalha e porque compartilhava, dizia Brizola, a característica do felino de "passar de colo em colo". Também era esse seu codinome nas planilhas de propina da Odebrecht.
O político é diretor-presidente da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos ligado ao MDB, cargo que ocupa pela segunda vez. Em nota, o MDB lamentou as prisões e o que chamou de "postura açodada da Justiça" em relação a Temer e Moreira Franco.
"O MDB espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa", conclui o texto.
Participação em governos do PMDB, PSDB e PT
Moreira Franco exerceu papéis importantes em todos os governos das últimas décadas. Foi Ministro de Minas e Energia, da Secretaria-Geral da Presidência da República e Secretário Executivo do Programa de Parceria de Investimentos na era Temer.
Sua nomeação para a Secretaria-Geral da Presidência quase foi vetada pela Justiça, pois havia a suspeita de que o objetivo do ato seria garantir foro privilegiado. Moreira Franco foi citado 34 vezes por Claudio Melo Filho, primeiro delator da Odebrecht a ter suas declarações à Lava Jato reveladas.
Em 2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, incluiu Moreira Franco em denúncia feita contra Temer sob as acusações de obstrução de Justiça e participação em organização criminosa.
A suposta organização criminosa denunciada por Janot contaria com mais cinco integrantes, todos emedebistas: o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, os ex-ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), e o ex-assessor de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
Na presidência da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco virou o coordenador da elaboração das políticas que deveriam ser adotadas no governo Temer.
Foi um dos principais criadores do documento "Ponte para o Futuro", lançado ainda em 2015, que resumia as propostas do partido para a economia brasileira, e do "Travessia", que trazia sugestões para área social.
No governo Dilma, foi ministro duas vezes: da Secretaria de Aviação Civil e da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Ficou sem cargo no segundo mandato da petista e acabou virando um dos principais articuladores do impeachment da ex-presidente.
Temer o citou em sua polêmica carta com reclamações a Dilma: "A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me", queixou-se o então vice-presidente.
Na época de Lula, Moreira foi vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, responsável, entre outras funções, por gerir os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Moreira era visto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como um bom articulador político, segundo o arquivo CPDOC, da FGV, motivo pelo qual ocupou, em seu governo, o cargo de assessor especial da Presidência da República.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, citada no CPDOC, Moreira descreveu assim seu trabalho: "Converso, cuido de projetos, discordo, polemizo, articulo e às vezes sou bombeiro".
Começo da carreira, governo do Rio e vida pessoal
De acordo com informações do CPDOC, Moreira Franco começou sua carreira política em 1974, quando se elegeu deputado federal pelo Rio de Janeiro pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB, embrião do PMDB). Na época, o partido fazia oposição ao regime militar, instituído naquele ano. Foi eleito prefeito de Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, em 1976.
Em 1980 migrou para Partido Democrático Social (PDS), de apoio ao governo militar. Na época, disse ao Jornal do Brasil que esperava que o novo partido "encaminhasse a transição pacífica do autoritarismo para a legalidade democrática, incorporando tudo o que havia de novo na sociedade brasileira".
Se candidatou ao governo do Rio em 1982, mas perdeu para Leonel Brizola. Passou a dirigir a Frente Liberal e trabalhou pela eleição do ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves à presidência, pelo colégio eleitoral.
Após a morte de Tancredo, assumiu seu vice, José Sarney (PMDB), e Moreira Franco entrou para o PMDB de Niterói. Em 15 de novembro de 1986, foi eleito governador pelo Rio de Janeiro, se beneficiando do Plano Cruzado, assim como outros governadores eleitos pelo PMDB. Nesse período, consolidou sua liderança sobre o partido.
Seu governo foi marcado por frustração da população em relação à segurança pública. Moreira assumiu com a promessa de acabar com a violência em seis meses. No entanto, os indicadores de criminalidade subiram consideravelmente na sua gestão.
Logo no primeiro ano do governo, o estudante Marcellus Gordilho, de 24 anos, foi espancado e morto por policiais militares em um caso que chocou o Rio e ganhou as manchetes da imprensa à época.
Moreira Franco Nasceu em Teresina, no Piauí, em 1944. Se formou em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, atual UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Nessa época, participou do movimento estudantil. Foi membro da Ação Popular, organização cristã de esquerda que se opôs ao golpe de 1964 e tinha orientação maoísta. Nos anos seguintes, trabalhou na área acadêmica, como pesquisador.
Em 1969 casou-se com Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta de Getúlio Vargas, com quem teve três filhos. Anos depois, o casal se separou e Moreira casou-se com Ana Clara Vasconcelos Torres, também filha de um político, o fluminense João Batista Vasconcelos Torres, que havia sido deputado federal. Sua segunda mulher é mãe da esposa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
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